O desenvolvimento psicoemocional do
bebê de até 12 meses
A terapeuta familiar Regiane Glashan
conta todas as fases pelas quais o bebê
passa até completar um ano
Alguns bebês são super tranquilos. Não dão trabalho para dormir, choram pouco e mamam em horários regulares. Outro podem ser mais agitados, querem ficar no colo da mamãe o tempo todo e mamam a todo instante. Cada bebê é único.
“Antes de tudo é preciso lembrar que o bebê, embora seja um ser pequenino, já está constituído como um indivíduo, e, apresenta traços importantes de temperamento e personalidade. Essas características nos faz pensar em como os bebês são ricos, pois, possuem diferenças individuais, mesmo estando na mesma faixa etária de outros bebês, quando comparados entre si”, explica a terapeuta familiar Regiane Glashan, também conhecida como terapeuta de bebês.
Até os gêmeos univitelinos (aqueles que são idênticos fisicamente) são diferentes emocionalmente desde o momento da concepção. “Cada um terá suas particularidades e singularidades, é justamente isso, que faz com que uma pessoa seja especial”, conta a especialista.
Mas uma coisa é fato: independente do jeitinho de cada um, os bebês têm uma sintonia pra lá de especial com a mãe.
“Se a mãe está estressada seu bebê capta suas emoções e passa a alterar seu comportamento e vice-versa. Caso o bebê esteja num “daqueles dias” (choro contínuo, irritabilidade e superestimulado) pode ser, que a mamãe também se estresse em resposta ao comportamento de seu bebê, portanto, quando falamos da mãe e seu bebê, estamos falando de uma díade inseparável, pois, as reações se dão no mesmo sentido. Lindo, não?”, diz Regiane.
A seguir, a terapeuta explica como se dá o desenvolvimento psicoemocional do bebê desde o primeiro mês até completar um ano:
Um bom começo ajuda muito
O bem estar emocional do bebê começa antes do nascimento. Surge do desejo da mamãe em ter nos braços seu bebê, que ela esperou por quase duzentos e setenta dias. Ela cria expectativas e decisões, que irão influir no desenvolvimento mental, emocional e comportamental do bebê, principalmente nos primeiros meses, que seguem ao nascimento de seu filhinho, mais especificamente nos próximos doze primeiros meses.
Mais uma vez salientamos que a saúde mental do bebê em muito depende da saúde mental materna, no quanto a mamãe vai estar disponível para seu filho, e, no quão devotada ela será ao seu bebê.
Estamos falando de uma atenção especial ao bebê, que só uma mãe atenciosa pode dar ao seu filho, e, para tanto, não podemos deixar de mencionar a amamentação. Receber nos braços o bebê tão esperado, e, poder aplacar o desejo de amor, de saciar a fome, a sede, com um “mamá” quentinho, nutridor e cheio de afeto é muito especial para um ser que esperou nove meses por isso.
Comunicação não verbal mãe-bebê
Os primeiros meses tendem a ser um pouco aflitivos, pois, mãe e bebê ainda estão em processo de adaptação, melhor dizendo, de um conhecendo (reconhecendo) ao outro. O porta-voz da comunicação será o choro, os movimentos corporais e as expressões faciais do bebê. Nessa situação, o papel da mamãe é entrar no mundo do bebê e encontrar a chave do enigma da linguagem do bebê, e, isso leva um tempinho.
Cada mãe vai aprendendo a decifrar os vários tipos de choro, intensidade e frequência, e, a pronta resposta da mãe, reduz em muito as ansiedades e angustias do bebê. Levar o bebê aos braços, acalentá-lo, aninhá-lo é um santo remédio – Cura tudo (ou quase tudo).
Perfil psicoemocional do bebê – As primeiras 12 semanas
Um bebê de quatro semanas (um mês) já andou um bom trajeto. Já não é mais tão flácido como era ao nascer. Ele está mais energético e amadurecido em relação ao seu nascimento – suas conexões neuronais estão se aprimorando dia a dia. Expressa intenso bem-estar após uma refeição quentinha, um banho relaxante, um aconchego familiar, e, quando satisfeito “dá de presente” um xixizinho e um cocozinho para a mamãe após as mamadas.
