A vida de um casal não é uma fábula com final previsível.
Requer muitas atividades, que vão além daquelas esperadas como dividir o mesmo teto.
Significa administração da casa, contas a pagar, levar o cachorro para passear, o gato ao veterinário, pegar a hora do “rush”, para ir ao trabalho, dar conta das tarefas domésticas, atender e resolver obrigações e compromissos diversos, consultar o medico, e, outras obrigações que podem desgastar nosso corpo e nossa reserva de energia.
Casamos com o ideal de juntar as escovas (de dente, de cabelo, de roupa) e dividir o tempo em comum para nos sentirmos mais acolhidos e protegidos, mas quando abrimos os olhos estamos atolados em obrigações que não esperávamos. Seria isso o mundo adulto?
Num piscar de olhos percebemos que o que antes começava o dia com “Bom trabalho – eu te amo!” passa para “O que teremos para o jantar”?
Será que temos que viver assim?
Alguns casais acabam se perdendo nas obrigações, nas listas de afazeres e deixam de escutar um ao outro. Deixam de escutar a voz, a pele, o coração, a imaginação e a generosidade. Acreditem, todas essas palavras têm voz e ressoam em nosso corpo e em nossa mente.
Quando deixamos de escutar a voz, que vem de dentro de nossa alma compartilhada, nos tornamos entediados e pouco colaborativo um com o outro, passamos a destacar somente o que precisa ser feito e deixamos de lado o porque de nossa real motivação para o casamento.
Olhamos no espelho e dizemos para nós mesmos, que gostávamos mais do nosso eu anterior, que ele era mais doce e aparentemente mais realizado e feliz, e, que havia encanto e mágica em aguardar pelo momento do Sim.
Certa manhã, atendi uma jovem senhora, que dizia se sentir muito incomodada, quando olhava um casal apaixonado na rua, que seu desejo era alertá-los para a passagem do tempo. Ao mesmo tempo ela referia inveja por ver amor, desejo e cumplicidade. Que por mais que não quisesse, estava sempre comparando seu casamento com o do outro.
Ao mesmo tempo, a referida senhora, comentou que estava de “saco cheio”, em ler livros de autoajuda sobre manutenção do casamento, ou, como despertar seu casamento para a felicidade. Nada do que era proposto nos capítulos fazia sentido para ela. As frases sempre iniciavam com “você tem que…”.
Relatou ainda que ultimamente tem sentido muito prazer em olhar o mundo ao seu redor e reparar que existem coisas bonitas, mas que ao mesmo tempo se sentia controversa. Como posso admirar o belo, se meu casamento está quase aos pedaços. Está parecendo um mosaico sem forma, apenas com peças lado a lado.
Perguntei a jovem senhora o que seu marido havia despertado nela ao se conhecerem. Prontamente, ela me respondeu: alegria pela vida, senso de responsabilidade, gentilezas no dia a dia, vontade de vencer na vida, aparência física, intimidade relacional e desejo em ter uma família.
Ok, disso tudo sobrou o que?
Ela ficou me olhando, parecia que seus olhos tinham entrado num vazio, num limbo. Respirou fundo e respondeu: “acho que ainda existe muito do que lhe falei, mas não sei se existe espaço para mim em suas numerosas qualidades”. Pensando bem, talvez ele tenha mudado em algumas coisas, porem, eu mudei também.
Parece que esse suposto casal nunca conversou sobre o que esperavam da vida relacional. Que tipo de sonho cada parceiro sonhava e se eles estavam juntos nesse sonho.
No cotidiano do casamento é comum estarmos desatentos aos sentimentos do outro. Temos a facilidade em nos desconectar daquilo, que ao nosso ver não é essencial. Acabamos por nos envolver em sarcasmos, críticas, rancores e coisas nem sempre tão importantes.
Mas o que é realmente importante para manter a parceria?
Certa vez, li um artigo de um psicólogo e pesquisador de casais, John Gottman, que demonstrou, que uma das primeiras coisas a desaparecer no casamento é a educação ou a etiqueta relacional e posteriormente a comunicação efetiva.
Finalizei meu atendimento com a referida senhora, perguntando se ela estava disponível para sair de sua zona de conforto, de queixas, e, se permitir tentar conversar com seu parceiro e descobrir onde foi que eles se perderam um do outro.
Sabe qual foi a resposta?…