Tem coisa pior do que falar para um pequeno ser humano em desenvolvimento que ele só vai virar gente quando ele crescer?
Acho que na cabecinha deles é como se eles se questionassem: “ Só vou ser gente quando crescer.” “O que sou, então, até agora?” “Se não sou gente como papai e mamãe sou o que?” “Sou extra terrestre?, sou bicho tipo os de lá de casa?” ; “Devo ser algo estranho!”
Não tenho dúvida que exercer o papel de pai e de mãe é uma das tarefas mais árduas e especiais que alguém pode ter. Nos causa paradas para reflexão, momentos de muita critica e incertezas e mesmo assim ainda continuamos em frente.
Criar e educar é um trabalho constante e duradouro e os frutos desse trabalho só vamos colher no futuro. Portanto, nos resta acreditar em nosso investimento e nos assegurarmos que os juros e correções virão na maior taxa do mercado – isso por que temos a ciência de que fizemos o melhor de nós.
O investimento que fizemos só vamos resgatá-lo com propriedade por volta de 25 anos de nosso filho, tempo, que se tudo correu bem e o solo foi fértil, teremos a nossa frente um adulto maduro, autônomo e capaz de pensar e seguir sua própria cabeça. É claro que ainda podemos, com parcimônia, ainda dar uns “pitacos” amorosos.
Para quem ficou surpreso com minha colocação – “25 ANOS” – não se espante! A neurociência mostra que o jovem só se torna maduro nessa idade!
Tenho trabalhado muito com pais, em consulta e orientação de pais, as habilidades e competências emocionais e sociais. As crianças pequenas até cerca de 11, 12 ou 13 anos requerem muita atenção e cuidado por parte do adulto/cuidador.
Mas por que será que elas requerem tanto investimento?
Se pensarmos em termos de uma construção, as bases devem ter sido sólidas e com grau de flexibilidade, pois, nem sempre a previsão do tempo é favorável. É na primeira infância que os alicerces da construção são elaborados e erguidos. Tudo tem que ter sido feito com material de primeira: amamentação, nutrição, higiene, carinho – amor – proteção, estimulação, educação, regras, limites claros e etc.
Como podemos pensar num andar superior de uma construção se a base e a fundação forem frágeis?
Para que as crianças possam de tempos em tempos erguerem novos andares superiores, os mesmos devem ter sido abastecidos com habilidades e potencialidades no decorrer do tempo.
As vezes, questionamos nossos filhos pequenos se eles gostariam que o amigo fizesse com ele as mesmas coisas (inadequadas) que ele está fazendo. Por ainda não terem habilidade para subir um andar superior – ainda são imaturos para esse feito, a empatia parece distante. Se colocar no lugar do outro ainda está longe.
A empatia não é algo que nasce conosco, tipo o DNA. Ela é desenvolvida ao longo do tempo. Assim, pouco adianta perguntar a uma criança pequena se ela gostaria que fizessem o mesmo com ela. Esse tipo de aprendizado (com toda sua complexidade) se inicia com o adentrar da adolescência, por volta dos 10 anos.
Não estou querendo dizer que devamos ensinar compaixão e solidariedade `as crianças somente em fases mais distantes do desenvolvimento humano. Apenas que a empatia é algo muito especializado e complexo para uma criança pequena.
Educar exige tempo, perseverança e presença – os pequenos vão acertar e errar e nos devemos estar por perto para ajuda-los a fazer o correto. Ser um bom ser humano é o maior de todos os aprendizados.
