Olhar para um indivíduo, identificar coisas interessantes e se conectar a ele é um passo comum nas pessoas que se enamoram.
Comportamentos atrativos, atitudes irreverentes, olhares sedutores e um sorriso contagiante atrai e não há como o suposto parceiro resistir.
São adjetivos fortes para agregar um parceiro ao outro.
O tempo passa e o desejo de estar junto vai ficando cada dia mais intenso até que chega o momento em que os enamorados resolvem casar ou morar juntos. Pois bem, as vidas passam a se entrelaçarem!
Isso quer dizer que entre um tempo e outro existe uma laçada. Dependendo de como esses parceiros encaram a vida de casal, essa laçada pode ser frouxa, apertada ou simplesmente, “no ponto” – suficiente para manter a “malha amorosa” com forma e consistência.
Alguns casais tornam-se tão envolvidos e misturados que mal sabem onde um começa e o outro termina. A identidade torna-se comprometida e a sintonia fica fora da faixa. Parece que o que antes simbolizava “dois pombinhos” agora são “dois estranhos no ninho”. Ambos tornam-se vigilantes e controladores um da vida do outro ou o contrário.
Uma vez atendi uma moça de seus trinta e poucos anos que dizia que seu esposo (da mesma idade) era um tremendo folgado e fanfarrão, e, que esse comportamento vinha desde o namoro. Ele parecia um piadista de “stand up comedy”: fora de casa tinha um humor negro e afiado e no lar era azedo e pouco comprometido com as exigências da família.
Perguntei por que ela havia se casado com uma pessoa, supostamente, tão diferente dela, e, de imediato veio a resposta: “Ele era lindo, forte e eu já tinha quase trinta anos. Eu pensei que com a vida a dois ele mudaria, seria mais rotineiro, responsável, afetivo e o lar ajudaria-o a ter um comportamento mais equilibrado” – “O tempo passou e nada mudou!”
Com a chegada do bebê, o parceiro ficou mais intolerante e espaçoso. Frente as cobranças de minha cliente, ele afirmava que nunca quis filhos e que o relógio biológico dela a fez tomar uma decisão precipitada. O parceiro sedutor, agora, era visto como um piadista de humor mais que negro, pouco amável e a beleza havia se perdido na decepção do cotidiano. Aos olhos da esposa ele teria que mudar seu jeito de ser e agir no mundo para atraí-la e tornar-se novamente um marido apaixonante.
Com esse relato eu quis mostrar que nem sempre é possível mudar uma atitude repulsiva entre os parceiros. A repulsa não foi criada de um dia para o outro, e, sim mediada por um temperamento incompatível. A esposa era sonhadora e achava que teria uma varinha mágica para mudar o parceiro e o esposo, por sua vez, egoísta, pouco comprometido e atento as necessidades da família. Resultado, uma fórmula difícil de homogenizar!
Conviver com temperamentos que não apreciamos é algo que não se “cura” com o cotidiano ou com varinha mágica, muito menos com a vinda dos filhos. Quando muito o temperamento ameniza.
Existe ainda, parceiros insatisfeitos com sua “cara metade” e por traz dessa insatisfação pode haver algo muito maior. Não é o “jeitão” do companheiro que denigre o relacionamento a dois, mas sim coisas ocultas que podem estar debaixo do tapete, como o déficit de entrosamento sexual, a falta de companheirismo, a ausência de projetos pessoais, a inexistência de admiração mútua, entre outras.