Os pais como treinadores emocionais de seus filhos tem sido assunto de nossos últimos posts e parece ter chamado muita atenção.
Falar sobre emoções e senti-las não é vergonha ou sinal de fraqueza. Pelo contrário, pode ser a chave para construirmos um mundo melhor para nossos filhos. Este último mês venho falando mais sobre a paternidade responsável e o quanto ela pode afetar positivamente a família como um todo, e, nesse contexto gostaria de abrir espaço para retomar os tipos de pais e as características que positivas dos pais que exercem a função de Treinadores emocionais de seus filhos, ou seja, os pais que entendem seus filhos de corpo e alma.
Existem pais de todas as formas, com atitudes peculiares e com consequências comportamentais e afetivas diversas sobre seus filhos. Todavia, eu tenho estudado com mais propriedade os pais que exercem a função de acolher e preparar os filhos emocionalmente para o futuro – esses pais farão toda a diferença na vida afetiva e psicológica de seus filhos.
Pais que se apropriam da função de Preparadores Emocionais de seus filhos são incapazes de menosprezar ou ridicularizar os filhos quando eles expressam qualquer tipo de emoção, seja ela de alegria, medo ou de raiva. A punição pela expressão do sentimento também passa longe desses pais. Numa crise de birra, seriam incapazes de abandonar emocionalmente seus filhos. Pelo contrário, os pais “Treinadores” acolheriam a criança desregulada emocionalmente e juntos buscariam soluções assertivas para a crise.
Estudos efetuados pelo psicólogo John Gottman e sua equipe sobre inteligência emocional, tem demonstrado que os pais treinadores são conscientes de suas emoções e também das pessoas queridas que os cercam. Não desqualificam as pessoas ao seu redor por se sentirem tristes ou com raiva e enxergam formas de crescimento frente a qualquer tipo de emoção. O segredo desses pais é entrar em sintonia com seus filhos (e demais pessoas significativas), aprender sobre o que cada um sente, como sente e por que sente e buscar sempre formas de melhorar o relacionamento. Isso não é magia! Isso é o que chamamos de ressonância emocional. O que toca em você toca em mim e eu consigo, de alguma maneira, transformar e acolher, sem me destruir ou revidar.
Os pais Treinadores estão longe de serem permissivos, pelo contrário, estão acostumados a colocar limites e regras claras e se sentem bem confortáveis com isso. São gentis e firmes ao mesmo tempo! Esses pais não se abalam para proteger seus filhos de situações emocionais intensas, pois, entendem que nesses momentos é que seus filhos mais precisam deles. São pais que lutaram e lutam para manter o apego seguro e o vínculo positivo.
Num Curso de Educação Parental, promovido por nós, tivemos a oportunidade de conhecer a Bete, que comentou que frente a uma crise de destempero de seu filho de 3 anos, ela costuma usar técnicas de distração e o ajudava a extravasar a raiva realizando atividades que gastassem energia, do tipo correr pelo quintal, pular cordas, rugir como leão ou até mesmo ir para o banho prolongado.
Lívia, mãe de uma garotinha de 7 anos, salientou que raramente elogia sua filha e sim a encoraja por seus esforços e determinação e que isso tem ajudado muito sua filha a perseverar e aumentar sua autoestima. Lívia seguiu nossas orientações e percebeu que sua filha tem lidado melhor com as frustrações e raramente desiste de algo mais elaborado que esteja fazendo – pode ir desde um quebra-cabeça até um exercício escolar.
Os pais que valorizam a finalidade das emoções em suas próprias vidas não têm medo de expressa-las na frente dos filhos e vice-versa. Nesse inter jogo emocional, pais e filhos se permitem acolher os afetos e usar a empatia a favor de todos. As crianças aprendem que compartilhar emoções fortes (tristeza, raiva, nojo, etc) pode deixar as pessoas mais intimas e unidas, ao invés de repeli-las!
Os pais Treinadores quando percebem que fizeram algo que magoaram ou feriram seus filhos, eles não se intimidam em pedir desculpas e procuram tirar lições daquela situação e entendem que erros são formas especiais de aprendizado – de como fazer melhor da próxima vez.
Treinadores entendem que uma vez que as regras são claras dentro da família, os maus comportamentos tendem a reduzir, não há necessidade de cobranças e sermões repetidos e que a criança terá a atenção dos pais sem usar de artimanhas ou atitudes desfavoráveis. Os pais Treinadores por estarem sintonizados emocionalmente com seus filhos os orientam desde cedo a autoregulação emocional.
Não há dúvida que o estilo parental Treinador Emocional permite o fortalecimento do vínculo familiar de maneira que todos os componentes da família estão receptivos uns para com os outros e todos estão conectados por uma corrente amorosa e de confiabilidade.
Nem tudo é perfeição contínua. Artur, pai de um menino de 9 anos, percebeu que seu filho estava mentindo sobre um assunto da escola. Perguntou sobre o assunto várias vezes e o menino sempre dizia que estava tudo bem. O pai não desistiu e após alguns dias conseguiu ouvir da criança que ele estava sendo motivo de comentários jocosos na escola devido sua orelha de abano. O pai entendeu que o filho precisou de um tempo para amadurecer o que estava sentindo para depois se sentir a vontade e comentar o fato com o pai. O importante foi o pai estar em sintonia empática com o filho.
Concluindo, os filhos quando se sentem conectados aos pais em reciprocidade amorosa trabalham como uma caixa de ressonância emocional. São crianças com melhor desempenho acadêmico, com boas habilidades socioemocionais, têm menos problemas de comportamento e são capazes de praticar e desenvolvera a autoregulação emocional.
E você, está preparado para lidar com os riscos e desafios do mundo junto com seu filho?