Levar em conta as emoções de nossos filhos não é uma tarefa simples, pois depende de nossa interpretação e de como as crianças as expressam.
Entender que as crianças são seres emocionais e que sentem o mundo de uma maneira peculiar é muito importante para os pais. Mas será que os pais estão preparados para encarar as emoções de seus filhos?
Não estou falando apenas da tristeza por não ter o brinquedo desejado ou da alegria demonstrada por dar um belo mergulho na piscina de bolinhas.
Estou me referindo a pais que são conscientes de suas próprias emoções e como tal estão preparados para lidar e orientar os filhos quanto as emoções e sentimentos.
Tenho observado em meus atendimentos com famílias, que crianças que têm preparo emocional são física e emocionalmente mais saudáveis e exibem bom desempenho escolar e social. São crianças mais abertas ao novo, mais dispostas a fazer amigos e raramente os pais são chamados na escola por mau comportamento.
Quanto mais estudo sobre a relação: emoções e família, mais evidências encontro sobre expressão emocional, saúde mental e flexibilidade de pensamento.
Não estou afirmando que as crianças preparadas emocionalmente por seus pais não têm momentos de chatice e “birra”. Afinal, nós estamos falando de crianças e não de “entidades” que beiram a perfeição.
As crianças emocionalmente preparadas também vivenciam momentos de tristeza, irritabilidade, medo, como outras crianças, principalmente em situações difíceis; mas apresentam a capacidade de retomar a esperança de maneira mais rápida. Elas conseguem se acalmar, reduzir a ansiedade e buscar novas saídas de maneira mais eficaz que as crianças sem preparo emocional – Segundo um pesquisador americano da área de família – Daniel Goleman, essas crianças seriam mais resilientes e felizes.
Conclusão inicial, para ser feliz não termos que ter coisas e sim saber como lidar com as coisas!
O Dr. Goleman observou em seus estudos com família, que as crianças preparadas emocionalmente eram mais protegidas contra os efeitos deletérios de uma crise conjugal de seus pais. Se pensarmos por esse ângulo e mediante as relações líquidas que temos observado nos últimos tempos, as separações ou os divórcios não são exceções e as crianças estão no meio dessa conflitiva.
As crianças que estão vivenciando processos de separação, podem exibir mau comportamento na escola, fracasso escolar, rejeição dos colegas da escola, depressão, doenças psicossomáticas e até mesmo comportamentos anti-sociais. Não estou afirmando que esses sintomas só aparecem em crianças cujos pais estão se separando, tanto é que podemos observar alteração comportamental e doenças psicossomáticas em crianças onde a separação dos pais não está ocorrendo. Porém, os lares dessas crianças de alguma forma não estão sendo geridos com competência e assertividade. Algo está fora do eixo.
Os filhos que assistem seus pais brigando com frequência, onde a violência corre solta (física e/ou emocional), apresentam maior dificuldade em fazer amizade, são mais tímidas e introvertidas, são menos expressivas e espontâneas.
Por outro lado, quando os pais são verdadeiros treinadores de emoções, situações conflitivas podem ocorrer (desavenças, separações temporárias, divórcio) que mesmo em momentos difíceis, as crianças são mais resilientes e estão mais protegidas dos efeitos deletérios de um rompimento do casal. Novamente, quero deixar claro que não são crianças imunes ao sofrimento, mas são mais competentes emocionalmente do que as crianças que não têm pais emocionalmente treinadores.
Os pais treinadores emocionais oferecem aos seus filhos a primeira defesa contra o trauma emocional do divórcio, perdas outras e as angústias específica de cada faixa etária.
O pai que leva em conta as emoções de seu filho e tenta ajuda-lo a resolver os problemas (e não resolver por ele), os filhos respondem melhor as atividades escolares e nas relações interpessoais. De maneira mais simples e direta podemos inferir que estamos ajudando nossos filhos a potencializar as múltiplas inteligências. Em contrapartida, os pais que relegam as emoções de seus filhos ao segundo plano, que são muito críticos, rudes e exigentes, podem prejudica-los.
As crianças podem se tornar mais briguentas no ambiente social e acadêmico, apresentarem dificuldade em manter boas amizades e são pouco colaborativos nas relações interpessoais.
Outra vez, não quero passar a ideia que é melhor ter um pai qualquer do que nenhum. Um pai emocionalmente presente e atento é benéfico para seu filho, porém, um pai frio, rude e cruel pode ser extremamente deletério na vida da criança.
Conclusão, pais treinadores de emoções podem ajudar seus filhos a tornarem-se adultos saudáveis emocionalmente e com maiores chances de obterem sucesso na vida (serem mais felizes, ganharem mais dinheiro, encontrar boas parcerias e se relacionarem com mais assertividade com as outras pessoas).
Treinar as crianças para lidar com as emoções não é a cura ou o remédio para todos os males e muito menos para debelar crises conjugais. Que a família não vai mais brigar, que magicamente não haverá mais agressões de nenhuma linhagem e que num passe de mágica as emoções tidas como “negativas” vão desaparecer. Isso seria propaganda enganosa e penso até em crime passível de punição pela lei!
Precisamos lembrar que estamos falando de pessoas e como pessoas temos opiniões diferentes. Podemos divergir de assuntos, termos ideias contraditórias e conflitos particulares em cada família. O que estou querendo demonstrar é que o treinamento emocional pode nos aproximar mais enquanto pessoas, nos ajudar a nos colocarmos no lugar do outro e percebemos que não estamos nos afastando das crianças e sim nos colocando ao lado delas.
Conclusão, estar mais próximo dos filhos é criar mecanismos que favorecem a intimidade amorosa, o respeito familiar e a reciprocidade relacional.
Praticar os conceitos do treinamento emocional em família não significa paz e tranquilidade eterna. Muitas vezes, para lidar com situações muito difíceis dentro do seio familiar, precisamos lançar mão de um profissional especializado. Um terapeuta que nos ajude a dirigir o barco em águas cheias de tormentas.
Treinar os filhos, emocionalmente falando, não é antagônico com a disciplina das crianças. Pelo contrário, pais próximos de seus filhos têm maior chance de educar e disciplinar as crianças sem violência física e psicológica. Os pais próximos de seus filhos se sentem confiantes para serem firmes quando é preciso, advertir quando a criança está fazendo algo inadequado e impor regras e limites claros sempre que necessário. Os pais emocionalmente próximos de seus filhos não se deixam abater pela culpa ou pelo ressentimento.
O elo emocional familiar é forte e os membros da família se sentem respeitados, ouvidos e participantes ativos da relação. Motivados para seguirem em frente rumo a novos desafios.
Claro que como tudo na vida exige determinação, paciência e repetição. Se você percebe que seu filho tem boa aptidão para tocar um instrumento musical, você se empenha em comprar o instrumento, em leva-lo para as aulas de música, estar presente nas audições e etc. Se usarmos esse exemplo como base, toda vez que o filho tiver que lidar com tensões não podemos dar as costas e dizer “se vira!” Temos que ouvir as demandas da criança e oferecer suporte.
Conclusão final, não existe melhores pessoas para treinarem emocionalmente as crianças do que os pais. Afinal, são eles quem mais conhecem seus filhos e norteiam as regras. Conflitivas vão acontecer e pode ser desde uma briga entre os irmãos por um brinquedo, o colega que zomba dos óculos de grau de seu filho na escola, a adolescente que vai a sua primeira baladinha e não sabe que roupa usar, o bebê que iniciou o desfralde e está urinando fora do peniquinho, entre outras.
Assim, prepare seu uniforme de treinador e assuma o papel de treinador emocional de seus filhos!