Em todas as culturas, a gravidez e o nascimento representam mais do que simples eventos biológicos, já que são integrantes da importante transição do status de mulher para mãe.
Modelos de atenção ao parto
Existem diversas formas ou modelos organizacionais de trazer o bebê ao mundo e assistir a gestante:
- Modelo médico: parto ocorre em ambiente hospitalar, sendo o profissional médico o responsável pela assistência (EUA, Irlanda, Brasil).
- Modelo natural: a mulher é considerada o foco das atenções e ele é encarado como um evento fisiológico normal que segue seu curso natural. Conta com uma equipe multiprofissional e as intervenções são mínimas (Holanda, Nova Zelandia, Escandinávia).
- Modelo humanizado: partos ocorrem em ambiente hospitalar, com participação de equipe multiprofissional e existe a hierarquização do cuidado (Inglaterra, Canadá, Alemanha, Japão).
A inclusão da gestação e do parto no domínio médico tem uma série de consequências, todas relacionadas à transformação da gestante numa paciente – semelhante a uma produção fabril, sem intercambio humanizado. O bebê é visto como produto principal e a mãe como produto secundário.
Os obstetras são ensinados que a causa direta do sucesso geral do processo de parto nos tempos modernos são os procedimentos médicos, e por isso esses profissionais resistem tanto a abandonar essas práticas padronizadas.
A possível ocorrência de complicações ou vivencias de não tão boas experiências reforçam a adesão dos profissionais a procedimentos e modelos tecnológicos, intervencionistas. Os obstetras acreditam que o corpo feminino é deficiente e o médico pode corrigir as ‘falhas”.
Para Odent, os profissionais médicos são preparados para atuar em todas as complicações possíveis da gravidez e do parto, mas aprendem pouco sobre as variações fisiológicas possíveis de um parto normal, para as quais não há razão de alarme e intervenção.
O resultado é que todos os partos são vistos como problemas potenciais. Embora, os médicos reconheçam que para um parto normal o melhor não é fazer nada, seu treinamento e orientação no trabalho os levam a atuar de forma contrária, sendo praticamente impossível não intervir em condições que na realidade são variações fisiológicas. Em situação oposta a essa visão estão as enfermeiras obstetras e obstetrizes. Elas defendem o parto humanizado e com a mínima intervenção possível.
Recomendações da Organização Mundial da saúde para uso apropriado da tecnologia na assistência ao parto
Desde a década de 70 a OMS tem desenvolvido diversos trabalhos relacionados `a assistência pré-natal e ao parto, motivada pela preocupação com a expansão do uso de tecnologia no parto, seu custo elevado e questionamentos sobre sua real necessidade. Dentre eles, a OMS recomenda:
- Presença de acompanhante durante o pré-parto e parto.
- Estímulo a deambulação e movimentação da gestante durante trabalho de parto.
- Abandono de práticas sem comprovação científica de eficácia e muitas vezes prejudiciais: enema, tricotomia pubiana.
- Moderação em intervenções: indução do parto, ruptura artificial da bolsa aminiótica, monitorização eletrônica constante.
- Moderação no uso abusivo de episiotomia.
- Proteção do períneo durante o parto.
- Ausculta intermitente dos batimentos tardio-fetais.
- Aleitamento materno na primeira hora (sala de parto).
- Permanência do bebê junto a mãe logo após o nascimento.
Todavia, é sabido que para tornar essas medidas viáveis são necessárias profundas transformações na estrutura dos serviços de saúde, acompanhadas de modificações nas atitudes das equipes e pela redistribuição de recursos humanos e físicos.
Apesar dessas recomendações e da ênfase crescente no uso da medicina baseada em evidência, muitas práticas consideradas desnecessárias continuam sendo utilizadas, sem uma real avaliação de suas complicações para as mulheres e recém-natos.
A OMS em 1996 lançou um “guide line” “Care in normal birth: a practical guide “ baseado em evidências: A, B, C e D – práticas recomendadas como positivas e que devem ser encorajadas as práticas frequentemente utilizadas e de maneira inapropriada.
Práticas benéficas na assistência ao trabalho de parto
Segundo a OMS, um parto de baixo risco pode ser definido como aquele que tem início espontâneo, que é de baixo risco no início do trabalho de parto e que assim permanece até seu desfecho. O feto nasce espontaneamente em apresentação cefálica, com idade gestacional entre 37 a 42 semanas completas. Após o parto mãe-bebê se encontram em boas condições de saúde. Cerca de 70 a 80% das gestações poderiam ser consideradas de baixo risco no início de trabalho de parto.
Entre as práticas benéficas a OMS preconiza:
- Ambiente para assistência ao parto: local confortável e acolhedor que garanta privacidade e segurança as parturientes.
- Profissionais que assegurem o conforto e a redução do medo, angústia e ansiedade da gestante.
- Presença de acompanhante (Ministério da Saúde – Lei Federal 11.108/2005).
- Estímulo a movimentação livre da gestante.
- Para parto de baixo risco profissional a livre escolha da gestante: médico ou enfermeira (Lei Federal 7498/860).
- Comunicação aberta entre a gestante, familiares e equipe de saúde.
- Uso de palavras compreensivas pela gestante e família.
- Boa relação e livre comunicação entre a equipe de saúde.
- Informação constante sobre a evolução do trabalho de parto gestante-equipe de saúde.
Para o Ministério da Saúde do Brasil, humanizar o parto é reconhecer a individualidade das mulheres, o que permite ao profissional estabelecer um vínculo com cada mulher e perceber suas necessidades e capacidade de lidar com o processo do nascimento.
Que as mulheres sejam respeitadas e encorajadas a tomarem a decisão em conjunto com seu profissional que melhor lhes cabe!!
Quer saber mais? Consulte a página do Ministério da saúde do Brasil, Agencia Nacional de Saúde e OMS.