A relação mãe – bebê se inicia com uma forte necessidade de contato entre ambas as partes.
Progressivamente, tanto o bebê quanto a mãe vão ampliando suas relações – o pai por exemplo entra em jogo e essa díade inicial vai sendo rompida.
Com a maturação, o bebê começará a ter condições de substituir a mãe concreta pela capacidade de recriá-la em suas fantasias e brincadeiras , desde que, tenha sido possível internalizá-la, ou seja, guardar dentro de seu universo mental uma imagem da mãe que possa ser relembrada, quando esta não estiver concretamente presente.
O sentimento do bebê em relação a seus pais é um apego, na medida em que ele sente nos pais a base segura para explorar e conhecer o mundo à sua volta. O sentimento dos pais em relação ao filho é mais corretamente descrito por vínculo afetivo, já que os pais não experimentam um aumento em seu senso de segurança na presença do filho, e tampouco o filho tem para os pais a característica de base segura.
Segundo Winnicott, a infância é um processo gradual de formação de crenças em pessoas e coisas, e esse período é elaborado aos poucos, através de experiências satisfatórias onde algumas necessidades são atendidas e justificadas, e de experiências ruins, onde a raiva, o ódio e a dúvida também podem surgir.
Sendo assim, a criança tem que encontrar um lugar onde possa agir e a partir do qual possa construir um método pessoal para conviver com seus impulsos destrutivos. Ele diz também que uma criança normal emprega os recursos que a natureza lhe ofereceu para defender-se contra a angústia e os conflitos que não tolera, enquanto que uma criança não normal revela-se na limitação e na rigidez dessa capacidade.
A maioria das pesquisas sobre apego e vínculo afetivo concentram-se na primeira infância e nas primeiras relações mãe-filho.Brazelton, pediatra português, , em “A importância do apego no processo de desenvolvimento”, descreve o vínculo afetivo entre pais e filhos como um processo contínuo que se inicia na gestação e vai se formando na medida em que as interações vão ocorrendo.
Com o desenvolvimento das capacidades de locomoção, as crianças vão aos poucos distanciando-se da mãe, voltando sempre a procurá-la quando algo novo acontece no ambiente, e retomando suas atividades de exploração quando novamente sentem-se tranquilas.
O vínculo entre mãe e filho é a fonte de onde irão provir, depois, todos os futuros vínculos que se estabelecerão pela criança e que constituirão a relação a ser formada durante o curso de vida da criança. Para toda a vida, a força e a qualidade deste laço influirá sobre a qualidade de todos os futuros vínculos que serão estabelecidos com as outras pessoas de seu convívio.
O sentimento e o comportamento da mãe em relação a seu bebê são também profundamente influenciados por suas experiências pessoais prévias, especialmente as que teve, e talvez ainda esteja tendo, com seus próprios pais. É este padrão de relacionamento parental que dará origem à forma como ambos os pais irão vincular-se ao filho, provendo ou não suas necessidades físicas e emocionais.
Nos primeiros estágios de desenvolvimento, uma ajuda contínua que em sua maior parte venha de uma só pessoa, parece ser essencial para que o desenvolvimento tenha sucesso. Neste contexto, a mãe seria a pessoa mais adequada para exercer esse papel, já que nenhuma outra mulher está tão pronta a se dedicar e entender as reais necessidades do bebê, tanto físicas quanto emocionais. Desde que o bebê nasce, a mãe procura estabelecer com o filho um modelo de comunicação, no qual busca compreender suas sinalizações.
Supõe-se que a falta de um vínculo significativo na primeira infância comprometerá os futuros relacionamentos desta criança, uma vez que na falta deste não terá como internalizar uma experiência gratificante e repetir o padrão satisfatório aprendido com outros indivíduos.
Klein, psicoterapeuta austríaca não médica e não psicóloga “A formação do vínculo afetivo: A questão do apego”, ao falar do bebê e suas emoções, diz que o primeiro objeto de amor e ódio do bebê é sua mãe, ou seja, é ao mesmo tempo desejado e odiado com toda a intensidade. No início, ele ama a mãe assim que ela satisfaz suas necessidades de alimentação, que alivia suas sensações de fome e lhe oferece o prazer sensual que experimenta quando sua boca é estimulada pelo sugar do seio. Essa “gratificação” faz parte da sexualidade da criança, é na realidade sua expressão inicial.
Porém, quando o bebê sente fome e seus desejos não são gratificados, ou quando sente dor ou desconforto físico, então toda a situação subitamente se altera. Nele surgem sentimentos de ódio e ele se vê dominado pelos impulsos de destruir a pessoa mesma que é objeto de todos os seus desejos e que sua mente está ligada a tudo o que ele experimenta – seja de bom ou de mau. O meio imediato e primário para aliviar este bebê desses estados dolorosos de fome, ódio, tensão e medo é a satisfação de seus desejos pela mãe.
Este, para quem a mãe é antes de tudo apenas um objeto que satisfaz a todos os seus desejos, começa a corresponder a essas gratificações e aos seus cuidados por meio de crescentes sentimentos de amor para com ela como pessoa. Mas este primeiro amor já está perturbado em suas raízes por impulsos destrutivos. Amor e ódio lutam entre si na mente do bebê; e essa luta persiste, até certo ponto, durante toda a vida, podendo tornar-se uma fonte de perigo nos relacionamentos humanos.
O apego aparece como um dos aspectos constituintes da personalidade do indivíduo, que é influenciado por fatores como as características da mãe, o temperamento da criança e o meio social em que vive a dupla.
O comportamento de apego apresenta três características distintas e universais:
- – busca constante de proximidade com seu objeto de ligação, podendo tolerar afastamentos temporários;
– ·estabelecimento de maior ou menor segurança, segundo o padrão de confiabilidade e previsibilidade do objeto; e
- – reação de protesto pela separação ou perda e a consequente busca de recuperação da figura de apego.
Portanto, os vínculos estabelecidos no início da vidinha do bebê influenciarão profundamente sua forma de ver e de lidar com o mundo.