Quando pensamos como era a vida das mulheres na década de 70 ou 80, lembramos que grande parte delas ficava em casa cuidando e administrando o lar (e sem nenhum desmérito).
As que optavam em sair para trabalhar fora, se sentiam banhadas pela culpa do “abandono do lar”, acreditavam que seus filhos eram carentes da figura materna, bem como, que as crianças poderiam desenvolver comportamentos diferentes daqueles filhos que eram contemplados pela presença constante de suas mães.
As décadas passaram e na atualidade, a maioria das mulheres exerce fora de casa alguma atividade remunerada. O mundo moderno e globalizado empurrou a mulher para dividir, junto com seu companheiro, as responsabilidades do orçamento doméstico. Não é só isso, a mulher conquistou seu lugar no mundo como sujeito de direito e não só de deveres, como era num passado mais remoto. Hoje, profissão e trabalho, fazem parte do rol de realizações da mulher e mãe.
Se antigamente, ter uma mãe que trabalhava fora, era algo raro e pouco apreciado pela sociedade, hoje é o contrário, os filhos nascem sabendo, que mãe e pai trabalham fora, somam seus salários, para dar a todos uma vida mais confortável. Todavia, a culpa continua a ocupar uma nuvem negra e densa sobre a cabeça dessas mulheres-mães, sejam elas bem sucedidas ou não.
Por que será, que tantas mães ainda se sentem tão culpadas?
Penso que muito tem a ver com o que um psicanalista inglês salientava – o Dr. Winnicott: as mães no final da gestação vão se ensimesmando e se identificando com seus bebês. Ao nascer, o bebê e sua mãe estabelecem uma relação de paixão, e, essa relação cheia de sentimento, proporcionará ao bebê um caldo repleto de nutrientes amorosos, que facilitará o desenvolvimento neuropsicobiológico da criança.
Somado a esses afetos, a maioria das mães conta com a licença maternidade, de pelo menos quatro meses, o que, no final das contas, só favorece a proximidade quase que sem nenhum espacinho entre a mãe e seu bebê – é o amor mais puro e verdadeiro que pode existir.
Acredito que a partir desta convivência tão íntima e necessária, que o sentimento de culpa tem suas raízes. Parece que só de pensar em deixar o bebê, a mãe perde uma parte dela. Não quero afirmar com isso, que sentimentos contraditórios não surjam na mente da mãe, pois, ora, ela deseja intensamente ficar ao lado de seu filhinho, ora, ela deseja retornar as suas atividades produtivas e intelectuais – são dúvidas cruéis (ficar ou não ficar, eis a terrível questão).
A culpa pode crescer um pouco mais, quando o irmão mais velho comenta que “é tão bom ter a mamãe em casa!” ou, ainda faz birra e chora antes de ir para a escola. Parece que a mãe vive um verdadeiro martírio. Não é raro mães não se despedirem do filho na hora de deixá-los na escola – fogem da raia como se fossem verdadeiras criminosas. Eu sei que é doloroso, mas este tipo de atitude só piora a situação. O filho se sente enganado por aquela em quem ele mais confia.
Se você pensa que as coisas param por ai, está enganada. A mãe, por se sentir em débito com a criança, procura de todas as formas compensar a separação, com mimos e oferendas para o senhor “Reizinho”. Não faz interdições e não estabelece limites. Meu Deus, é um prato cheio para a desordem familiar. Que culpa danada é essa?
A literatura, na área dos estudos da emoção e do sentimento, tem mostrado que mães produtivas e felizes com sua profissão servem de bons exemplos para seus filhos. É como se eles introjetassem um modelo de trabalho dignificante e bacana para ser seguido.
Calma, tudo tem que ter bom senso. Trabalhar, e, ter uma profissão é uma coisa. Porém, tão importante quanto realizar-se como pessoa é dedicar um tempo especial aos filhos. Do contrário é abandono e terceirização. Nenhum berçário, ou, préescola multimídia, ou, bilíngüe, consegue substituir, em tempo integral, os pais. Lembrar que o afastamento mãe-criança deve ser gradual e a verdade impera sobre qualquer dúvida: mamãe vai trabalhar, mas voltará a tempo de lhe pegar na escola, ou, voltará antes do dia escurecer, etc.
Um argumento infalível para a criança é o tom que a mãe pode dar ao se afastar dela. Você pode usar este argumento: “de início nós éramos muito próximos, você estava dentro da minha barriga, e, agora estamos unidos pelo amor, que um sente pelo outro, e, que nada pode modificar isso. Esse amor vai a onde estivermos – é flexível e permanece inteiro para sempre.
O que estou tentando passar as mães é que sucesso profissional não é incompatível com a maternidade. Sabemos o quanto é difícil achar o tempero certo entre a função maternal e a profissional. Gostar de trabalhar e desempenhar uma carreira promissora não é motivo para sentir culpa. Ao mesmo tempo, que somos profissionais, podemos ser mães, esposas, filhas, e, quantos papeis pudermos vivenciar livre de culpas descabíveis.