A depressão infantil (DI) não é um assunto de moda, é uma desordem contemporânea, que causa sofrimento e dor na vida infantil, faz parte do cardápio de doenças, que pode acometer os pequenos e os adolescentes. Até algum tempo a trás, era pouco diagnosticada, e, assim ela era empurrada da infância até a idade adulta, provocando grande sofrimento e sequelas.
A criança retraída, tímida em excesso ou “danada”, com comichão nas ventas, passaria longe de um diagnóstico de depressão infantil. Por falta de diagnóstico adequado, receberia rótulos que, infelizmente, poderia marcá-la para o resto da vida. Os rótulos além de não contribuir para a estabilidade emocional da criança, agravariam e camuflariam algo que não estaria indo nada bem.
Tanto isso é verdade, que na década de 60 havia um desenho animado (Lippy the Lion & Hardy Har Har, 1962 – Hanna-Barbera) que apontava para uma dupla de bichos com alguma desordem afetiva. O primeiro era uma hiena chamada de Hardy, que vivia se queixando da vida. Não tinha ânimo para nada, só via o lado negativo das coisas, o pessimismo era o sentimento predominante. Hardy seria considerado, nos dias atuais, um depressivo, e, o Lippy (o leão) um co-dependente, que tentava o tempo inteiro salvar o amigo da tristeza. Bem, ele não vem ao caso, pelo menos nesse artigo.
Pois bem, as características do Hardy podem aparecer nas crianças também. Elas demonstram muita tristeza, falta de interesse para as atividades de vida diária, o prazer em brincar é empobrecido, ausência de disposição para buscar novas atividades ou estudar, e, se tudo isso não bastasse, ainda se sentem com baixa autoestima e pobre auto-referência.
Algumas crianças apresentam alteração do apetite (para mais ou para menos), mudança no ritmo de sono e repouso, hiperatividade, irritabilidade e agressividade. Além dos sintomas emocionais, os pequenos também podem somatizar, referindo dor de cabeça, dor de estômago, dor abdominal, alteração do ritmo intestinal, alergia de pele, coceira pelo corpo, enurese, etc. Os sintomas físicos podem ser uma tentativa, que a criança lança mão, para chamar a atenção de seus pais para seu sofrimento emocional.
A DI não é uma raridade e pode ocorrer em cerca de 1% das crianças na fase da pré-escola; em 2% na idade escolar e quase 3% na adolescência.
Tenho observado em relato de pais, que anteriormente seu filho era amigável, calmo e de uma hora para outra, seu comportamento virou do avesso, está respondão, prepotente e intolerável, tanto em casa como na escola. Os amigos o evitam!
Os pais costumam comentar, que fazem de tudo para seus filhos e por isso não entendem o porquê da desordem emocional ter “caído de para quedas” em suas famílias, que se sentem impotentes e decepcionados. Alguns pesquisadores encaram a DI como uma doença biológica que incide em membros anteriores da família, que é decorrente de alterações neuroquímicas, e, que também aparece como sintoma de desorganização do sistema familiar. Embora, a DI seja rica em sintomas, ela é difícil de ser diagnosticada dada a sua complexidade.
Será que o tratamento da depressão infantil é igual a do adulto?
Após rigorosa avaliação e diagnóstico com psiquiatra infantil, o profissional pode recomendar o uso de medicamentos, que na atualidade, são muito seguros e não causam nenhuma forma de dependência. Junto com o tratamento medicamentoso o acompanhamento psicológico é instituído. Pode ser na forma de terapia familiar e individual.
O mais importante de tudo é não ter medo ou preconceito de procurar ajuda especializada. Quanto antes a DI for diagnosticada, menos sofrimento a criança e a família terão de enfrentar. A DI tem tratamento, que é seguro e multifacetado, e, a partir do momento que a criança ou o adolescente são vistos e o retorno de seu valor é restituído, a criança e o adolescente passam a desfrutar de uma vida normal, sem prejuízo cognitivo e mental!