A primeira grande perda do ser humano é a perda da mãe – e por mãe quero dizer aquele lugar aconchegante, gostoso, acolhedor e seguro.
Depois vem a perda do pai – da proteção. Perde-se também o lugar na família com a chegada do irmão, que acabou de nascer, perde-se a infância para entrar na adolescência, e, depois perde-se a adolescência para entrar na fase adulta.
Não menos sofrido, quando se perde o melhor amigo, com a entrada de uma pessoa mais interessante, e, que nos completa na totalidade. Em fim, a vida é uma constante perda e não desconsidero que elas são sofridas e dolorosas.
Se não aprendemos a lidar com as perdas, vamos ter muitos problemas, e, um deles é o desperdício com a nossa própria vida.
Para que uma pessoa adulta se separe de seus pais, é necessário que anteriormente ao processo de separação, ela tenha nutrido o sentimento de ter sido amada profundamente – “sou querida, importante e amada pelos meus pais” – tenho segurança para ir embora por que sei, que se eu precisar eu posso retornar e me abastecer de afeto.
Infelizmente, diminutas famílias dão aos seus filhos essa legitimidade, passando a mensagem aos filhos de que crescer é difícil e perigoso. A rejeição prende as pessoas aos seus pais. Parece antagônico, mas não é!
Os filhos que não se sentem suficientemente amados desenvolvem uma tarefa interior de conquistá-los. Vira um projeto de vida – é uma relação acorrentada por feridas e de difícil ruptura. O cordão umbilical emocional se torna difícil de ser rompido.
Gostaria de mencionar o exemplo de Juliano (nome fictício). Esse cara era muito inteligente e preparado. Entretanto, vivia se queixando, que nada em sua vida progredia. Tentava alçar novos voos, porém acabava por retornar para a casa dos pais. Sua mãe o acolhia e usualmente dizia, que estava cansada de sanar suas dívidas e lhe cobrava um preço alto – satisfazer suas mazelas e desejos caprichosos, bem como deixar claro, que ele era incompetente, e, que nunca deixaria a barra de sua saia. Na real, ambos estavam amarrados um ao outro.
Juliano fazia de tudo para conquistar o amor da mãe, inclusive não conseguia prosperar, pois, no fundo não queria sair de perto de sua mãe. Parece maluco, mas não é!
Poder se separar dos pais é uma condição essencial ao crescimento, e, esta separação começa na adolescência, e, se concretiza quando deixamos a casa dos pais para seguir “carreira solo” (casar, trabalhar, morar sozinho), e, enfrentar os desafios da vida.
Enfrentar as perdas não é nada fácil, afinal de contas ficar em casa é muito mais confortável e seguro, por isso vamos em busca de proteções, e, evitamos o crescimento, o famoso virar gente grande, e, tomar rumo na vida.
Ao recusarmos vivenciar as perdas, e aqui a perda do tão gostoso ninho familiar, perdemos a oportunidade de viver plenamente e sem correntes.
Quando não fazemos o luto de perdas necessárias, corremos o risco de perder o controle de nossas próprias vidas e delegarmos nossa existência ao outro.