As famílias quando procuram a terapia familiar o fazem por vários motivos. Cada família tem suas propriedades, características e especificidades.
O que serve para uma família, necessariamente não se aplica a outra família.
O que temos observado em terapia familiar é que as circunstâncias são muito pessoais e as crises e conflitos podem acompanhar as características das famílias, causando diferentes graus de sofrimento.
A terapia familiar tem como objetivo descobrir com cada casal ou com seus membros o que eles sentem e o que desejam. Compreender o porquê de determinado comportamento e até mesmo a função de doenças psicossomáticas naquele núcleo familiar. Não é raro observamos crianças que vivem doentes como forma de usar um sintoma para chamar a atenção de seus membros, ou até mesmo, enfermidades recorrentes de um dos cônjuges.
As coisas ficam mais claras quando olhamos para a família como um pequeno sistema ou um pequeno cosmo, com suas próprias regras e julgamentos. Quando o terapeuta entende o sistema, decifra seus enigmas e os torna transparente, o “jogo” pode ser mudado e novas formas de agir são elaboradas. Os comportamentos inadequados podem ser transformados, as doenças deixam de ser tão recorrente e cada membro da família passa a desfrutar de seu lugar dentro do seio familiar sem pressão, engessamento e até mesmo sofrimento.
Uma das queixas mais comuns que encontro quando recebo uma família é que as crianças estão terríveis – desmedidas e pouco solidárias. É nesse momento que procuro mostrar ao casal o quanto os filhos podem estar espelhando os conflitos familiares ou do próprio casal.
Existem pais que são muito constritores, exigem em demasia de seus filhos e a malha elástica afetiva costuma estar apertada em demasia. São tiranos na pele de pais, mas a vista dos outros podem parecer zelosos e muito cuidadosos com as crianças. Cobram demais dos filhos, ameaçam as crianças caso elas “deslizem” em alguma regra estipulada pelos responsáveis. São pais que em nome da “boa educação” ceifam a expontâneidade das crianças, a autoestima, a autoconfiança e desamparam emocionalmente seus filhos. A educação é pautada na submissão de seus membros.
Por outro lado, existem pais com uma dose elevada de flexibilidade e elasticidade. Parece que tudo é tolerável e os limites são vistos como “trauma” para a aquisição de uma vida plena. Fingem que não vêm as falhas dos filhos, quebram regras que eles mesmos impõem e acreditam que o Ter compensa qualquer falha do Ser.
Ambos os exemplos de pais oferecem bases muito insipientes para o desenvolvimento saudável de uma criança e de uma família estruturada. Em nenhum dos exemplos a estrutura e a fundação familiar são sólidas. Qualquer abalo císmico pode derrubar as paredes e fragilizar emocionalmente seus membros, principalmente as crianças.
Como conscientizar esses pais que tanto o oito como o oitenta não são favoráveis para a manutenção de uma família que preza por seus membros pensantes? Infelizmente a resposta não pode ser restrita ou simplista, pois cada família, como dito anteriormente, tem suas características e seu “modus operanti” .
São famílias que podem exigir uma desconstrução de paradigmas para depois ajudá-los a reconstruir de uma nova maneira mais adaptada de ver e estar no mundo que as cerca.