Esta semana eu atendi um menino de 9 anos que me perguntou se existia a Lei Maria da Penha para crianças. Ele comentou que principalmente seu pai, costumava gritar com ele toda vez que ele fazia algo inadequado, e, quando isso acontecia ele tinha a sensação de que suas orelhas estavam encolhendo. Seu desejo era de ser surdo!
Nunca comentou que apanhava, mas os gritos doíam tanto quanto uma surra!
Comentou ainda que os adultos não podiam se bater ou perder o respeito por que havia lei para punir isso. Assim sendo, ele queria denunciar o pai para a polícia baseada na lei Maria da Penha. A que ponto chega a vulnerabilidade de uma criança que, na verdade, precisa ser cuidada e amparada pelos seus pais.
Bom, vamos sair do meu caso e ir para o assunto em questão: bater ou gritar com as crianças.
Qual é o nosso comportamento quando as crianças nos tiram do sério e estamos cansados, frustrados ou num momento de muita ira e raiva?
Muitos pais relatam, que em situações como as citadas possuem a tendência em gritar e apelar para o destempero físico, além de punirem de maneira desmedida as crianças. Eu nunca li em nenhum estudo científico, que estas atitudes promovam a educação dos pequenos, ou, que eles se tornariam verdadeiros lordes, pelo contrário, ações desmedidas incitam o medo, a vergonha e o multiplicar da raiva sobre as outras pessoas.
Alguns pais referem que gritam ou batem em seus filhos de forma branda, sem grandes consequências para a saúde emocional das crianças. Esses pais possuem um termômetro com escala analógica para quantificar o quanto estão sendo “brandos” em seu castigo?
Tenho observado que o castigo físico e o abuso psicológico dos pais sobre seus filhos acabam empurrando o mau comportamento para debaixo do tapete e para o mercado negro. As crianças acabam cometendo seus erros por trás dos pais para não serem pegas no flagrante. Os filhos fingem que não cometerão mais o comportamento indesejado e os pais fingem que acreditam na lisura de seus filhos.
Em vez das crianças seguirem as regras propostas pelos pais por elas serem boas e justas para serem seguidas, as crianças acatam os pais por medo do castigo. Conclusão, não há tempo para reflexão sobre algo errado que tenha acontecido e sim o receio ou o medo do castigo.
Quem somos nós para cobrarmos de nossos filhos para que ele não bata no irmão ou no coleguinha se somos os primeiros a levantar a mão para eles? É preciso lembrar que os pequenos enxergam o mundo ainda de maneira concreta. Portanto, quando veem que os adultos podem bater nas crianças, eles tomam por regra que eles também podem bater em seu semelhante ou em outro adulto. É a famosa frase: violência gera violência, que gera raiva, que gera sentimentos de revanchismo, que aborta a comunicação saudável entre as pessoas, principalmente entre os pais e seus filhos.
As crianças quando expostas a violência em seus lares entendem que o adulto é poderoso, forte e que pode punir de maneira desmedida os mais fracos. A criança se sente enfraquecida, amedrontada, ansiosa e com um desejo interno muito grande de usar esse “poder” quando estiverem zangadas ou forem contrariadas.
Ainda não encontrei nenhum artigo que mostrasse o efeito positivo da surra ou de castigos físicos sobre a criança.