Outro dia eu estava atendendo um casal cuja queixa era “Ele não me entende” – “Ela só me critica”.
Desde o início o esposo dizia que também não se sentia compreendido por sua esposa.
Ela, por sua vez, sinalizou que seu parceiro era rude e há muito tempo não se sentia encantada ou surpreendida por ele. Para espanto da esposa, o marido respondeu que se sentia da mesma forma e que o que os unia era um fio de nylon.
O esposo arregalou os olhos e mais do que depressa mandou algumas frases certeiras em direção a sua esposa: “Não sei mais o que fazer para lhe agradar”; “Faço tudo e você está sempre insatisfeita”; “Sou um dos poucos homens que entrega o cartão de crédito e não cobra onde e como gastou”; “Que tipo de surpresa você quer que eu faça para você?”.
Após este aquecimento, a esposa respirou fundo, olhou bem nos olhos de seu parceiro e disse que esperava que a terapia pudesse dar algum jeito, mas que pelo visto ele não teria “cura”. Ressaltou ainda que esperava coisas simples de seu marido. Atitudes respeitosas e que ao mesmo tempo não contivesse reações veladas de desaprovação. Queria algo do tipo “gentileza gera gentileza”.
Permaneci olhando o casal. Para meu espanto o marido disse que essa era a primeira conversa franca que eles tinham em mais de 3 anos. Primeira vez que eles falavam de si e não de filhos, coisas da casa e do trabalho.
Ambos cruzavam e descruzavam as pernas. Respiravam fundo e pouco se olhavam, até que não contendo mais o silêncio a esposa levantou-se para arrumar a vestimenta e disse que não tolerava mais as críticas, o ar professoral com que ele conduzia os problemas da casa e a falta de paciência.
Finalizamos a sessão com a proposta de realizar uma lista. Cada um colocaria em sua lista aquilo que mais incomodava em relação ao parceiro. O objetivo era tentar descontaminar a comunicação e transformá-la em um diálogo recíproco e favorável.
Pois bem, na semana seguinte cada um trouxe a sua lista, quase que elaborada em segredo. Ninguém falou sobre ela durante a vida em família. Não vou divulgar como procedeu a sessão, mas achei que seria interessante dividir, com meu leitor, o conteúdo geral da lista. Poderia ser uma pausa e reflexão sobre a conjugalidade.
Critica em demasia destrói e pouco constrói: o casal que pauta a relação em cobranças desmedidas corre o risco de criar pouca intimidade relacional e um grande desnível afetivo. Evite criticar seu companheiro em público. Essa atitude é desrespeitosa e gera muito ressentimento.
Cuidado, quando escolhemos o parceiro levamos a família junto: zombar, desmerecer ou agir de maneira desonrosa com a família, amigos ou colegas do parceiro é um erro gritante. Prefira sempre o diálogo – aponte aquilo que lhe incomoda sem ser destrutivo, irônico ou desdenhar o que é ou vem do outro.
Espaço é bom e apreciado por todos: de um modo geral os parceiros precisam de um tempo para respirar, colocar o pensamento em ordem ou simplesmente esvaziar a mente de um dia cheio e desgastante. Alguns companheiros precisam desse espaço com mais constância, outros com menos. Todavia, o espaço requisitado não significa rejeição ou exclusão do outro – significa tão somente um tempo.
A razão é minha: não adianta estender uma corda e transformá-la em um cabo de guerra. Nesse jogo ninguém sairá vitorioso. Ser dono da razão não significa não poder voltar atrás, não poder pedir desculpas, não escutar as ideias do outro ou muito menos dar lição de moral.
Por fim, o último item da lista foi o que mais gerou “pano para a manga” – pedir desculpas. O casal afirmou que ambos tinham muita dificuldade em se retratarem e que pedir desculpas era uma palavra dura de ser pronunciada. Peça desculpas se você, de fato, estiver enganado quanto a algo ou se cometeu um deslize. Aprenda que é fundamental saber retratar as falhas, enganos e erros sem exigir que o outro o desculpe na hora. Quando você pede desculpas não está se humilhando e nem o outro virou um gigante em virtudes. Pedir desculpas é deixar claro que você errou e sente muito por isso.