“Por Enquanto” é uma canção brasileira depressiva e trágica.
A música composta por Renato Russo e interpretada por Cássia Eller simboliza a matéria que resolvi escrever essa semana.
O verso que mais era exaltado foi o seguinte: “Se lembra quando a gente / Chegou um dia a acreditar / Que tudo era pra sempre / Sem saber / Que o pra sempre sempre acaba / …nem desistir nem tentar agora / tanto faz / estamos indo de volta pra casa”
Tem algo mais trágico no amor do que um “sempre” findável?
Qual casal, com interesse mútuo em ficar junto, não pensou que a união seria para sempre?
Como terapeuta de casal e família, torço para que os casais permanecerem juntos e na base do amor, respeito, cordialidade, reciprocidade e harmonia. Entretanto, há ocasiões onde devemos ser humildes e recuar. As tentativas não deram certo, não porque o terapeuta não tenha se empenhado, mas sim, porque, as munições relacionais findaram.
Em alguns casais o que antes era identificado como amorosidade, carinho, atenção e zelo, agora é visto e sentido, por ambos, como rancor, mágoa, tristeza, vazio e desejo de separação. Não há lugar para a reparação.
É o famoso “ACABOU”!
Numa situação como essa, o casal não quer mais ficar junto e a nossa grande maestria é procurar espaço para se estabelecer um rompimento respeitoso e com dignidade.
Por mais que isso possa parecer evidente e cristalino, certos parceiros ainda se perguntam onde foi que erraram. Onde foi que se perderam um do outro, ou, se realmente, um dia se encontraram. Formulam hipóteses para o fim da relação: onde, como e quando eu errei.
Talvez, um dos parceiros esteja procurando sua verdadeira identidade, ou, até mesmo, uma outra chance de ser feliz com um outro alguém. Não raro, a parceria foi estabelecida numa base afetiva pobre e sem muitos recursos para adubar um solo originalmente enfraquecido.
Por outro lado, ainda existem casamentos onde um dos cônjuges é pouco ou nada empático e deixa o parceiro na base do “menos valia” – no vácuo. Imagine só passar anos no vácuo!
O interessante desses “finalmentes” é que um número expressivo de casais, ao chegarem ao fim de seus relacionamentos, sentem que ainda precisam narrar o desfecho do fim.
Porque será que chegaram a isso? Talvez para ouvir a própria voz da razão e introjetar aquilo que os ouvidos escutam, mas que o coração não pode sentir.
Os casais que demonstram afeição pelos bons momentos vividos e encaram os ruins com leveza, possuem maior chance de driblarem seus momentos dramáticos e romperem o casamento com dignidade. Entretanto, o inverso pode ser verdadeiro.
De qualquer maneira, a morte de um amor é uma tragédia, afinal os parceiros se unem para desfrutar de uma vida amorosa. A relação quando não exala mais ternura, admiração e carinho tende ao pior desfecho. Ninguém consegue aquecer um casamento quando ambos estão numa geladeira abaixo de zero e esperam tornar o ambiente acolhedor com uma velinha de aniversário.