Resolvi escrever esta matéria, tendo em vista que esta semana atendi um casal em crise: ela era filha de um pai ausente e de uma mãe que estimulava as filhas a fazerem coalizões contra o pai.
Não preciso dizer o quanto este pai se sentia ferido, carente e abandonado com tudo isso.
Por outro lado, o esposo referiu ser uma pessoa só, filho de pai autoritário e uma mãe submissa. Quando criança fazia muitas estripulias para chamar a atenção dos entes queridos. Não parece nada incomum, não é?
O problema é que minha paciente acabara de dar a luz a um lindo bebezinho e que como era de se esperar estava grudadinho a ela. A queixa do esposo era que ele se sentia abandonado e não recebia mais a mesma atenção que costumava receber da esposa.
Até aqui nada muito diferente da história de muita gente. Foi aqui que parei e observei que nos últimos três meses recebi outros dois casais com queixa semelhante. Dessa maneira, decidi escrever sobre o fato, na tentativa de ajudar outros leitores que possam estar passando por fase semelhante a dos casais que tenho atendido.
Voltemos ao assunto.
Como terapeuta familiar eu não pude deixar de notar que as histórias de vida de ambos os pacientes se entrelaçam no momento em que minha cliente revive no presente as queixas frequentes que seu pai fazia por se sentir abandonado (lembram-se do joguinho que a mãe de minha paciente fazia ao colocar as filhas contra ele?).
Na verdade o que ela desejava era um pai para sua filha diferente do que ela teve: participativo, que a apoiasse e ficasse do seu lado para o que der e vier, principalmente neste momento onde a mulher fica muito vulnerável (pós parto). Ela gostaria de ter um companheiro para formar uma família de verdade. O que ela percebeu foi que não podia contar com os homens que fizeram parte de sua vida. Quanto mais ela sentia a carência do esposo mais ela se fechava em sua armadura e pouco afetiva ficava com seu marido.
Por outro lado, seu esposo revivia o sentimento de abandono, tão experienciado em sua infância, com toques de rejeição e tristeza ao perceber que sua companheira só tinha olhos para o bebê recém chegado.
O que aconteceu?
Parece que ambos fizeram uma viagem de volta ao passado – é como se um incitasse o outro, sem saber, a ocupar o lugar de um ente do passado. Terrível, não? Marido e mulher presos em uma porta giratória. Uma estrutura que prende e não leva a lugar nenhum, pois cada um tem sua razão.
Como sair do impasse?
Acho que a primeira atitude é remover os óculos desfocados de “Mr. Magoo” e apontar ao casal como suas histórias acabaram influenciando no momento atual de vida e desfazer a queda de braço que se instaurou na relação a dois.
O marido cobrar menos sua esposa nesse período e compreender que o cuidado oferecido ao bebê não o desqualifica como homem e que ambos podem usufruir deste momento de afeto em família.
A esposa, por sua vez, entender que ela pode contar com o companheiro que ela escolheu para partilhar sua jornada, sem que ela o veja como carente, pouco participativo e distante. Um homem que ela pode contar e “chamar de seu”.
Neste caso, o final da história foi muito bacana, pois ambos puderam remover as armaduras e trocá-las por escudos – que os protege, mas não corta a comunicação.