Também se assusta menos com os barulhos. Quando acordado fixa os olhinhos em algo que lhe chame a atenção, e, se aquieta quando é levado ao colo. Ele já percebe que a presença humana, no caso a mãe, faz toda a diferença e é puro prazer!
Ele é capaz de expressar suas exigências e os seus desejos por meio do choro e da linguagem de sinais (movimenta pernas e braços com desenvoltura, rapidez e graciosidade).
Os bebês dessa idade, adoram se entreter com a face humana, e, seus olhinhos são exercitados diariamente para introjetar o mundo da melhor forma possível.
A fome ainda é a principal causa do choro, porém, muitas vezes fica difícil entender se o bebê chora porque está acordado, ou, está acordado porque chora, é pura natureza filosófica, ou não?!
Os órgãos dos sentidos do bebê funcionam como um radar emocional, eles captam um universo de sentimentos e emoções da mãe, mesmo porque, os dois temporariamente serão um (mãe-bebê).
Se o bebê de quatro semanas sentia-se plenamente satisfeito em estar deitado de costas, o bebê de doze semanas evoluiu muito em relação a sua conquista espacial, e, consequentemente emocional, sua cabeçinha já pode ser mantida ereta, ele adora mudar de posição e interagir com as pessoas.
Provavelmente, o bebê dessa idade iniciou o sorriso social. Imita as “caretinhas” da mãe, interage prontamente com ela e com quem for simpático com ele. A face humana o estimula, o alegra e o entretêm por bons momentos.
O bebê chora para demonstrar desconforto, cansaço e sorri quando está satisfeito.
Associa ações: “se eu choro alguém vem me pegar” – ou seja, o bebê percebe que ele gera sentimentos de reação em sua mãe – Quando a mãe está em sintonia com seu bebê o sentimento de confiança começa a se desenvolver.
A comunicação pré-verbal está a mil. Caso ele sinta prazer com o gosto do leite, ele abre a boquinha, coloca a língua para fora e faz biquinho – do tipo “quero mais”, “me dá logo”.
As brincadeiras e os estímulos tornaram-se uma ocupação tão essencial como o sono para o seu desenvolvimento psicológico.
Nessa fase o pai tem um papel muito importante, sua presença o acalma e o anima para novas brincadeiras. As músicas estimulam seu ouvido e atuam como um carinho auditivo (não importa o ritmo, pode ser pagodinho, bossa-nova, rock, rock-pop, etc.).
Entre a 16a semana e a 24a semana
O bebê está desfrutando de um grande “up-grade”. Ele já é capaz de reconhecer a figura humana, lugares, objetos familiares, e, interage com muita desenvoltura em seu meio ambiente. O mundo é sentido e experienciado pela boca e pelas mãos. Analisa a forma dos objetos, sua textura, e, depois confirma levando os objetos a boca. Que delícia!
Sua expressão facial e o balbuciar pode denotar o que sente: cansaço, tristeza, alegria, surpresa e outros estados emocionais.
Conversa sozinho quando vai dormir, abraça ou solicita um objeto querido (fraldinha, paninho, ursinho, bichinho ou outros). Estes objetos proporcionam conforto e segurança ao bebê quando distante da mãe.
Exercita seu poder de chamar a atenção. Quando está entediado, cansado, sem a companhia de uma pessoa, ou, na mesma posição, resmunga ou põe-se a chorar.
Suas emoções são muito ricas. Quando um brinquedo é retirado de suas mãozinhas é capaz de expressar raiva e faz cara feia, biquinho e chora.
A coleção de sentimentos do bebê não para por aí, é capaz de demonstrar certa teimosia: grita e encosta o queixo no peito, para demonstrar insatisfação com algo que o desagradou, observa a expressão facial do adulto para checar seu comportamento e pronto atendimento às suas necessidades.
Sua comunicação está mais sofisticada. Sorri, balança as perninhas e estica as perninhas, quando chega a hora da alimentação. Resmunga, choraminga e se contorce quando não quer mais ficar no carrinho, bebê-conforto e no berço.
Entre a 28ª semana e o primeiro ano de vida
O bebê de 28 semanas gosta de ficar sentado na cadeira alta, observar e interagir com o mundo ao seu redor. Quer ver quem passa e quer acima de tudo, apoderar-se dos objetos e brinquedos que ele seja capaz de manusear, de levar à boca e de bater com eles. Não são necessários brinquedos caros. Quem gosta de sofisticação e tecnologia são os pais.
