No cotidiano da vida a dois procuramos de maneira consciente manter o que seria nutritivo para alimentar a chama do bom convívio e do amor.
Entretanto, temos a tendência de intoxicar as relações, deixando que pequenas rusgas deteriorem os sentimentos e enfraqueçam conexões amorosas.
Hoje em dia, estão na moda os sucos “detox”, que ajudam a remover as impurezas do corpo, e, assim mantê-lo saudável. Pois bem, será que existiria um comportamento e uma atitude mental “detox” para ajudar a desintoxicar um relacionamento a dois, debilitado?
Existem alguns hábitos e comportamentos, que trazemos para dentro do casamento, que são capazes de aniquilar qualquer bom relacionamento. É provável que você tenha pensado na infidelidade ou na traição. Não nego, um ou outro é um dos piores tóxicos para deteriorar uma relação. Afinal, cerca de vinte por cento dos divórcios ocorrem em decorrência das inocentes “puladinhas de cerca”. Outros agentes tóxicos são capazes de dissolver um relacionamento conjugal de maneira tão poderosa como a infidelidade, tais como a incompatibilidade de temperamento, o uso de drogas licitas e ilícitas, desordem emocionais, falta de diálogo, violência, abuso doméstico, dentre outros.
Como se pode notar, existem varias situações que intoxicam as pessoas e promovem a falência da convivência a dois. Seguindo essa linha de pensamento, John Gottman (pesquisador das múltiplas inteligências) tem reforçado que a dificuldade de um dos cônjuges em assumir sua parcela de falhas na relação é um dos grandes motivos para separações. Os tons acusatórios também encabeçam a lista de “faltas” de um para com o outro. Frases do tipo “Você nunca me escuta, por isso eu…”; “Você está sempre ocupado, por isso eu…”; “Isso acontece por que você…”. O requerente não se coloca como metade na responsabilidade dos fatos, deixando o parceiro sem direito de defesa. O parceiro se torna acuado, se mantém na defensiva, e, quando possível se esquiva de um provável confronto. Resultado: lixo sentimental tóxico!
Outra situação dramática aparece quando o casal perde o fio condutor que os conecta. Acontece quando um dos parceiros se sente pouco valorizado e requerido amorosamente. Como os olhos não se encontram mais e os ouvidos estão distantes, um dos parceiros pode, numa tentativa de desespero, passar a elevar a voz, como forma de ser visto e ouvido por seu cônjuge. A comunicação se torna destrutiva, inflamada e por vezes violenta. Com o tempo, a saída é um ignorar o outro, deixando o solo matrimonial árido, endurecido e com fissuras.
Alguns casais, por vários motivos, deixam de partilhar suas histórias pessoais, seus sonhos e objetivos, tornando-se impermeáveis para ouvir as demandas do outro. Sentem-se isolados, frustrados e solitários. Desenvolvem a ausência de empatia para com o outro e frases do tipo “Você já me disse isso, vai falar de novo!” fazem parte do cotidiano familiar.
Assim como procuramos refletir sobre a criação dos filhos, precisamos também enriquecer nossa relação matrimonial com reflexões profundas. Quem nunca caiu na armadilha do perdão! Perdoar é distinto de desculpar, aceitar e tolerar uma ofensa. Perdoar pode ser uma maneira de refletir sobre os sentimentos mais profundos que temos a nosso respeito e a respeito de outrem. Do contrário pode ser apenas um perdão no vácuo. O perdão conjugal envolve renovação e novos votos de cumplicidade e estabelecimento de verdades.
O último tóxico que deteriora os relacionamentos amorosos é a falta de companheirismo nas tarefas do lar, na educação solidária dos filhos, e, na falta de incentivo do parceiro para conquistar metas e traçar objetivos comuns e pessoais.
Se fosse possível indicar dois ingredientes para um suco “detox” relacional, eu começaria por uma boa dose de empatia, seguido de cumplicidade. Penso que seria um bom começo para neutralizar os agentes oxidativos do casamento.