Tratar os nossos filhos com respeito, é uma ferramenta precisa para alcançar objetivos maravilhosos no cotidiano do nosso lar.
É uma maneira eficiente de obter disciplina, e, ao mesmo tempo mostrar a criança, que “fazer diferente” causa impactos positivos na dinâmica familiar. Todos os pais, de uma maneira ou de outra, passam por problemas semelhantes, quando o assunto é disciplina, e, a forma de resolvê-los fará toda a diferença.
Quando falo de disciplina em meus atendimentos com famílias, a primeira expressão que vislumbro no olhar delas é o temor de que eu os coloque, pais e filhos, no “cantinho para pensar”.
Não nego que pensar faz muito bem a mente e ao espírito, mas minha proposta vai além do pensar – vai de encontro a uma forma de disciplinar responsável e assertiva. Disciplina não é sinônimo de punição, violência, choro, ou, outras maneiras de repressão. Disciplina pode ser encarada até como uma filosofia particular de vida.
Disciplina tem muito mais a ver com a inteligência emocional, autocontrole e treinamento para enfrentar situações delicadas, frustrantes e difíceis na vida da criança e de sua família. Quero deixar claro que educar e disciplinar um filho, não é atribuição só da mãe. Paternidade responsável envolve pai e mãe – com colaboração de tios e avós.
Quantas vezes queremos que nossos filhos nos ouçam e modifiquem um determinado comportamento ou uma atitude, e, ao mesmo tempo não estabelecemos com eles uma via de mão dupla – não ouvimos também as demandas das crianças.
Falar por falar, gritar sem eco, bater para extravasar, não são formas honestas de disciplinar e orientar um filho para o presente e para o futuro – é simplesmente acreditar que a educação das crianças é um processo de cima para baixo sem nenhuma reflexão. Quanto mais a criança se estressa e chora, menos canais de percepção ela ativa. O choro funciona como um tampão para o mundo externo. Parece que a tríade estresse-choro-raiva ativam todos os botões vermelhos (ou inflamados) da criança, e, assim, só resta a nós usarmos a força.
É certo, que as crianças são ativas, espertas, criativas, arteiras, e, não raramente ardilosas. Com características assim, voltadas para a vida, elas vão fazer arte, cometer erros e ter comportamento pouco aceitável aos olhos dos adultos. Isso significa que mesmo que tenhamos uma ótima relação com os nossos filhos, eles vão cometer erros e irão falhar em algum sentido. Errar, acertar, errar e fazer de novo é uma das características fantásticas dos humanos, e, é por isso que as crianças precisam tanto dos pais – pais que os ajudem a fazer a “sintonia fina” ou o “ajuste fino”.
Todos nós podemos aprender a desenvolver boas habilidades para auxiliar nossos filhos a viverem melhor. Não adianta achar, que a paternidade responsável é um dom natural. Aprendemos e nos desenvolvemos dia a dia junto com as nossas crianças.
Outro fator importante, nós não somos calmos, tranquilos e otimistas 24horas por dia. Tenho certeza, que até mesmo a Irmã Tereza, Gandhi, Chopra, e até o Papa Francisco já perderam a paciência em algum momento de suas vidas, até já demonstraram comportamento pouco admirável. Somos todos humanos. Portanto, podemos esperar que em algum momento nossos filhos se destemperem e chequem nossa calma e nossa coerência.
Isso não acontece porque elas são más ou porque elas querem nos destruir. Elas estão tentando averiguar nossa atitude como adulto e responsável por manter uma regra e colocar limites. Quando a criança percebe que estamos seguros de nossas atitudes e gestos, ela se sente contida e amada por seus pais.
Quando os pais têm bem introjetado atitudes e afinidades relacionadas a educação dos filhos, as crianças tendem a introjetar os mesmos valores, e, o comportamento reverbera para a família. Não estou dizendo que pai e mãe não podem pensar diferente, mas a decisão a ser tomada em relação aos filhos deve ser coerente e equilibrada. A conduta paternal deve ter passado pelo filtro da comunicação entre o casal, levando em consideração as diferenças e os pontos de vista.
Filhos criados da mesma maneira é um erro fatal, para a obtenção de resultados comportamentais e emocionais positivos dentro do lar.
Assim como o seu temperamento, provavelmente, é diferente do de seu parceiro, as crianças também apresentam suas particularidades e singularidades.
Cada criança enxerga uma faceta diferente do ambiente que as cerca. Se um dedo não é igual ao outro, a disciplina não pode ser igual de um filho para outro. Algumas crianças reagem bem a um NÃO. Outras precisam de um NÃO mais contundente. Filhos não são seres emocionalmente produzidos em série e com o mesmo chassi dentro da própria família.
A neurociência tem mostrado, que a forma como educamos nossos filhos terá um impacto surpreendente na fase adulta dos mesmos, e, também, como eles desenvolverão habilidades para lidar com as frustrações e com o desenvolvimento da empatia.
As pesquisas avançadas em comportamento e modulação emocional também demonstram, que frustração e empatia estão no ápice da pirâmide como requisitos para a conquista da felicidade e da adaptação positiva no mundo.
Pais não são perfeitos e não estão sempre cem por cento certos. Cometemos falhas mesmo quando nosso intuito é acertar. Outro dado interessante para refletir é que nem sempre nossos avós estavam corretos em suas afirmações ou ditos. Muitos desses ditos ou crenças podem ficar enraizados em nossas mentes e nós termos a tendência em taxá-los como verdades inquestionáveis.
Uma dessas crenças que eu abomino é que bater educa!
Tive a oportunidade de ler um livro muito interessante há alguns anos atrás, Tapa na Bunda, de Denise Dias, Ed. Matrix, que de uma maneira muito equilibrada, a autora chama a atenção do leitor, para o caminho de uma educação verdadeira, onde os pais chamam para si não só a educação de seus filhos, como a disciplina de maneira equilibrada, e mostra que existe uma divisão clara entre violência e respeito, entre agressão e impor autoridade.
Dias faz uma reflexão inteligente e comenta, que assim como fazemos projetos em nosso cotidiano enquanto casal: estudo, viagem, compra de bens, etc., deveríamos também fazer um “projeto de gente”, de filhos, para depois não sermos pegos de calça curta, e, descobrirmos, que não temos tempo, ou, disponibilidade suficiente para nos dedicarmos com afinco a nobre missão de educarmos e disciplinarmos nossos filhos. Ela comenta ainda, que os pais deveriam cuidar desse projeto como cuidam de coisas, que lhes são muito importantes, pensando cautelosamente nos mínimos detalhes.
E aí, você pensa dessa maneira?
Já pensou em fazer um projeto de gente, tentando buscar o máximo informações que abram seus canais para uma paternidade responsável?