As crianças não são tolas, elas têm a capacidade de perceber quando um adulto está sendo sincero com ela, ou seja, o discurso do adulto tem que bater com o que ele sente e fala.
Do contrário, tudo que o adulto diz ou faz, aos olhos das crianças, é incongruente – estranho – sem empatia e verdade.
Muitos pais pensam que são capazes de influenciar seus filhos de maneira positiva após uma atitude intempestiva, rude ou pouco amorosa. Que os ouvidos das crianças estão abertos para absorver as palavras de seus genitores.
Imagine você, após ter sido chamado a atenção de maneira negativa por seu chefe ou alguém de seu convívio de maneira pouco gentil.
Como você se sente? Voce está aberto para ouvir solicitações, revisão de tarefas ou memorizar uma solicitação? Acho que não! Ficamos num estado de muita vergonha e decepção!
Por que você acha que com as crianças isso é diferente?
Conseguimos passar nossos sentimentos por meio de nossa interlocução, por meio do tom da voz ou até mesmo pela nossa expressão facial ou gestual. Crianças não são fáceis de enganar como nós, ingênuos pais, pensamos.
Vamos supor que seu filho estivesse fazendo pintura a dedo sobre a mesa da sala, e, numa fração de segundo a tinta se esparrama pela mesa e ganha o chão. Seria de se pensar que a coisa mais fácil a fazer seria passar um bom sermão e manda-lo limpar a sujeira que ele fez.
Tenho certeza que seu filho ficaria muito triste e envergonhado pelo que aconteceu e pela bronca que tomou. Entretanto, seria mais gentil se você controlasse seu ímpeto de discursar e lançasse mão de perguntas reflexivas, do tipo: ok, o que você pode fazer em relação a isso? Com a técnica você estimula seu filho a ser mais cuidadoso e o envolve no processo de solução de problemas.
Dessa maneira seu discurso “bate” com a prática!
Claro, que se seu filho tiver pouco mais de 4 anos, você ainda precisa ajudá-lo a limpar a bagunça, mas sempre orientando e o guiando de maneira gentil e firme. Voce não tirou a responsabilidade dele sobre o ato (sujar a mesa e o chão), mas também não o execrou, julgou e aplicou uma pena.
O importante é ter em mente que as crianças estão o tempo todo formando crenças sobre si, sobre o outro, sobre o mundo e o que elas precisam fazer para ser parte do ambiente em que vivem. Nesse vai e vem, o “ser aceito” é de suma importância. A final quem não quer se sentir amado e validado?
O tempo todo os pequenos estão observando nosso comportamento, porém, não são bons interpretes em relação ao comportamento. Veja este exemplo usual. Imagine uma mãe que chega da maternidade com seu novo bebê nos braços. Todos querem ver, pegar, alimentar, embalar o novo membro familiar.
Agora, visualize o irmãozinho mais velho. Sua crença é de que ele não é mais tão importante e querido pela família e que essa história de ter um irmãozinho parece ser um “papo furado”.
Portanto, a crença da criança será no que ele vê (observa) e não no que é verdade. Assim, a criança passa a se comportar como bebê também: pede uma chupeta, quer mamar, pode ter escapes na roupa, etc. O objetivo do primogênito é reconquistar a atenção e carinho de seus familiares, mesmo agindo de maneira inadequada.
Por outro lado, a mãe se sente cansada, muito requerida e impaciente. Seu tom de voz pode se tornar mais áspero, suas atitudes mais rudes, mas seu coração continua aberto intensamente para os dois filhos.