Tudo que experienciamos, desde o início da vida, certamente, terá repercussão na nossa fase adulta. Nesse contexto, incluo as alegrias, as satisfações, os carinhos, as frustrações, os abandonos e os desamores.
Por algum tempo, podemos acreditar que jogar o indesejado para baixo do tapete pode ter alguma serventia. Todavia, com o tempo, as mazelas, os melindres, as mágoas e os rancores vão se acumulando e ai, não há tapete, ou, vassoura que dê conta. É muito lixo acumulado!
Aquilo que não digerimos ou não elaboramos (mágoas e recalques) correm o risco de permanecer no limbo a espera de um milagre, ou, de um bom momento para reciclagem, tornar bom ou aproveitável algo que antes só servia para ruminar.
Mas do que estou realmente falando?
Algo concreto ou algum sentimento mal resolvido?
O que acontece conosco, e, que interpretamos como inadequados ou sofríveis, é que temos a tendência deixá-los numa área nebulosa, do tipo “depois eu resolvo, depois penso nisso”. Algumas pessoas usam as áreas nebulosas como expressão de artes (pinturas, músicas, esculturas), outras transformam as mágoas e recalques em sentimentos e atitudes que as afastam da realidade, do contato verdadeiro com outras pessoas, ou, outra forma de evitar. Cada um com seu mecanismo de defesa!
Algumas pessoas deixam os sentimentos doloridos numa zona inatingível. Sem falar naquelas que só se recordam o que as fazem repetir o sofrimento, são indivíduos que se martirizam o tempo todo!
As pessoas que se paralisam frente às mágoas e aos recalques, dificilmente aprendem com os erros. Não se dão a oportunidade de fazer de novo, porém, de uma maneira mais assertiva. Repetem e repetem as situações como se estivessem constantemente vivendo numa forma de pudim. Sempre da mesma maneira e baseado na mesma receita.
Esses sujeitos costumam ter uma vida pouco criativa, são mais superficiais, alguns chegam à margem da arrogância e do orgulho, afinal para apreciar um coral é preciso submergir nas profundezas do oceano.
As pessoas melindradas, magoadas e recalcadas tem muita dificuldade em localizar sua caixa preta e abri-la. Apresentam medo ou receio de darem de cara com suas angústias, temores, desastres amorosos e frustrações.
Tratar o coração não é nada fácil. Talvez seja mais fácil tratar uma doença física, pois, ela é evidente, concreta e facilmente seus efeitos são demonstráveis e até mensuráveis em exames laboratoriais ou de radioimagem. O que dizer das mazelas do coração.
Recuperar um coração doente, agravado pelas ruminações, mágoas, recalques e melindres pode dar ao “sofredor” uma oportunidade de renovação de formas diferentes de ser, de sentir e de auto conhecimento.
É uma forma de adquirir uma beleza interior renovada e de agir sem autocompadecimento ou de orgulho pelo que se achou que deveria ter e não obteve.
É a despedida sincera da lamentação, do quanto deveria ter sido amado, pelo daqui para frente, eu posso fazer diferente.
Posso reconhecer meus valores sem inferiorizar o outro.