Outro dia comentei, em uma matéria para uma determinada revista infantil, sobre a fase dos dois anos da criança. O quanto ela já está “sabida”. O repertório da linguagem está maior e o fato de andar e se movimentar livremente no ambiente a deixa “senhor (a) de si.”
Junto com o amadurecimento neuromotor, por volta dos dois ou três anos, a criança busca sua autonomia não só pela fala e movimento, mas também por meio do controle do xixi e do coco. Para muitos pais e crianças, controlar os esfíncteres (músculo que ajuda a controlar a urina e as fezes) representa a aquisição de mais uma etapa cumprida. Significa o abandono das fraldas, a ida para a escolinha, maior liberdade de movimento para as crianças e menor custo para os pais.
Em nossa cultura, o controle do xixi e do coco tem um significado precioso. As crianças identificam seus orifícios como algo mágico. Poder controlar os excreções, na visão dos pequenos, é ter a chave do próprio corpo. Enquanto usavam fraldas, os pequeninos não tinham controle do que saiam de seu corpo. Com o avanço do controle dos esfíncteres, a criança começa a perceber que ela produz seu xixi e seu coco.
Os pequenos descobrem que podem ter controle sobre a expulsão da urina e das fezes e que eles podem representar “presentinhos ou ‘reprimendas” para seus pais. Dependendo de como a mãe trata o xixi ou coco da criança, ela pode simbolizar seus produtos como algo bom ou ruim.
Assim, continua valendo a regra do respeito pelo desenvolvimento particular de cada criança: vá com calma! Cada criança tem seu processo de maturação. Na dúvida, não transforme os hábitos de higiene em um campo de batalha, questione junto ao pediatra de seu filho se ele está se desenvolvendo adequadamente para a idade apresentada.
As crianças são verdadeiras torres de recepção da ansiedade das mães. Se os pequenos captam o quanto a mãe se importa com os hábitos de higiene, elas reagem com ansiedade também. Quanto mais calma a mãe demonstra, maior a chance de êxito por parte da criança.
Lembre-se, vivemos em sociedade e as crianças tendem a copiar o que os mais velhos fazem. Ver o papai e a mamãe usando o vaso sanitário, desperta a curiosidade e instiga o desejo de fazer igual. As crianças querem instintivamente crescer e buscar sua autonomia. Assim, cedo ou um pouquinho mais tarde, elas anseiam por se livrarem das fraldas e receberem reforços positivos de seus pais.
Pais muito exigentes com a higiene, e aqui me refiro ao controle dos esfíncteres, podem influenciar diretamente na imagem que ela vai construindo de si própria, sou uma criança boa ou má. O excesso de controle pode influenciar na construção da segurança e da autoestima da criança e até mesmo em como a criança vai lidar com suas excreções no futuro.
Você nunca ouviu uma mãe comentar que seu filho não pode passar por momentos mais angustiantes que seu intestino prende? Outras mães comentam que o intestino solta!
Outros cuidadores relatam que quando a criança fica muito excitada ou com medo ela solta, sem perceber, o xixi na roupa.
A forma como as crianças aprendem a lidar com suas excreções também influenciará em sua forma de ser no futuro, ou seja, mais generosas ou mais retentivas.
Em resumo, controlar o xixi e o coco, para a criança, é uma conquista, um marco em seu desenvolvimento infantil. Muito embora, o ambiente que a cerca influencie de maneira marcante sua aquisição.