Muitas mulheres passam por momentos conturbados em suas vidas, quando deparam com a impossibilidade de realizar seu sonho tão esperado, o de ser mãe.
Algumas partirão para o ataque e se submeterão a inseminação artificial, a tratamentos hormonais e sei lá mais o que, que a tecnologia médica, dispõe nos dias atuais.Tudo é válido quando o sonho pode virar realidade!
Outras mulheres optarão pela adoção. Outras sentiram a maternidade como algo estranho, independente de terem tido um filho por vias naturais ou não. É de se esperar que conflitos apareçam frente a qualquer uma das opções. Mas o desejo de ser mãe se torna imperativo e as barreiras iniciais podem ser vencidas.
Após uma adoção, uma gravidez induzida ou natural não é infrequente a recém mãe ter algum grau de dificuldade em se vincular ao seu bebê. Ela desempenha suas tarefas maternas com todo seu afinco: alimenta o seu filhinho, troca-lhe as fraldas, coloca-o para dormir e etc. Apesar de todos os cuidados oferecidos, esta “novata” ainda não sentiu o despertar da paixão em seu coração – ou seja, a dificuldade de vinculação mãe-bebê.
O que fazer quando isso acontece?
Fingir que não está acontecendo nada, delegar os cuidados da criança a uma pessoa teoricamente mais competente ou procurar ajuda? Penso que a procura por ajuda seja a maneira mais correta de resolver o impasse e a forma mais sincera de reconhecer que alguém pode se dispor a mostrar um novo caminho rumo a interação e melhora da relação afetiva. Para tanto podemos contar com uma terapeuta de bebês ou também conhecida por terapeuta mãe-bebê ou ainda terapeuta pais-bebê. Não estou aqui querendo afirmar que a terapeuta de bebes é para ser utilizada a todas as famílias, mas sim para casos bem direcionados.
Ela é indicada para casos onde as famílias apresentam dificuldades em se relacionar com seu recém chegado, produzindo sofrimento não só na díade mãe-bebê, mas também com repercussões de tristeza e dificuldades vinculares na família como um todo.
Os sintomas de desajuste vincular, pode englobar: os distúrbios de sono, alimentação e de afetos na criança e sentimentos de menos valia e baixa autoestima na mãe. Não é infrequente após a vinda do bebê ao lar, a mãe sentir-se insegura, ter pensamentos e sentimentos ambivalentes pelo bebê e reviver sua própria história (de bebê e de criança) neste período.
A fase de adaptação que poderia transcorrer sem muitos atropelos, se transforma em uma enorme nuvem negra com muita chuva, relâmpagos e raios. Dependendo da resposta emocional da mãe, ela pode acabar sofrendo em sua própria solidão os sentimentos de desafeto e desamparo, acompanhado de forte sentimento de incapacidade de cuidar e acolher seu filhinho. Muitos desses afetos estão relacionados com o desejo de um filho idealizado que ao chegar em casa não corresponde ao ideal dos sonhos maternos e ai a dura realidade se interpõe as fantasias iniciais de ter um filho. Filho este real e para sempre.
Dependendo da rede de apoio dessa mulher, ela pode se sair muito bem e superar a fase conturbada. Poderá contar com o esposo, parentes e amigos próximos que lhe dará continência e afeto para seguir em frente na jornada de ser mãe. Entretanto, essa mesma mulher pode evoluir para uma história clínica mais severa e um quadro de depressão pós-parto (DPP) pode se instalar.
A DPP não é tão rara e pode incidir em 10 a 15% das puérperas. Exibe sintomas acentuados de tristeza, insônia, alteração do apetite, rejeição ao bebê, falta de vontade e iniciativa para fazer as coisas. A mulher, quando tem um bebê, ela se fragiliza de uma maneira natural e esperada, e é esta fragilização, normal e esperada que a aproxima de seu bebê.
Entretanto, em algumas mulheres essa regressão saudável não acontece e a intercomunicação mãe-bebê se torna deficitária e prejudicada. Não nego que a vinda de uma nova pessoinha ao lar requer uma adaptação e maior flexibilidade do sistema familiar e da própria conjugalidade.
A mulher acaba dormindo menos, os afazeres da casa e o conflito com o lado mulher ressurgem como fantasmas que assombram e parece que não querem ir embora. A vantagem de tudo isso, é que é uma fase passageira e logo as coisas entram no ritmo esperado.
Por outro lado, quando isso não caminha de maneira suave ou quando a crise no novo ciclo de vida se acentua, é bom saber que existe um profissional da área emocional, que pode nos ajudar e partilhar um caminho mais suave e lentamente tornar reparador e funcional as relações, dentro da nova realidade estabelecida – a chegada do bebê ao lar.