Os pais acreditam que se não oferecerem aos seus bebês brinquedos mirabolantes, seus bebês ficarão menos inteligentes e espertos. Besteira, o que os bebês mais gostam é de interagir com os brinquedos e as pessoas.
O bebê nessa fase já responde a um chamamento, virando a cabecinha em direção ao interlocutor. Adora ser ver no espelho e sorri para sua imagem projetada nele.
Adora perceber que as “coisas” vão e voltam. Por isso, gosta de jogar o brinquedinho no chão, manipulá-lo e jogá-lo novamente, e, associado a este movimento, cada vez que um adulto o apanha do chão ele sorri muito e se diverte!
A relação com a mamãe e com as pessoas próximas é muito estreita. Fica inseguro em relação às pessoas estranhas – procura se esquivar para se proteger da insegurança. Os pais não devem cobrar “educação” nessa hora! É a famosa ansiedade de separação. Paciência, tudo passa!
A cada semana o bebê está mais esperto. Já sabe diferenciar as crianças de adultos. Sua memória se desenvolve dia após dia. Lembra-se de pessoas que viu no dia anterior, adora brincar de “esconde / achou”. Por outro lado, não gosta de brincadeiras intempestivas ou de ser jogado para o alto. Isso o estressa muito, sabia?
É um período onde os dentinhos estão chegando. Alguns bebês ficam muito irritadiços e temperamentais, outros ficam mais retraídos e angustiados com o desconforto gengival. Não importa a resposta, mas um mordedor geladinho pode ajudar a aplacar o desconforto do bebê. Vamos lá colocar esses objetos maravilhosos no congelador!
Alguns bebês, ao desejarem alguma coisa podem se frustrar, pois, não sabem como pedir ou se comunicar. A mamãe deve ter paciência e dizer ao bebê, que o entende, e, que juntos vão procurar uma resposta para o mau humor. É a famosa tolerância 1000 materna.
Quando entediado, o bebê fica um pouco agressivo, quando não quer comer empurra o prato, cospe a papa, joga a colher no chão, e, ainda de quebra, pode abrir um berreiro.
Este é um excelente momento para os pais desencorajarem esse comportamento, introduzindo noções de limite e de tolerância: “eu entendo você, percebo que você está cansado e com sono”, “eu posso lhe entender melhor se você parar de fazer birra e jogar as coisas no chão”. Com estas atitudes, a mãe está ajudando seu filhinho a desenvolver algumas competências emocionais.
Ele vai entendendo que “falar” o que sente é melhor que reagir. Próximo dos sete ou oito meses de vida do bebê, sua motricidade está a mil. Ele está muito desenvolto, esperto e gosta muito de explorar o ambiente, de buscar o que deseja. Rastejar, engatinhar e iniciar os primeiros passinhos o deixa com muita vontade de seguir em frente, mas sempre volta para perto da mãe para se abastecer de afeto e segurança.
Finalmente
Os primeiros doze meses do bebê são fundamentais para seu desenvolvimento emocional e sua saúde mental. A presença amorosa e devotada da mamãe ajuda o bebê a se sentir amparado e protegido. Ele vai descobrindo o universo ao seu redor paulatinamente, de maneira graciosa, com um colorido muito especial.
Assim como a mãe, o pai também auxilia nesse intenso processo, protegendo a mãe, favorecendo que ela esteja disponível de corpo e alma para seu filho. Interage com seu bebê e expressa seu carinho por ele, transmitindo afetos, sentimentos positivos e muita proteção.
A família é um bálsamo para o exercício da amorosidade.
É um verdadeiro encontro do passado, presente e futuro. É o continente das gerações onde seus integrantes têm a chance de aprenderem, trocarem experiências, depositarem suas ansiedades, e, ao mesmo tempo podem dissipá-las, atenuá-las, sempre que possível dar muitas risadas e celebrar as novas vidas que estão chegando!
matéria publicada no Portal de CHRIS FLORES
http://www.chrisflores.net/educacao/4/materia/2272/ate-completar-um-ano.html