Existem inúmeros manuais de como fazer as crianças dormir nas prateleiras das livrarias.
Uns muito bons e outros não tão bons assim. Porém, o que mais chama a atenção é como alguns manuais, precocemente, querem separar os bebês de suas mães. Quando digo precocemente é logo após o nascimento.
Não conheço nenhum mamífero que após sete dias, dez dias ou mais a mãe mamífera pegue seu bebê e o coloque num espaçinho ao lado para evitar que ele se vicie de sua presença constante. Toda a cria fica ao lado da mãe até atingir certa maturidade e poder ir desbravar o ambiente que o cerca.
Não sei como isso começou, mas existe uma forte tendência em nossa sociedade ocidental em afastar de maneira precoce os bebês da proximidade de suas mães.
Que elas não devem permanecer muito tempo no colo de suas mães e muito menos serem embaladas e acalentadas com o argumento de que vão ficar viciadas e não conseguirão no futuro se desprender de suas mães.
Outros argumentos para este tipo de comportamento é o de que se a criança ficar no colo de sua mãe, esta por sua vez, não terá tempo e agilidade para cumprir seus afazeres domésticos.
Quando paramos para observar os mamíferos, seus bebês permanecem conectados a suas mães enquanto estiverem no período de amamentação e lentamente vão se desgrudando e explorando o espaço a sua volta.
A mãe quando está no período de dar a luz e logo após ele, regride a fases muito sutis de sua vida e submerge em sensações e sentimentos primitivos onde seu desejo maior é estar conectada, e neste caso, conectada ao seu bebê.
Grande parte dos bebês ocidentais não são mantidos nos braços de sua mãe durante um tempo suficiente. A educação atual dita que deve-se dar de mamar, trocar e colocar a criança para dormir em seu quarto ou espaço!
Não advogo contra isso. Contudo, os bebês precisam de calor, abrigo, contato corporal, conexão amorosa, atenção, embalo e acalanto e muito mais disposição emocional.
As mães tentando acertar e corresponder aos anseios dos pediatras e dos familiares, tidos como maios experientes, excluem seus bebês de uma união mais rica e sustentada e acabam por escapar precocemente para o mundo racional e prático dos cuidados do cotidiano e esquecem de uma particularidade essencial da mulher-mãe, a intuição.
A maior preocupação surge da pergunta: o bebê não tem que aprender a dormir sozinho?
Pois bem, para isso o pediatra e psicanalista infantil DW Winnicott costumava afirmar “a criança só aprende a ficar só na presença de um adulto”. Portanto, antes de aprender a dormir sozinho o bebê precisa estabelecer uma base de confiança e isso só poderá ser atingido na presença de uma mãe devotada, carinhosa, amável e disponível para esses primeiros treinos de vida.
Os bebês suficientemente acolhidos evoluem em relação às suas necessidades básicas uma vez que tenham superado e adquirido a maturidade necessária para transpor novas fases ou etapas de sua vida. Afinal ninguém pede aquilo que não precisa, do contrário, soa falso, artificial e pouco responsivo por aquele que acolhe.
Quando não se oferece o que o bebê precisa na época certa, ele cresce e pode tornar-se um adulto carente, que exige atenção constante, nada o completa e o mundo parece em débito o tempo todo com ele. É como se o que não foi atendido e ofertado quando criançinha ficasse pendente até a atualidade.
De início a sutileza mãe-bebê deve falar mais alto. Se a mãe intui que seu filho deve permanecer com ela numa cama compartilhada e segura, a sociedade deve apoiá-la.
Se ela sente que o bebê deve permanecer no “Moises” ou no carrinho bem ao seu lado para prontamente ser atendido, que seu sentimento seja valorizado e encorajado.
O bebê que solicita a presença da mãe não deve ser visto como viciado em colo e sim como um bebê com energia e desperto para aquilo que o alimenta e o completa como ser vivo – o aconchego, o carinho e a quentura dos braços amorosos de sua mãe.