No post anterior comentávamos sobre a importância da paternidade responsável, e, do cuidado que os pais deveriam ter em não inflar a autoestima das crianças ou do jovem, tendo como pressuposto o sucesso deles na idade adulta.
Terminamos o artigo com o questionamento: como distinguir um elogio bom e positivo de outro ruim ou negativo?
Pois bem, não tenho uma receita de bolo e muito menos uma poção mágica, embora, gostaria muito de tê-la e poder dividi-la com meus amigos leitores.
O exemplo mais comum, de um elogio inadequado, é aquele que premia coisas banais ou tidas como corriqueiras. Querem um exemplo bem simples do cotidiano? Se a criança sabe colocar seus brinquedos dentro da caixa com destreza, não é necessário felicitá-la por isso. Se o jovem sabe que é seu dever todos os dias fazer sua lição, checar sua agenda, ou, ajudar em alguns deveres da casa, não é preciso parabenizá-lo, porém, é de bom tom agradecer. Afinal, reconhecimento e gentileza devem permear a vida de qualquer cidadão. Glória Kalil vive dizendo isso em seus livros de etiqueta social!
Os elogios não podem soar como mentira. Observe só: você deu o melhor de si; o problema foi que a professora ao elaborar a questão, o fez de maneira diferente da apostila. A criança ou o jovem percebe que seu elogio está fundamentado na mentira, pois, o enunciado de uma questão não precisa ser uma cópia exata da constante na apostila, no dia da prova.
Pesquisas elaboradas por um grupo de cientistas da Flórida mostraram que há poucas evidências científicas, relacionando elevada autoestima e sucesso escolar e profissional, e, que muitas vezes, ela pode ser contraproducente.
Em qual sentido?
O exagero na autoestima pode produzir indivíduos que exacerbam seus feitos e realizações, e, podem funcionar de maneira rebote, ou seja, tiram o estímulo para que a criança ou o jovem se dedique arduamente a uma tarefa ou objetivo futuro.
A criança ou o jovem hiperinflado em sua autoestima pode desenvolver uma visão distorcida de suas qualidades, com dificuldade para lidar com crítica, aprender com os erros, a se adaptarem aos desafios de viver e trabalhar em grupo e cuidarem da própria vida. Crescem insatisfeitos, alguns referem sentimento de vazio e outros desenvolvem alguma desordem de humor.
Não estou afirmando que as crianças ou adultos, que foram assegurados em sua autoestima vão se tornar adultos-problemas e não vão superar a síndrome da majestade. Muitas vão superar o fato de não serem perfeitos e vão deslanchar em suas escolhas, tanto na vida pessoal quanto profissional, e, serão capazes, ainda, de utilizarem todas as ferramentas proporcionadas pela família, para realizarem coisas boas na vida.
Baumeister, que é um neurocientista, refere, que mais do que ter muito boa autoestima, é mister conseguir ter controle sobre os impulsos, ter força de vontade e persistência para atingir o sucesso, seja ele pessoal e profissional. São ingredientes fundamentais para o crescimento do bolo humano, é quase um fermento.
A literatura atual recomenda algumas dicas para corrigir os efeitos da autoestima exagerada:
1) é preciso frustrar – é uma forma de mostrar a criança e ao jovem, que ele vive num mundo onde não se pode ter tudo, e, é preciso abrir mão de certas coisas pelos outros, 2) limites claros também é prova de amor. Não abra espaço para negociações em certos assuntos como escola. A criança e o jovem devem lembrar, que existem regras e limites a obedecer, 3) confiança mutua nas relações é essencial. A criança e o jovem devem acreditar, que sempre poderá contar com o amor e o carinho dos pais mesmo que ele fracasse em algo ou tenha dificuldades, 4) desapegar de coisas que não estão mais sendo necessárias é uma forma de olhar o semelhante e tirar o foco da atenção de si próprio.
Impor regras não significa ser um ditador, mas saber flexibilizá-las em algumas situações é tão importante quanto o elogio na hora certa!