É mais comum do que imaginamos, a frequência de nascimentos precoces em todo o mundo. Anualmente nascem vinte milhões de crianças com menos de dois quilos e meio.
Um terço delas morrem antes de completar um ano de vida.
Como alternativa e forma de agregar o melhor cuidado para o Recém-nascido de baixo peso foi proposto o uso do método mãe-canguru – ou seja, a mamãe grudadinha a sua cria.
Não querendo desmerecer a tecnologia no emprego de equipamentos e mão de obra especializada em salvar vidas, gostaria neste artigo, de comentar sobre a importância da conexão mãe-bebê prematuro no método “canguru”.
No método canguru o vínculo mãe-bebê prematuro é reforçado minuto a minuto, pois ambos estão conectados pele a pele. Estão trocando afeto, calor e toques. O bebê permanece somente de fraldas, encostadinho na pele de sua mãe (tórax e mamas) como um selo.
Ao olharmos a cena, parece uma mãe-canguru acolhendo seu bebezinho que a natureza, por algum motivo, trouxe-o precocemente ao mundo aéreo.
O método canguru propicia o desenvolvimento de um contato íntimo e duradouro; de um desenvolver contínuo de responsabilidade da mãe pela manutenção da vida de sua cria e pelo apego afetuoso e delicado entre duas pessoas sedentas pela existência da continuidade humana.
Será que o apego também alimenta?
Assim como muitos animais, o ser humano recém-nascido vivencia o “impriting”, ou seja, uma tendência em se ligar a outra pessoa e dela receber tudo que precisa para viver: amor, cuidados e alimento.
O bebê de maneira inata “seduz” seu objeto de amor por meio da comunicação não verbal: choro, contato visual, agarrar-se, aconchegar-se e sorrir. Portanto, a mãe no método canguru está em constante retroalimentação do apego. Ambos vão lentamente estabelecendo uma base segura – um relacionamento pautado na confiança.
O bebezinho aconchegado a sua mãe percebe que pode contar com seu apoio e proteção e que ela está disponível e muito acessível a ele.
Quando o bebê se sente seguramente apegado a sua mãe ele desenvolve um contínuo sentimento especial de segurança e conforto e pode então desfrutar de “sua base” e ir lentamente explorando o mundo a sua volta.
A figura de apego não está restrita a mãe, embora seja ela a pessoa mais indicada: seu cheiro, seu calor e seu leite morno proporcionam ao bebezinho nutrientes fundamentais para seu crescimento emocional e físico. O sistema canguru pode contar com o reforço de outros entes queridos além da mãe: papai, vovós, tias e outros que se dispuserem a manutenção de uma vida em desenvolvimento.
Assim, quanto mais experiências de interação humana o bebê tiver com uma pessoa, maior será suas chances de apego e desenvolvimento emocional e físico. O comportamento de apego se mantém até o final do terceiro ano de idade da criança na base da reciprocidade.
Portanto, quanto mais a mãe, no método canguru, demonstrar interesse, disponibilidade e segurança ao seu bebê maior será a probabilidade dessa criança se desenvolver emocionalmente de maneira positiva.
A disponibilidade afetiva da mãe associada aos cuidados da equipe de saúde, demonstra que o método possibilita o estreitamento do vínculo mãe-bebê, estimula e reforça a autonomia e segurança dos cuidados da mãe em relação ao seu filho, reduz o tempo de choro do bebê, as sensações dolorosas, melhora o tempo de sono e promove tranquilidade do bebê, entre outros.
A mãe por sua vez, sente-se ativa e necessária no processo de saúde de seu filho.
É o amor e a técnica falando mais alto no sentido de assegurar o afeto, o carinho e o desenvolvimento saudável ao bebê ainda prematuro.
Regiane Glashan
Terapeuta familiar, casal, individual e mãe-bebê
Rebeca Batista da Silva
Enfermeira intensivista
Coren-SP 171720