O bebê humano é o mamífero mais dependente do reino animal. Precisa de um cuidador disponível para assegurar seu crescimento e desenvolvimento global. Isso só acontece devido à alta especificidade do corpo humano.
Para assegurar seu desenvolvimento, o bebezinho precisa contar com relações interpessoais favoráveis, e, por favoráveis quero dizer, amorosas, acolhedoras e cuidadosas. Quando isso não acontece de maneira positiva, o bebê não percebe, e, não sente suas necessidades básicas acolhidas. Sem percepção de sentimento de conforto e amor, o bebê tende a aumentar suas angústias e ansiedades, alterando seu arcabouço cerebral.
Como o bebê demonstra que não se sente confortado e acolhido?
Claro que ele não fala, ou, muito menos se dispõe a discutir a relação!
A tendência do bebê é de demonstrar irritação, chorar com muita frequência, e, até mesmo por longos períodos. As mamadas são vorazes, e, os engasgos comuns, querem mamar a todo instante, levando a recém-mamãe ao cansaço extenue.
O sono não é tranquilo e nem reparador. Mal iniciou o repouso já está acordando inquietamente. O colo e o embalo tem pouco efeito como apaziguador. Por vezes, o cuidador o embala por horas a fio, e, quando tenta colocá-lo no bercinho, prontamente ele acorda, e, inicia uma nova crise de choro.
Sentem o meio a sua volta como ameaçador, e, passível de muita desconfiança. Não toleram ficar só e muito menos sofrer alguma forma de frustração. Um estimulo, pouco diferente do habitual, pode deixar o pequeno irritado e superestimulado. Como resultado dessa relação conturbada, mãe e bebê se sentem perdidos. Cada um a sua maneira!
A mãe, por sua vez, se sente frustrada por não conseguir satisfazer as necessidades de seu pequeno, aumentando desmedidamente suas ansiedades e angustias. Por vezes, a mãe não se sente apoiada, compreendida e cuidada. Ambos acabam se atolando em um enorme vazio. Não é raro, observar nessas situações a ausência ou a incompreensão do pai.
O que estou narrando até o momento não é exclusividade de bebês “maduros”, isso também pode ocorrer com bebezinhos prematuros, que passam um bom período em unidades neonatológicas, sem construir um apego saudável com seu cuidador imediato.
Outras situações, além das já mencionadas no pós-parto, podem predispor ao vinculo desadaptado. Mulheres que viveram suas gestações desamparadas, que se sentiram angustiadas ou mesmo com depressão, que perderam entes queridos, que sofreram dificuldades conjugais, agressões, violência doméstica ou profissional também podem ter dificuldade em estabelecer uma conexão positiva com seus bebês.
São mães que não conseguem reconhecer as necessidades emocionais de seus bebês, por que de uma maneira ou de outra, estão vivendo um momento intenso de solidão interna, não reconhecendo suas próprias necessidades e emoções.
Por vezes, observamos mães que se circundam de todo suporte técnico para cuidar de seu bebê (familiares, pajem, babá eletrônica com câmera, dispositivos multimídia, entre outros), mas no fundo apresentam grande dificuldade em interagir com seus bebês. São fortes candidatas a não conseguirem estabelecer um apego de início e uma boa relação vincular e de intimidade com seu bebê.
Não estou querendo induzir o leitor, que, para que o bebê se vincule positivamente a sua mãe / cuidador a relação tem que iniciar dentro de um ambiente perfeito! Claro que não!
O ambiente tem que ser somente suficientemente bom!
Quando esse ambiente, que deveria ser suficientemente bom, falha em demasia, algumas desordens pode advir sobre a criança numa fase mais tardia, tais como dificuldade de atenção, hiperatividade, depressão, dificuldade de sociabilidade, ansiedade, riscos para psicopatias graves, entre outras.
Por isso, uma base fortalecida na construção dos sentimentos e das emoções da futura mamãe e da mamãe no pós-parto, pode assegurar a saúde mental do binômio mãe-bebê.