Leve em consideração o que sua criança sente – as crises emocionais querem dizer muita coisa para nós pais e cuidadores.
Imagine observar uma criança de cerca de 2 anos, num parquinho, pegando seu baldinho de areia e saindo vento em popa, sem olhar para traz, após a mãe ter lhe negado um sorvete. Voce pode achar bem engraçadinho e peculiar assistir uma cena dessa e até exclamar: “que gênio forte, se parece com o papai ou com a mamãe?”
Por outro lado, imagine o que aconteceria se a mãe dessa (e) menininha (o) tivesse a mesma reação com seu parceiro? E se o “chefe” do pai da (o) menininha (o) fizesse o mesmo toda vez que estivesse com a cabeça quente? Provavelmente ninguém acharia engraçado!
Mas os adultos costumam achar graça das crises emocionais dos pequenos e muitos deles desprezam as reações de raiva, medo ou preocupação das crianças, como se as emoções infantis não tivessem valor. Com o tempo, as próprias crianças passam a duvidar do que sentem e de como sentem, desqualificando o próprio julgamento e perdendo a confiança em si mesmas.
`As vezes, me pergunto, “será que os adultos sublimam as emoções das crianças simplesmente por que elas são pequenas?” Criança pequena emoção pequena!
Penso que achar bonitinho uma explosão de raiva ou uma expressão de tristeza da criança é uma atitude que herdamos de nossos “ancestrais”, onde as crianças não eram vistas como crianças, com necessidades típicas de seu processo de amadurecimento, e, sim como “seres” em crescimento que em breve estariam inseridas numa “força de trabalho”.
Levar em consideração o que uma criança sente exige de nossa parte muito amadurecimento e empatia – com adição de boa escuta, percepção e muita disposição de se colocar no lugar da criança e enxergar o mundo como ela enxerga e sente. Nos dias atuais, isso está muito difícil. Imagine que temos que pedir para que os pais desliguem o celular para dividir bons momentos com os pequenos e que a Sociedade Brasileira de Pediatria está prescrevendo “brincadeiras ao ar livre” e estimular o desenvolvimento de habilidades socioemocionais aos pais quando eles vão acompanhar seus filhos nas consultas à saúde.
Eu não tenho dúvida que os pais amam seus filhos intensamente e que, por natureza, as crianças são boas, têm bons sentimentos e procuram, desde a primeira infância, se solidarizar com as outras crianças. Conclusão, a humanidade tem tudo para ter uma evolução amorosa.
Contudo, vivemos num momento onde os pais estão sem identidade. Ao mesmo tempo em que são hiper tecnológicos, eles estão ficando analfabetos emocionalmente. Muitos são incapazes de abrandar seu filho de 2,3 anos frente a um destempero emocional – chamando esta fase dos “terríveis dois”. Os 2, 3, e assim vai, não são, necessariamente, piores que os 4 ou 5 anos das crianças.
Crianças precisam de direcionamento em qualquer faixa etária e é esse direcionamento que percebo que está faltando aos pais. Num determinado momento os pais agem com muita autocracia e punem o filho que cometeu algum “delito”. Nãos esqueçam que estamos falando de crianças pequenas! Já ouvi muito pai e mãe que se apropriam da “palmadinha educativa” a partir dos nove meses de idade do bebê. Esses pais alegam que a palmada coíbe a criança de mexer em coisas proibidas. Ora, se são coisas proibidas o que elas estão fazendo ao alcance do pequeno?
Por outro lado, me deparo com pais flexíveis demais. Dão muitas explicações ao filho, fazem sermões dignos de pastores e no final das contas ainda pedem por favor para a criança obedecer, comer e escovar os dentinhos antes de dormir.
Os filhos de pais autoritários costumam ser mais conflitados, impulsivos e irritados, enquanto que os filhos de pais muito flexíveis costumam demonstrar maior insegurança e dificuldade em lidar com limites.
Moral da história, percebemos pais com dificuldade de se auto regularem emocionalmente falando e pais com dificuldade de ajudar a regular emocionalmente seus filhos. E agora? Fazer o quê?
Precisamos aprender a escutar não só as palavras emitidas por nossos filhos, mas também os sentimentos por trás das palavras. Desenvolvermos um olhar gentil e firme para com nossos filhos também é uma maneira de sair da posição de pais-educadores autocratas ou flexíveis demais.