Quem nunca ouviu dizer, que a rotina é a grande inimiga do casamento. Não acredito que essa seja uma verdade incontestável, pois, a rotina está implícita na vida do ser humano desde que ele nasce.
De certa forma a rotina assegura continuidade e conforto. Desde pequenino o bebê segue uma rotina, embora ela seja dinâmica e confortável: mama, troca fraldas e dorme.
Entre uma atividade e outra a mãe zelosa e devotada ao seu bebê incrementa essas atividades com pitadas de amor e carinho. Para tanto, ela embala, cantarola, e, ao mesmo tempo, ela promove toques muito sutis, mostrando onde seu corpinho começa e onde ele termina.
Pois bem, a mãe está seguindo uma rotina, e, ao mesmo tempo temperando o dia da criança com criatividade. Como se pode notar, a rotina é saudável e nos ajuda a dosar com equilíbrio nossas necessidades e nossas práticas.
O que seria de nossa vida sem rotina?
A alimentação seria a qualquer hora, o banho só seria efetuado se houvesse tempo e não estivesse frio, escovar os dentes seria uma perda de tempo, o trabalho só seria realizado após longos períodos de lazer, e, os exercícios físicos só ocorreriam entre uma abertura e outra do semáforo de pedestres.
Isso é só um exemplo caricato do que poderia ser nossa vida sem rotina. Até nossa saúde física e mental estaria comprometida sem ela – a tão ultrajada e mal falada rotina.
Existem rotinas, que de alguma maneira são impostas a nós como fardos ou obrigações sem qualquer prazer, mas se olharmos com um enfoque positivo, elas nos beneficiam. Tome como exemplo a ida ao dentista periódica ou ao médico clínico. Essas atividades rotineiras previnem caries, doenças gengivais, detecção precoce de hipertensão arterial, diabetes e outros males não menos importantes.
Na vida do casal, a rotina pode ser uma aliada na construção de projetos a dois ou familiar. Os parceiros podem planejar viagens, aquisição de bens, passeios e etc. Na previsibilidade do cotidiano eles pressupõem, quanto precisam investir para que seus projetos de vida sejam realizados a curto, médio e longo prazo. É uma maneira inteligente de sonhar e estimular a convivência a dois e em família.
Entretanto, a rotina pode deixar de ser uma aliada, quando ela fica estagnada, mecanizada, enrijecida, pouco ou nada criativa. Ela se torna uma inimiga, quando qualquer atitude de um dos parceiros em propor mudança é sentida pelo outro como desnecessária, incontrolada e exaustiva.
Portanto, quando as atitudes de um dos parceiros é sentida como aversão às mudanças, um sinal de alerta é detectado e a estagnação pode ser interpretada como insegurança patológica.
As pessoas que vivem para manter hábitos, e, que desprezam as inovações, no fundo, estão expressando baixa autoestima e despreparo para enfrentar novos desafios na convivência a dois.
Assim, não é a rotina que atrapalha o casamento e sim a inflexibilidade das pessoas dentro de suas rotinas inflexíveis.
A ausência de rotina leva ao caos e ao controle desmedido do cotidiano. Promove a inflexibilidade e a falta de criatividade.
Qual o ideal?
Alimentar a engrenagem da relação com bom senso, respeito, parcimônia e escuta criativa do outro.
Rotina é diferente de conformismo. No conformismo a obrigação vem em primeiro lugar e ele é pouco estimulante. Tem caráter tarefeiro, pouco reflexivo e não estimula a participação ativa e afetiva dos parceiros. A criatividade é quase nula.
No conformismo o tédio invade a relação, desgasta a convivência, provoca a monotonia e deixa os parceiros desunidos. Portanto, o que desgasta a relação a dois não é a rotina e sim o conformismo – ou seja, a monotonia imposta pelos pares que não dizem o que pensam e o que desejam um ao outro.
O que fazer quando a rotina entra na zona do conformismo?
O ideal seria que o cônjuge incomodado com determinada rotina ou situação encontrasse uma maneira de se fazer entender. A partir disso, juntos agissem de forma criativa na busca de soluções para o conflito de maneira a surpreender o outro.
Como fugir da rotina conformista?
Não inventaram ainda nenhuma fórmula melhor, que o diálogo, como forma estratégica para evitar a rotina conformista, e, cada parceiro saberá como lubrificar, de forma criativa, suas engrenagens para não cair na mesmice, na forma mecânica de agir e atuar no mundo, e, na monotonia do cotidiano a dois.