Eu não tenho dúvidas que a gravidez é, na vida de uma mulher, de um casal, e, de uma família, um período de grande complexidade emocional. Em nossos costumes, principalmente, o ocidental, é uma fase na qual a mulher exibe e esbanja fecundidade, lembranças de sua meninice, memórias de questões não resolvidas no seu seio familiar e perspectivas que de agora em diante tudo poderá ser bem diferente.
Antes mesmo de duas pequenas células, masculina e feminina, se encontrarem, e, diga-se de passagem, em um ambiente escurinho, quentinho e acolhedor, propício ao primeiro despertar do que será uma nova vida, cada genitor recebeu ao longo de sua existência uma verdadeira avalanche de informações familiares verbal e não verbal, que no futuro irão fazer parte da história da terceira “pessoinha” que está por chegar, o bebê. Todas essas informações, mensagens e códigos familiares, farão parte do psiquismo infantil e alimentarão o futuro dessa criança.
Essa avalanche de informações é um bem precioso, embora também contenha mitos, tabus, ditos que nem sempre corresponde a realidade, mas fazem parte dos bens hereditários de cada um dos proponentes a pais. Costumo dizer, um dito interessante, em minhas aulas, aos meus alunos, “Pau que nasce torto morre torto”, ou, ainda, “Filho de peixe peixinho é”, e, finalizo com esta pergunta: vocês realmente acreditam nisso? E graças a Deus, a maioria dos alunos discorda dessas frases, e assim, eu continuo em minha jornada, acreditando que o ser humano sempre pode se superar, mudar, ou ainda, relativizar.
Na realidade o que importa é que as circunstâncias, ou, os eventos gerados em cada família de origem é que comporão e darão colorido, a pré-história do futuro bebê. O que podemos dizer sobre a história do casal antes da chegada do bebê? A história do casal começa quando eles ainda eram bebezinhos e foram se estruturando rumo à maturidade, e, nessa história, certamente, ocorreram muitas experiências positivas, algumas não tão positivas assim, fatos omitidos, distorcidos, ou, mesmo ainda, engrandecidos, ou não, e, tantas outras, que compuseram a dinâmica de cada um dos parceiros dentro do contexto familiar.
O mais importante independente do tipo de experiência existencial de cada um, é que cada mãe e cada pai tiveram um lugar em sua família de origem, e, os que não se sentiram nomeados nela, ou bem dizendo, não desenvolveram o sentimento de pertencer, que o presente permita que esse lugar seja conquistado ou recuperado para que o bebê, que está a caminho, possa desfrutar desse lugar com a plena autorização do papai e da mamãe e assim se constituir como uma pessoa.
Os bebês muitas vezes vêm ao mundo com o propósito de desempenhar papeis ou legados determinados por seus pais, tais como: unir o casal, presentear o vovô usando seu primeiro nome e sobrenome, com direito a um “plus” de neto, perpetuar a missão profissional (todos os homens da família são médicos) entre outros, ou simplesmente, ser bem vindos, e, serem felizes pelo o que são, e, pelo que o futuro assim lhes desejar. O que eu não tenho dúvida, é que papeis delineados aos filhos serão cobrados e nem sempre a criança terá ombro suficiente para suportar o peso do legado familiar e ai o “caldo pode entornar”.
Estamos falando da felicidade e do bem estar de amanhã de nossos filhos, que ao nascer já experimentam o potencial para vida e para o viver criativo. Assim, não podemos esquecer que o bebê é uma pessoa, que tem seu próprio talento e é merecedor de sua identidade pessoal e sua liberdade. Tem seu EU diferente de todos os outros bebês. É capaz de desenvolver recursos e potencialidades que lhes serão facilitados por seus pais e pela família. O que importa para nós, nesta conversa, é que a noção de casal que a criança terá no futuro será determinada pelas ideias e concepções que lhe deram origem. Os humanos possuem a tendência a repetir a história da família de origem, de maneira positiva ou negativa, e o que eu desejo, é que os bebês, que estão por chegar, tenham a tendência em repetir o amor, o carinho, a sinceridade, a fraternidade, o sentimento de pertencer e existir que receberam de sua família de origem, e, que possam transmitir isso por várias gerações.