Tudo começou assim…
“Querido, fiquei muito feliz que você me encantou com a compra de um carro novo. Todavia, gostaria de ter sido consultada antes. Não sei se realmente devíamos ter adquirido um bem tão caro”!
“Acho que você tem razão querida! Eu tinha que ter lhe consultado antes de comprar o carro. Sua ponderação é muito importante para mim”!
Na verdade foi apenas uma divagação. Eu nunca encontrei um casal assim, tão encaixado. Claro que respeito e generosidade são qualidades que esperamos observar nos casais, mas um diálogo assim é surreal.
Num diálogo habitual, onde existe disparidade de opiniões, o mais comum são os parceiros, mesmo aqueles com casamentos saudáveis, expressarem, pelo menos organicamente falando, alteração do padrão de voz e das funções biológicas (aumento na liberação de cortisol e adrenalina).
Assim, penso que os casais poderiam oscilar em faixas de vibração ou comportamento, que aqui chamo de “zonas”. Essas “zonas” não foram inventadas por mim, já existem várias escalas para tentar medir o grau de entrosamento dos casais (cores, numéricas, letras, faces, etc). No meu caso eu qualifico o entrosamento dos casais em zonas: zona esplendorosa, zona neutra e zona perigosa.
A zona esplendorosa é aquela que abrange casais muito bem entrosados, respeitosos e afetivos. Respondem a maior parte do tempo com reciprocidade, mesmo em situações conflitantes. Não perdem a habilidade de responder aos problemas de maneira assertiva, reparadora e produtiva.
E, existem casais assim?
Na minha experiência, tenho notado casais que, pelo menos, conseguem se manter assim por um certo tempo, mas quando o assunto fica pesado, acabam por oscilar de zona – neutra / perigosa. Porém, o grau de confiabilidade entre eles é positiva e acabam por manter uma relação saudável. São casais que procuram restaurar o humor após uma desavença e procuram aliviar a tensão e acalmar os ânimos. Isso pode ser o suficiente para resgatar a razão e ganhar tempo para conversarem sobre o assunto. Quando a confiança é mútua, os parceiros não se munem de escudos e espadas e não ficam medindo quem está com a razão.
Na zona neutra encontramos os casais “mornos” que não estão cansados um do outro e muito menos são apáticos dentro da relação. São parceiros que mesmo frente a uma discordância conseguem controlar os impulsos e se manterem ajustados um ao outro. São da “paz” e conseguem permanecer juntos por longos anos.
Os casais inteligentes e bem entrosados oscilam entre as zonas esplendorosa e neutra.
Casais negativos, agressivos, com pouca disponibilidade para reparar os erros e superar os problemas estão dentro da zona perigosa. São parceiros em eterna discordância, muito competitivos entre si e afirmam que odeiam entrar numa discussão relacional – as famosas DRs. É uma dupla adrenérgica e estressada, o humor é lábil, apresentam dificuldade de ouvir um ao outro e são pouco empáticos na relação. A obstrução relacional é visível e a trégua num momento de crise passa longe.
Apresentam muita dificuldade em fazer reparos no cotidiano, os sentimentos negativos são muito exagerados (raiva, rancor, decepção, desanimo, tristeza), a sintonia é difusa e o grau de confiabilidade é diminuto. Não obstante, a crítica, o desprezo, a defensiva e a estagnação fazem parte do cardápio relacional dos casais que se abrigam na zona perigosa.
Após a leitura desse texto, você já pensou em que “zona” seu relacionamento conjugal se encontra?
Independentemente da faixa que você escolheu, espero que o texto tenha servido para dar uma “sacudida” sobre sua ideia de relacionamento a dois.