Comentamos anteriormente (mesmo título – Parte 1) sobre os possíveis fatores, que poderiam deflagrar a frustração e o tédio nas crianças pequenas. Falamos sobre a falta de sono, ou, de cochilos ao longo do dia, e, o quanto essas variáveis podem deixar as crianças, quando privadas, irritadas e pouco tolerantes às situações banais do cotidiano. Falamos também da necessidade de mantermos o combustível energético dos pequenos em bom nível para que eles tenham fôlego, para atravessar as diversas rotinas do dia e sempre acompanhados de um adequado suporte hídrico.
Não menos importante, também, reforçamos a necessidade de sermos criativos na hora de estimularmos as crianças em atividades monótonas, pelo menos ao olhar delas, como a ida ao supermercado, ao banco, a consulta médica, entre outras. Ter sempre um joguinho, um brinquedo preferido e livrinhos de histórias a disposição evita que a monotonia ative comportamentos desorganizados.
No artigo de hoje vou comentar sobre a hiperestimulação.
Como você se sente ao entrar em um recinto cheio de gente, com barulho em demasia, e, para piorar a situação, um calor terrível. Acredito que a resposta seria um grande mal estar e um desejo de abandonar o local para respirar um ar fresco. O mesmo ocorre com as crianças. Porém, elas não sabem que é só achar uma porta de saída, que tudo ficará bem de novo.
O excesso de estímulos deixa a criança com seus órgãos dos sentidos a mil. Elas não conseguem filtrar o que é positivo e o que é negativo. Elas absorvem como esponjas tudo que as rodeiam. Caso o passeio do dia seja uma festinha de aniversário na casa de amiguinhos, procure não chegar ao local com seu filho cansado ou com fome – planeje antes um lanch
inho e um período de repouso. Um brinquedo preferido também pode ajudar no passeio, pois a criança se sente segura e com lembrança concreta de sua casa.
Caso você perceba, que o pequeno está ficando cansado, birrento ou irritado, são sinais de que seu combustível de tolerância está se esgotando, e, que a hora de ir embora chegou. Não queira negociar um tempo extra no passeio, pois a criança ainda é imatura para desenvolver doses adicionais de flexibilidade e características de negociador. Ofereça um abraço e diga que vocês já estão indo para casa.
Outro fato que pode potencializar o mal humor em crianças é o fato delas não poderem permanecer numa atividade quando ela está muito prazerosa. As crianças adoram um parquinho ou brincar em grupo com amiguinhos. Quando sinalizamos que está na hora de ir para casa elas ficam muito desapontadas e insatisfeitas. Falando em desapontadas, atividades rotineiras como higiene bucal e corporal, guardar os brinquedos, também tiram as crianças do prumo. Elas jogam uma bela negativa em cima dos cuidadores e ficam intempestivas. Uma maneira prática de minimizar o problema seria enfrentar a realidade e demonstrar que entendemos o que elas sentem: “Ok, eu entendo que você gostaria de continuar brincando e não quer ir para casa”. “Temos que ir embora, do contrario você chegará atrasado na escola”. Mostramos a realidade e ao mesmo tempo nos demonstramos sensíveis as suas emoções e sentimentos. Existem situações que não precisamos ser tão rígidos e podemos oferecer uma boa dose de flexibilidade.
Tenho observado que algumas crianças quando estão temerosas ou com medo de algo, negam seu sentimento, e, tornam-se dúbias, chorosas e estressadas. Não precisa ser uma grande aventura, o simples fato de ir para a escolinha, pode ser um exemplo. Entender a situação e estar disponível para traduzir em palavras o que a criança está sentindo é de grande valia. A ação mostra a criança que a entendemos e que estamos do lado dela, mesmo quando o assunto é ir de encontro à independência relativa.
Por fim, gostaria de lembrar que a expressão comportamental das crianças é uma linguagem não falada, mas que pode estar contendo diversos conteúdos e significados. Como pais e cuidadores atentos, antes de nos contaminarmos com o mal humor, frustração ou tédio das crianças, precisamos nos colocar no lugar delas e pensarmos com antecipação para evitar os comportamentos infantis desorganizados.