Outro dia eu recebi um casal para orientação de pais, referindo que eles eram desejosos da separação, mas não sabiam como falar do assunto com as crianças.
Sentiam-se receosos em traumatizar as crianças ou mesmo perder o amor deles. Eles entendiam que não queriam ficar mais juntos, porém, se respeitavam e nutriam sentimentos de reciprocidade. O fato de manterem uma relação respeitosa já era um ótimo começo e assim demos início as orientações.
O mais importante de tudo é passar para as crianças a noção de pertencimento e vínculo positivo, assegurando que o amor é o sentimento mais importante entre as pessoas e que o Papai continuará sendo seu pai, assim como a Mamãe, e, que o fato de não estarem mais juntos não muda o amor que ambos sentem por eles.
Outro ponto importante a ser frisado é que nenhum dos filhos foi responsável pela separação. As crianças na primeira infância ainda fantasiam muito e podem achar que elas causaram o afastamento dos pais por algo errado que elas tenham feito. Reassegurar que a separação foi uma decisão do casal!
Numa separação amigável é mais fácil para a criança entender que ela não precisa escolher um lado, e, ao mesmo tempo entender que papai e mamãe têm a mesma importância. É normal num primeiro momento os filhos se sentirem aliviados com a separação, mas em outros momentos a criança pode demonstrar raiva, chateação e até “surtos” de agressividade.
Cabe aos pais acolherem seus filhos e traduzirem em palavras o que eles estão sentindo e passarem a mensagem que tudo isso é normal e logo ficarão bem. Que eles não precisam sentir vergonha em falar da separação dos pais e que os coleguinhas também vão entender. Afinal eles não são os únicos da terra a terem pais separados. Aproveite o momento para descontrair e desenhem o que cada um está sentindo em uma cartolina comunitária ou em folhas de papel separados. Depois cada um pode falar sobre seu desenho. É uma maneira de lidar com os sentimentos densos.
Os pais devem evitar falar sobre assuntos administrativos na frente das crianças (pensão, pagamentos, adequação de bens e etc.) e muito menos inquerir os filhos sobre o que eles fazem nos dias que estão com um dos pais. Isso é terrorismo e as crianças ficam divididas. Algumas até se sentem mal em ter tido um dia bacana com o papai ou a mamãe.
Filho não é pombo-correio! Os assuntos das crianças ou administrativos devem ser tratados entre os pais e quando isso, por algum motivo não for possível, pelos advogados dos ex parceiros.
Criança é criança e tem o direito constitucional de ser tratada como tal. Isso quer dizer que a criança não é a melhor amiga, não é confidente e muito menos terapeuta. Se você, papai ou mamãe, perceberem que não estão dando conta do “recado” (separação), procure um terapeuta. Este sim estudou e está preparado para atuar em momentos delicados como esses.
Torcemos para que o processo de separação seja o mais cordial possível. Entretanto, se algo sair do contexto, a primeira coisa a ser feita é poupar as crianças de qualquer cenário desastroso e marcar uma nova data para acertos e conversas.
Separações não costumam ser assuntos e ações fáceis – causa dor e graus variados de sofrimento. Todavia, quando existe filhos “na parada”, os adultos devem ser ponderados, reflexivos e acima de tudo estão as crianças que não têm nada a ver com o rompimento.