Estamos vivendo num mundo onde os valores de proximidade e contato, estão em profunda avaliação e contextualização.
Amar em tempo integral, bem pertinho ou abrir espaço para novas formas de proximidade e comunicação estão valendo a pena?
Será que se relacionar por meio do mundo virtual é diferente ou menos competente que no mundo real, no aqui agora?
O que será que as pessoas pensam sobre isso?
Outro dia conversando numa reunião de amigos, na faixa etária dos quarenta ou cinquenta anos, a maioria não conseguia se ver mantendo um relacionamento duradouro por Whats App, Skype, MSG, ou outra mídia. Referiram que precisavam do olho no olho, da pele com pele e da leitura facial para poder interpretar o que o outro sentia ou estava querendo dizer. Reforçaram que a face a face era fundamental para a construção de um relacionamento verdadeiro.
Por outro lado, tenho clientes jovens, na faixa dos vinte ou trinta anos que não veem nenhum problema em manterem um relacionamento afetivo por meio das mídias sociais. Enfatizaram que as mídias até faziam um diferencial no quesito “discutir menos” e que facilitavam o processo de “dizer” tudo que gostariam sem se intimidarem pela presença física do outro.
Quando as pessoas investem um tempo maior nas mídias sociais elas deixam de viver num mundo real e investem numa relação nem sempre verdadeira e concreta.
Uma coisa é certa, nenhum aparelho eletrônico pode substituir a presença humana – de carne e osso. As relações pautadas em aplicativos enredam pelos meandros das ilusões e na falsa ideia de que tudo está acontecendo em tempo real e em sentimentos sinceros. O interlocutor nem sempre diz o que pensa e o que sente. Apenas o que gostaria que estivesse acontecendo e os “emotions” tentam expressar os mais íntimos afetos.
Quanto mais solitário os parceiros ou um dos parceiros, maior será a probabilidade em entrar em relacionamentos solitários do mundo digital. Mas o que faz com que as pessoas se relacionem dessa maneira? Não sou nenhuma estudiosa do assunto, porém, tenho observado aspectos comuns nessas pessoas: dificuldade em viver a realidade (dura, crua), indisponibilidade física e emocional para desfrutar de um relacionamento real com nuâncias de sucesso e insucesso, deixar mostrar que possui defeitos e qualidades e medo de fazer um investimento sentimental e falhar.
Os afetos precisam de um mundo real para serem sentidos e vivenciados como verdadeiros e concretos, não importa se podem oscilar entre amor e raiva, alegria e tristeza, ciúme e acolhimento, entre outros. A união entre pessoas não pode ser camuflada por uma relação virtual – relações precisam de base sólida. O mundo adulto pede isso! Do contrário teremos um mundo eterno de maduros que vivem como adolescentes.
E ai? Fazer o que?
Não tenho nenhuma receita preparada ou dica, apenas reflito que a melhor maneira de termos relacionamentos saudáveis, seria busca-los no mundo real e contemplando os mesmos prazeres que o virtual oferece, porém, com a possibilidade de estarmos inteiros para o outro. Desnudados das fantasias e ilusões que o mundo digital proporciona. O outro me ama ou se interessa por mim por que sou verdadeiro e de carne e osso. Possuo um corpo, uma fala, pensamentos e sentimentos que quero compartilhar!
Pensar que a pessoa por trás de um dispositivo eletrônico pode estar digitando ou falando algo apenas para te convencer a comprar um produto afetivo que necessariamente não corresponde com a realidade. Quando isso acontece só uma decisão pode ser tomada: viver ou não no mundo do faz de conta.