Existem casais, que por mais que tentem não se encaixam. Reclamam um do outro, apontam defeitos, desrespeitam as menores regras de etiqueta de casal, mas mesmo assim, permanecem juntos.
O que será que faz com que essas pessoas permaneçam juntas. Não estão congruentes em quase nada, um desconfia da sinceridade do outro, não conseguem estabelecer planos comuns, pois, um sabota o outro, mas mesmo assim permanecem juntas. Quem está de fora até fica confuso em quem manda em quem.
Provavelmente é o medo de ficarem sozinhas!
Medo de reviver alguma forma de abandono ou desamor do passado, medo de serem esquecidas e não poderem confiar em si mesmas, ou, temor em “tomar conta” da própria vida. Pessoas que toleram viver assim possuem um pezinho na baixa autoestima, e outro, no mando e desmando do companheiro (a).
Os indivíduos que toleram relações de uma mão apresentam não só o medo de ficarem sozinhas, mas também, o medo de ficarem à própria sorte. Preferem estar na companhia de alguém, que tome as decisões por ela, que definam seu destino, seus gostos e suas preferências.
São pessoas que entregam suas necessidades ao outro e o outro que as interprete da melhor forma possível. Falta coragem e iniciativa para romperem com o ciclo vicioso da subordinação. Não acreditam em seu potencial, são imaturas e preferem confiar nas decisões do outro, do que nas suas próprias escolhas.
Não é raro os sujeitos que vivem dessa maneira, afirmarem que seu parceiro é até uma boa pessoa, que possui qualidades e que é melhor viver com ele do que sem ele.
Com o passar do tempo, essas pessoas tornam-se tão solitárias, com pouca individualidade, que as fazem se sentir confusas quanto a sua identidade e quem são de verdade. Parece que estou exagerando, mas isso acontece com mais frequência do que imaginamos.
Alguns casais relacionam-se dessa maneira pela vida toda, um se submete ao outro. Num primeiro olhar parece que um dos parceiros está no comando, porém, em seguida percebe-se que na relação não existe diferenciação, ambos estão misturados num jogo de desamor e desamparo. Afinal quem pode ser feliz sabendo que o outro é subjulgado?
É uma relação de pouca amorosidade e de pouca reciprocidade. Ora um é o algoz, ora o outro é a vítima, e, assim os papeis podem até se inverter.
Casais que vivem dessa maneira não aprenderam a negociar, trabalhar juntos para resolverem os conflitos, e, muito menos desfrutar de uma vida partilhada.
Quem vive conduzido, mantém uma vida baseada na expectativa do outro, é influenciado a tomar decisões baseadas na conveniência alheia, e, raramente defende seus pontos de vista. Numa relação baseada no “ruim com ele pior sem ele”, o casal não aprende a desenvolver ferramentas adaptativas para criarem, juntos, formas de superarem as dificuldades e de desfrutarem dos acertos e dos desejos em comum.
Numa relação desse tipo, engana-se, quem pensa que o parceiro autoritário desfruta das regalias do poder. Ambos empobrecem e se iludem, a vida se torna monótona e sem graça!
Sair do esquema “ruim com ele pior sem ele” pode gerar inseguranças, sensação de vazio, de temor do lado sombrio da relação, e, de desconfiança do futuro. É se perguntar diariamente se será suficientemente capaz de dar conta da própria vida.
Será que tem saída?
Será que dá para mudar a crença do “ruim com ele pior sem ele”?
Como terapeuta acredito que sim!
É preciso fortalecer o “eu” (ego), ter a motivação para procurar ajuda e desenvolver a parte de si próprio, que ficou aterrorizado e atrofiado por anos de convívio com um parceiro autoritário.