A autoestima, tão essencial em nossa vida, começa a se formar na infância, a partir de como as outras pessoas nos tratam.
Para nos sentirmos amados, precisamos ser reconhecidos e valorizados por nossos pais.
É assim que a “coisa” começa. Toda criança precisa ser amada incondicionalmente, ao menos nos primeiros anos. Sem os pais como espelho de uma atitude de aceitação, a criança não tem como saber quem ela é.
São por meio das boas experiências repetidas e por outras, em menor quantidade, que as crianças vão tecendo o sentimento de bem querer, e, de querer e respeitar ao próximo. Só para lembrar: autoestima é ter consciência de seu valor pessoal, ou seja, acreditar, respeitar e confiar em si – é a soma da autoconfiança com o auto respeito. É acreditar que é capaz!
Não estou dizendo, que para ter autoconfiança seja necessário viver na “ilha da fantasia”, mas pelo menos não ter sofrido abusos (físico, psicológico e outros), pois essas variáveis podem dificultar a auto valorização e a saúde mental.
Pais extremamente exigentes, autoritários, críticos, e, pouco dignos em expressar confiança nas crianças, propiciam o desenvolvimento da insegurança e da baixa autoestima em seus filhos. A consequência é a formação de filhos dependentes, inseguros e com diminuta confiança no mundo e nas pessoas.
Por outro lado, a superproteção também é uma maneira de abuso infantil. Não estou enganada – é abuso sim!
A criança superprotegida, mimada, que submete os pais aos seus mandos e desmandos, torna-se uma criança, adolescente e um adulto inseguro, pouco tolerante, e, com a ilusão de ser auto suficiente e “dono do mundo” – as pessoas estão aos seus pés para servi-lo. A criança cresce com a ideia, que tudo pode, tudo mesmo. Pode até ser intolerante, que tudo bem. Papai ou mamãe, e quem sabe, que outra pessoa no futuro, corrigirá o mundo para que ele continue desafiando quem ousar passá-lo em seu caminho.
Na realidade são crianças ou jovens inseguros, não confiam em suas habilidades, pois, tem sempre um adulto para fazer por elas. Como não reconhecem seu próprio valor, apresentam dificuldades em reconhecer o valor do outro. A autoimagem no espelho é nublada e distorcida.
Outro dia, estava lendo um artigo de uma escritora ativista pelo direito das crianças – Alice Miller. Ela comenta sobre conceitos importantes – formas de educar, e, de ver o mundo na ótica infantojuvenil:
– Pedagogia negra: consta de uma educação que visa transformar a criança em submissa e obediente por meio do poder, manipulação e repressão, ainda que velado. Crianças que foram “adestradas” a obedecer aos desejos e ordens dos adultos passam a infância e adolescência contendo e disfarçando a raiva, e, depois a usam automaticamente. Já ouviram falar em Bullyng?
– Testemunha auxiliadora: é uma pessoa que ajuda a criança maltratada ou negligenciada, ainda que de forma esporádica, oferecendo um pouco de apoio e amor. Pode ser uma vizinha, um professor, avó, tia. Graças a essa testemunha, a criança começa a descobrir que existe amor. Você teve alguma?
– Testemunha conhecedora: na vida do adulto, essa pessoa pode representar um papel semelhante ao da testemunha auxiliadora na criança. É uma pessoa, que conhece as consequências da negligência, e, maus-tratos sofridos pelas crianças, e, a ajuda enfrentá-los e elaborá-los. Sem a testemunha conhecedora é impossível suportar a verdade da infância. A terapia pode proporcionar o reconhecimento emocional da verdade armazenada no corpo, a libertação da lei do silêncio e da idealização dos pais.
Quando crianças, aprendemos a reprimir e negar os sentimentos. Muitos aprenderam que as humilhações e as surras foram para o próprio bem, e, não provocaram dores, com isso, aprende-se também a utilizar no futuro a violência contra os outros, ou, contra si mesmo.