Parece que com a vinda dos filhos o “ NADA” se torna imperativo. Não entendeu o que eu quis dizer? Pois bem, vou tentar ser mais clara.
Quando digo nada, eu quero dizer: nada de sexo, nada de privacidade, nada de decisões imediatas do tipo “que tal um jantarzinho num bistrô” ?, Nada de pegar a última sessão de cinema, nada de não ter hora para acordar depois de uma festa, com duração até altas horas, nada de não ter hora certa para comer e… nada de não ter momento certo para curtir simplesmente um ao outro.
A chegada de uma criança trás muitas alegrias, e, a esperança na renovação das gerações, entretanto, no quesito conjugalidade pode-se dizer que é a prova dos nove.
O marido se estressa de um lado, tentando ajudar a esposa ao máximo, dentro de suas possibilidades, e, mesmo assim, ainda pode sair com a fama de ser folgado, ou, incompreensível, fora isso, ganha de quebra, o sentimento de exclusão, e, de não fazer as coisas tão bem feitas como sua esposa.
A esposa, por sua vez, se sente assoberbada. Os cabelos nem sempre permanecem alinhados, o sono está conturbado, e, seu perfume é o puro “extrato de aleitamento natural”. Nada se compara a este cheirinho – ele fica pela casa, nas roupas e no ambiente que agora pertence a sua majestade “o bebê”.
A maioria dos casais que atendo costumam me perguntar, se um dia voltarão a ter o tempo de adultos como antes, ou, se um dia poderão conversar olhando um ao outro – olhos nos olhos – sem ter que desviar o olhar, para checar se tudo esta bem. Será que um dia poderemos falar de outro assunto, que não sejam fraldas, chuças, pomada para os mamilos, e, outros não menos importantes?
A mulher torna-se sobrecarregada com atividades, que na maior parte do tempo, só ela pode resolver – e, não tenho dúvida, seu bebê agradece e celebra por isso. Por outro lado, o preço que a mamãe paga é muito grande – ela acaba se esquecendo de si própria e de seu companheiro. Cobre um santo e descobre outro.
É o famoso estado que Winnicott (psicanalista infantil), que muito bem define, como “preocupação materna primária” – uma ligação profunda e absorvente da mãe com o bebê. Uma ligação que, na maior parte das vezes, é benéfica e volta ao seu estado normal em alguns meses. Devo confessar que vista pelo lado do pai, é uma fase delicada, pois, a mãe ora se sente vulnerável e frágil, ora, se sente poderosa – só ela sabe realmente o que o bebê quer ou precisa.
Já ouvi muitos companheiros definirem esta fase como um verdadeiro “porre”. Ao mesmo tempo, que eles ficam no limbo, eles desenvolvem a percepção de serem incompreensíveis, e, de serem promovidos ao simples cargo de assistentes.
O interessante é lembrar que começamos nossa história conjugal com um homem e uma mulher. Um casal disposto a compartilhar sentimentos, sabores e dissabores durante o “até que a vida nos mantenha unidos”.
Dessa maneira me pego refletindo; quem vem primeiro em nossas vidas, nosso companheiro ou nosso filho?
É uma pergunta temporariamente complicada de responder, pois, em nossa sociedade, é esperado que após o nascimento do filho, todas as atenções se voltem a ele. Entretanto, os pais que se deixam absorver completamente pela criação dos filhos, acabam abandonando emocionalmente um ao outro, e, ao casamento ávido por necessidades que só os adultos podem satisfazer.