A maioria das pessoas acredita que um casamento é movido principalmente pelo sexo e secundariamente por outros interesses. Sexo seria a parte mais importante do casamento.
Quem sou eu para dizer que é ou que não é. O mais importante numa relação a dois são os arranjos de como cada casal vai se organizar para manter uma relação harmônica e pautada no respeito mútuo.
Um casamento ou uma relação estável pode ser assegurada por afinidades e projetos de vida em comum. Mais do que fazer sexo uma, duas, três ou mais vezes por semana, a afinidade que os parceiros encontram um no outro pode ser tão ou mais importante que a frequência dos encontros amorosos. Afinidades podem representar a busca pela construção do dia a dia e pelo futuro.
O apetite sexual pode variar ou mudar com o tempo. No início da relação ele é marcado pela volúpia, porém, passado o tempo da paixão, as relações amorosas vão sendo influenciadas pela rotina do cotidiano, pela dedicação aos filhos e pela divisão de tarefas domesticas e ocupacionais.
Se o casal identifica que existem coisas entre eles além do sexo, a relação pode até se fortalecer, pois, as afinidades e o desejo de construir algo em comum é mais forte. É como se o casal deixasse uma marca relacional – uma marca que pode durar por muito e muito tempo.
O sexo pode ser bom na relação, mas certamente ele será melhor se o casal identificar que além do prazer existe a vontade e a disposição de dividir vários interesses em comum.
Ter uma vida bacana extra cama pode depender das afinidades e dos projetos que cada casal vai delinear para suas vidas em comum.
Não é raro um casal desfrutar de uma vida protocolar, do tipo “não vamos entrar muito na intimidade do que cada um pensa”. A relação se mantém de forma superficial e monótona. Durante o jantar as conversas giram em torno das necessidades dos filhos, da administração domestica, ou, sobre a necessidade de reparos na casa da praia. Para alguns isso pode parecer um tédio, entretanto para muitos, acreditem, é a realidade de uma vida em comum.
Pobre, mas confortável e tolerável.
Descobrir a cumplicidade não é algo tão fácil. É preciso saber ver e ouvir as vontades e os desejos do outro, e, ao mesmo tempo se identificar com eles. É dessa maneira que aparece a cumplicidade e a vontade de usufruir dos interesses em comum.
Não estou afirmando que para um casamento dar certo o casal tenha que partilhar dos momentos a dois como num sistema fechado do tipo grude-chiclete. Conversar com pessoas que partilham os mesmos gostos e afinidades pode ampliar o campo relacional e agregar valores a relação. Nesse aspecto é possível citar as viagens em grupo, os passeios de bicicleta, os clubes de leitura, de dança, entre outros.
Quando os gostos, interesses e afinidades não estão em sintonia dentro da relação amorosa, a conexão entre os parceiros pode se perder. A parceria se torna solitária. Nenhum dos dois se esforça para fazer ou participar do que o outro gosta ou aprecia. A relação fica entediante, chata, e pouco motiva.
Frases do tipo “Não sei como você gosta disso”; “Eu não faria isso nunca”; “Nem me convide que eu não vou”; “Convide outro, eu fico em casa numa boa” acabam por distanciar os parceiros, e, aos poucos os enamorados de tempos atrás vão se tornando grandes desconhecidos.
Perder a conexão é a pior coisa que pode acontecer numa relação partilhada. Mais danoso do que espaçar os encontros amorosos é descobrir que não existe, ou, existe muito pouco interesse ou afinidades em comum.
Mergulhar no mundo do parceiro pode ser uma maneira de descobrir afinidades e manter uma ponte entre o que ambos gostam, e, que podem fazer juntos de maneira prazerosa. É também uma forma de manter uma linha virtual entre corpos, independentemente, da singularidade do sexo.