Até que ponto voce percebe que seu filho te manipula? Jogos de poder são frequentes em sua casa?
As crianças, por vezes, têm comportamentos difíceis devido a sua imaturidade emocional. Entretanto, existe outros comportamentos onde a criança insiste em fazer “algo” para conseguir o que quer: brinquedos, alimento, passeio, entre outros. A isso damos o nome de “manipulação”!
Que pais nunca passaram pelo exemplo a seguir?
Os pais de Pedro (6,5 anos) me contaram que eles teriam que ir a uma festa noturna de final de ano da empresa e que falaram sobre o fato com seu filho. Pedro se sentiu com muita raiva por ter sido excluído do evento noturno (que cabe aqui ressaltar não era indicado para crianças), ficou choramingando que queria ir e como os pais foram taxativos, ele começou a arremessar seus brinquedos na parede e a chutar os móveis e a gritar que ia de qualquer maneira. Os pais tentaram conversar, aplicaram várias técnicas aprendidas nos atendimentos de família, mas mesmo assim Pedro estava irredutível em sua brabeza!
O casal desistiu de dialogar e resolveu dar um “tempo” sobre o assunto e deixaram que Pedro ficasse no quarto com seus pensamentos e decepção. Para a surpresa do casal, passado uns vinte ou trinta minutos, observaram que Pedro estava quieto e montando um quebra-cabeça. E que a pausa positiva havia surtido efeito. Quando Pedro percebeu que os pais estavam o observando o “chororo” começou novamente.
Esse simples exemplo corriqueiro mostra que Pedro estava tentando fazer de tudo para que os pais mudassem de ideia e o levasse a festa. Novamente o casal, explicou ao Pedro que entendia a raiva e a frustração dele e que não podiam leva-lo a festa e mantiveram a posição firme e gentil de demonstrar a Pedro que tudo bem ele se frustrar e se entristecer em não ir a festa, mas que seus pais não se deixariam intimidar pelo choro e muito menos pela crise de braveza.
Com esse exemplo, os pais mostraram que a criança não os controlaram pelo choro e muito menos com a crise de frustração. Pedro percebeu que seu “show” não alterou a decisão dos pais e os pais ainda tentaram flexibilizar as negociações propondo a Pedro o seguinte: “Voce prefere ficar aqui em casa com a vovó no dia da festa ou prefere ir para a casa da vovó? Voce escolhe!”
Ao mesmo tempo que os pais não aceitaram a manipulação do filho, eles identificaram e entenderam o aborrecimento da criança e propuseram um acordo, dando ao Pedro duas escolhas.
Os pais de Pedro demonstraram ser ótimos treinadores emocionais para o filho. Não deixaram de reconhecer e verbalizar os sentimentos da criança, de entender a causa de tanto aborrecimento e frustração, ajudaram a criança a se regular emocionalmente e ainda conseguiram flexibilizar algumas saídas.
Nem sempre as coisas terminam assim tão bem rapidamente. Muitas vezes, os pais precisam dedicar mais tempo ajudando o filho a se regular emocionalmente, a juntos buscarem uma resolução para os problemas e então, seguirem em frente.
Na vida nada é mágico! Carece sim de empenho, constância e perseverança; principalmente quando o assunto é a educação das crianças. Quando nos empenhamos e nos preocupamos com nossa relação com os filhos, sentimos que mantemos a proximidade e a reciprocidade e que no final o que impera é uma relação colaborativa e genuína dentro da família.
Quantos de nós afirmam que sempre amaram muito seus progenitores, mas não se sentiam próximos a eles. Havia consideração, mas também havia receio do criticismo e dos padrões inflexíveis. Os pais que acompanham a educação de perto e se disponibilizam a serem verdadeiros treinadores emocionais de seus filhos, percebem que o acompanhamento corpo a corpo reverbera da infância para a adolescência e para a vida adulta. Essa é a grande beleza de pais e filhos olharem na mesma direção.
Quando os pais não se deixam manipular pelos filhos, as crianças aprendem o verdadeiro sentido da confiança, da sinceridade e dos valores familiares que vão acompanha-los para o resto da vida, facilitando o desenvolvimento de boas amizades, da aquisição de boas competências socioemocionais e redução de riscos no período da adolescência.