As crianças são capazes de perceber quando o ambiente é acolhedor e este é capaz de estimular suas habilidades e competências para a vida.
As crianças sentem que seus pais estão lado a lado em sua educação, e assim, procuram contribuir a sua maneira. Lembre-se, crianças são crianças e não mini adultos com competências e visão de mundo já formadas!
Em todo o meu tempo como terapeuta, a maioria dos pais me procuram porque seu filho está com problema de comportamento e eles se sentem perdidos. Bater? Castigar? Fingir que nada acontece?
Os pais esquecem ou não percebem que seus filhos “surtam” quando eles não encontram em seus lares força, competência e habilidades saudáveis para se desenvolverem, e estas habilidades incluem: sentimento de competência; percepção de que é necessário para sua família e comunidade; poder de decisão apropriada a sua idade (escolhas); habilidades inter e intrapessoal; habilidades para aceitar regras e limites definidos e habilidades para julgamento – o famoso certo ou errado (em conformidade com sua cultura).
Quando os pais são muito rígidos, punitivos ou críticos, as crianças costumam se desenvolver em ambientes autoritários, com liberdade restrita e a palavra de ordem é “faça porque eu estou mandando”! Por outro lado, pais permissivos, cultuam a liberdade sem ordem, oferecem escolhas ilimitadas para seus filhos imaturos e o “você pode fazer o que quiser” é rotina nesses lares.
Enquanto a rigidez engessa e a permissividade solta a linha demais, a disciplina positiva entra como uma maneira de educar os filhos de maneira gentil, autêntica e firme ao mesmo tempo. Incentiva a liberdade com ordem, as escolhas são limitadas e coexistem com respeito e sabedoria. A violência, o abuso físico ou psicológico são descartados em detrimento do respeito, amor, educação e criação respeitosa e reflexiva.
Imagine este exemplo: uma criança de cerca de 2,5 anos na hora do café da manhã. Em um lar rígido, os pais sempre sabem o que é bom para seu filho. Portanto, se a mãe acha que a criança deve comer o mingau de aveia morno não haverá escolha ou opções, mesmo a criança fazendo isso todas as manhãs e enjoado do alimento. “Coma e pronto. Eu sei o que é bom pra você!” A criança pode recusar, cuspir ou nausear. A mãe perde a cabeça e dá uns “tapinhas” – retira o mingau. Essa mãe pode se sentir vitoriosa por que ganhou o cabo de guerra ou pode se sentir culpada por ter agredido seu filho pequenino.
Tome o mesmo menininho acima, só que agora sendo servido por uma mãe permissiva. “Ok, você não quer seu mingau saldável, tudo bem. Coma um biscoito ou sirva-se do que você quiser”. A criança decide que não quer nada que está na mesa e solicita ovos com geminha mole, depois rejeita os ovos e quer suco e assim por diante. O que essa mãe está fazendo, provavelmente, sem perceber é que ela está “construindo” um tirano, um manipulador em sua própria casa.
Por outro lado, esse mesmo menininho visto pelo lado de um lar onde se emprega a disciplina positiva, exibiria diferenças significativas. Vamos lá: o menininho estaria vestido para o café da manhã, devidamente treinado e encorajado por sua mãe, teria ajudado a colocar alguns objetos seguros sobre a mesa e a mãe estaria oferecendo duas opções de café da manhã: “você gostaria de mingau de aveia ou de café com leite e pãozinho com queijo?” Essa criança poderia aceitar a oferta da mãe ou ainda fazer um “dengo” e nega-las. A mãe assertiva responderia de maneira firme e gentil: “tudo bem, não temos outras escolhas – você agora pode brincar com seus carrinhos e voltar na hora do almoço!”
Note que essa mãe foi muito diferente da mãe rígida e da mãe sem limites. A mãe se comportou de maneira coerente e amorosa. Claro que as crianças não assimilam bons comportamentos quando ensinadas uma vez. Precisamos repetir e repetir – são crianças!
Quando os pequenos percebem que elas não estão conseguindo manipular seus pais, a tendência é testar a paciência e a perseverança de seus progenitores até que eles percebam que seus pais continuam gentis, porém, firmes em seus conceitos e atitudes. Quando isso acontece, a criança se sente respeitada e sua autoestima não é abalada e o mau comportamento se esmaece.
Ao perceberem que o ambiente é realmente respeitoso, as crianças se sentem motivadas e encorajadas para participar positivamente dentro do ambiente familiar e social.