Quase duzentos e setenta dias dentro da mamãe – Bebê nasceu! …e agora?
E o que dizer da depressão pós-parto
Nos últimos vinte anos, tem havido um crescente reconhecimento de que para algumas mulheres, a gravidez pode vir sobrecarregada de muitos transtornos de humor, e, em particular da depressão.
Para algumas mulheres o período da gestação é coroado de muitas alegrias, para outras surge o peso da tristeza e da melancolia.
Estima-se que cerca de trinta por cento das gestantes apresentem sintomas depressivos durante a gestação e que vinte por cento sejam realmente caracterizadas como depressivas.
A depressão pós-parto tem sido vinculada a rupturas no estabelecimento da comunicação mãe-bebê: menor atenção da mãe com seu bebê, menor comunicação vocal e visual, menor frequência das interações que envolvem o tocar, o sorrir, o interagir com a criança.
As mãe deprimidas tem dificuldade em realizar a leitura das necessidades de seus bebês e acabam por se tornarem invasivas, negativistas, pouco afetivas e continentes com seus filhinhos.
O que será que predispões uma mulher a sofrer de depressão pós-parto?
Novamente os culpados são os hormônios femininos. Algumas mulheres possuem uma sensibilidade particular a alterações hormonais, sendo o estresse gestacional/pós-gestacional o gatilho para o desencadeamento da depressão. Por outro lado, outros estudiosos acreditam que a história familiar da mulher, sua relação com sua mãe e parentes próximos teriam um efeito adicional na alteração do humor da mulher no período perinatal.
Com o parto, ocorrem reações conscientes e inconscientes na mulher e não podemos negar que essas reações também ressoam no ambiente familiar e social, que podem reativar ansiedades – ansiedades relacionadas ao próprio parto e nascimento – seria o primeiro marco da perda de todo o aconchego e prazer que tínhamos dentro do útero e a saída irrevogável para o mundo em que todos vivem.
O nascimento deixa uma cicatriz de parto, representada pela cicatriz umbilical, a qual simboliza a separação. Portanto, o parto , para a mãe, é vivido como uma forte separação de algo que por um tempo foi sentido como seu e que agora tem uma vida independente dela, mas que ao mesmo tempo é inteiramente dependente dela. É como perder uma parte de si e encontrar essas mesmas partes em outro lugar.
Parece confuso, não? É pura poesia!
Além dos acontecimentos inconscientes, a mulher também expressa carência materna e do companheiro. Quando essas carências não podem ser, de alguma forma superada ou contemplada, a puérpera pode erguer alguns mecanismos de defesa para tentar lidar com a situação e esses mecanismos vão variar de mulher para mulher. Entre eles é comum a recém-mamãe apresentar-se cheia de energia, euforia, preocupação com seu estado físico, preocupação com a ordem e organização da casa. As visitas são recebidas com muito calor humano, a disposição em dar conta de tudo é exacerbada e quem olha a puérpera não acredita que ela precisa de ajuda – ela está dando conta de tudo.
Todavia, seu aspecto físico sinaliza cansaço, doenças podem surgir e distúrbios do sono aparecem facilmente
Ao contrário, a nova-mamãe pode apresentar-se com um profundo retraimento. Ela prefere ficar isolada, sente uma certa decepção pelo bebê que acabou de chegar ao mundo, sente-se carente e dependente de proteção.
Parece que ela compete pelas atenções e carinhos direcionados ao bebê. Sua percepção é de que ela vive a serviço do bebê e que nunca mais recuperará sua identidade pessoal.
Uma mulher mais sensível, certamente terá mais segurança se ela dispuser de uma rede de apoio que colabore de maneira satisfatória, proporcionando confiança e segurança, principalmente no que diz respeito as atividades maternas. Quanto menos critica e hostilidade ela receber, um ambiente mais acolhedor e carinhoso ela vai perceber. Isso facilitará o resgate de sua autoconfiança e a capacidade em responder as necessidades do bebê.
Não querendo ser nostálgica, mas até alguns anos atrás era comum o filho mais velho colaborar no cuidado com o filho mais novo. Isso de certa maneira já propiciava algumas competências para a maternidade ou mesmo paternidade no futuro. Com as famílias reduzidas, essas experiências foram se tornando mais escassas e derradeiras.
Fatores de risco podem ser identificados, no sentido de apontar mulheres com maior potencial para o desenvolvimento da depressão pós-parto. Entre eles é possível destacar: histórico pessoal ou familiar de doença psiquiátrica, histórico de abuso sexual, abuso de álcool e drogas, dificuldade em contar com uma rede de apoio ou de suporte nos primeiros meses pós-parto, perda de emprego, luto familiar ou de ente querido, dificuldade financeira e de moradia, privação de sono no final da gestação, dificuldade em lidar com o temperamento do bebê.
Dados apontam que a depressão pós-parto pode não ser prevenida, porém pode ser esclarecida em grupos de psicoprofilaxia da gestação, parto e puerpério, tornando o assunto “mais palatável” entre as mulheres no período gestacional.
O início da depressão pode ocorrer não somente poucas semanas após o parto, mas também até sete meses após este. O que nos sugere que um cuidado na observação do humor das recém-mamães no primeiro ano após o parto é muito importante, principalmente em mulheres com histórico de depressão.
Algumas alternativas surgem como esperança na tentativa de reduzir a ocorrência de depressão pós-parto,e, entre elas podemos citar: cursos de preparo para maternidade, psicoterapia, prescrição de remédios de indicação médica e manter o sono em dia.