É usual receber pais em meu consultório, e, de “sopetão”, eles comentarem: “eu faço de tudo pelo meu filho e parece que nunca atinjo a marca do suficiente. Sempre falta algo! “
Acho que não é só na vida de relação entre pais e filhos que a frustração aparece. A frustração chega de mansinho em vários acontecimentos da nossa vida. Por exemplo: “me empenhei tanto no estudo da prova e não fui tão bem assim”; “tenho cuidado tão bem de minhas flores e agora ela está perdendo as pétalas e as folhas também estão caindo”; “ estou fazendo tudo direitinho conforme o adestrador de meu cãozinho mandou, mas ele teima em fazer xixi no meu tapete”.
Como se pode notar, as coisas nem sempre são exatas como gostaríamos que elas fossem! Com os nossos filhos é a mesma coisa. Não é porque nos dispusemos a fazer algo que esse algo não necessite de persistência e constância. Nem sempre as crianças burlam uma regra, ou, quebram uma norma, que a devemos interpretar como falência pessoal no papel de cuidadores e educadores de nossos pequenos.
Veja só, existe uma situação, que os pais conhece, a muito tempo, que é a birra, pirraça, ataque de nervos, explosão de ira, ou, outros adjetivos para uma fase conturbada, que a maioria das crianças passam por volta dos dois ou três anos. Se os pais já ouviram falar dessa terrível fase, então por que será que ninguém se prepara para enfrentá-la? Por que será, que quando o pequeno está para atingir essa idade, nós não procuramos um profissional para nos orientar a passarmos por esse período com menos estresse?
Fazemos cursinho para tantas coisas: curso de noivos, curso de padrinhos, curso de gestantes, etc. E por que não curso de pais?
Pelo que tenho observado, é porque os pais pagam para ver!
Será que com meu filho vai ser diferente? Será que comigo as coisas vão ser melhores? Afinal eu sou presente e muito paciencioso na vida de meu filho!
Na verdade deveríamos ir um pouco além em nossas reflexões. É impossível ter um filho que não chora, que seja paciencioso e tranquilo o tempo todo, e, muito menos, que sempre se satisfaça com apenas um olhar seu para interpretar as noções de limite e regra.
Contudo, é possível reduzir ou atenuar os episódios de birra.
As crianças não são manipuladoras, ao ponto de fazer birra simplesmente, para mostrar aos pais, quem está no comando, mesmo por que, as crianças precisam do adulto para se sentir seguras e amadas.
Provavelmente a birra pode estar sinalizando algo mais do que um simples “eu quero”!
Vamos ser adultos e no lugar de entendermos o “eu quero”, vamos trocar por “eu preciso”. Os pequenos, ainda, apresentam seu cérebro imaturo para lidar com situações complexas ao olhar deles, e, é somente por volta dos quatro anos, que a criança deixa o status de “birrento”, para lidar com situações mentais mais complexas – o jogo da manipulação.
Voltemos para as nossas crianças de dois ou três anos. A criança, nessa faixa etária, ainda conserva alguns resquícios do período de bebê, e por isso, o contato ainda fala muito alto. A criança precisa se voltar aos pais, com frequência, para se abastecer de amor, carinho e atenção, para prosseguir, então, em suas atividades. O circuito cerebral dos pequenos ainda é imaturo e por vezes entram em “curto-circuito”. Não é a toa, que choram, gritam, esbravejam, se jogam no chão, e, ainda de quebra podem arremessar objetos. Nossa, parece uma verdadeira crise de destempero.
Como modular as birras no começo da primeira infância?
Não vou dizer que é fácil, mas conter a criança, falar em voz baixa e pausada “eu te entendo”, fazer um afago, distrair, mudar de cena, podem ser bons estímulos para driblar a birra, e, ainda de quebra, estimular a produção de hormônios da felicidade na circulação infantil. Dedique alguns momentos do dia, exclusivamente, ao seu filho. Procure interagir com brincadeiras simples, mas que estimulem o olho no olho, o contato físico, a linguagem verbal e não verbal, e frases, que permitam a criança se sentir amada, valorizada e muito importante para seus pais.