Certa vez atendi uma família que nomeava (rotulava) seus filhos com características bem peculiares. O mais velho, de 10 anos era o folgado, o do meio de 8 anos, o desleixado, e o mais novo de 3 anos, o pobrezinho, afinal ele ainda era pequenino e não tinha vez na casa. Como vocês podem observar, nenhum deles tinha uma identidade positiva.
Pontuei que as características atribuídas pelos pais às crianças não era genética ou hereditária, e, que eu desconhecia o gene responsável por essas competências. Apenas quis demonstrar que se as crianças agiam de acordo com essas “qualidades”, é por que os pais, de alguma maneira, reforçavam esses comportamentos ou atitudes.
Pensem comigo, atribuir uma nominação negativa a uma criança não vai mudar o rumo da carruagem. O fato de um pai chamar seu filho de folgado, não vai fazer com que ele passe a guardar ou manter suas roupas arrumadas no guarda-roupa, tão pouco, que ele mantenha em ordem seu material escolar. Atribuir adjetivos jocosos a criança não muda comportamento! Pelo contrário, interfere em sua autoestima, em sua forma de se ver e se posicionar no mundo. Já ouvi dizer que vira “carma”!
Atitudes construtivas são mais eficientes e funcionais do que você rotular uma criança. Não sou muito a favor de dar passos para criar e educar os filhos. Prefiro a reflexão e a ponderação. Todavia, nesse caso, acho que alguns pontos poderiam ser considerados para trocar o rótulo pela ação.
De nada adianta lançar mão de apelidos: desleixado, folgado, porco, mal criado, briguento, bagunceiro, mandão, mal humorado, entre outros. O que funciona é dizer especificamente qual comportamento, que você, enquanto pai ou mãe, não tolera e pretende mudar, saia do abstrato e vá para o concreto. Explique ao seu filho onde ele deve guardar os brinquedos após as brincadeiras, por exemplo, seja objetivo e claro.
Não elogie seu filho e sim a atitude ou ato positivo que ele teve. Direcione o elogio ao comportamento. Mantenha o reforço positivo enquanto o novo comportamento precisar de reforço. Veja, quanto mais alguém nos diz, que fazemos bem determinada tarefa, mais queremos nos superar. Com as crianças também é assim!
Evite disputa de poder entre os irmãos. Essa atitude gera reforço na rivalidade entre eles.
As crianças precisam da supervisão dos adultos e das competências e habilidades dos pais para ajudarem a modular suas emoções e seu comportamento. Isso não acontecerá se os adultos não forem presentes na vida das crianças.
Pare de reforçar os aspectos negativos que seu filho teve no passado. Essa é uma atitude rancorosa e sem valia. Demonstrar as potencialidades das crianças é muito mais adaptativo do que se prender aos aspectos negativos.
Pais nervosos e cansados podem facilmente perder a paciência e apelar para o castigo físico e a intimidação psicológica. Esse tipo de atitude não modifica um comportamento indesejado, apenas os mascaram, ou pior, ensinam a criança a ter medo, a descarregar a raiva no outro, e pior ainda, que a violência é a melhor forma de lidar com os conflitos e com a intolerância.
Veja que algumas vezes os filhos se comportam mal ou apresentam alguma atitude inadequada pelo simples fato de poderem ser notados por seus pais. É uma forma “às avessas” de pedirem contato ou a presença dos seus cuidadores. Entretanto, funciona, porém a um alto preço! Os pais se irritam e respondem com violência. Por sua vez, as crianças recebem atenção e destroem sua autoestima. Na verdade é um trabalho totalmente contraproducente.
Moral da história, cuidar, educar e orientar é mais producente e amoroso do que deixar que as crianças sejam rotuladas e modifiquem seu comportamento inadequado por conta própria.