…E vamos lá. Continuar de onde paramos – o baby-blues.
A mamãe fica ansiosa, estressada e angustiada com tudo que ela tem que fazer: cuidar do bebê, dar conta dos afazeres da casa, cuidar do companheiro, receber as visitas, entre outras atividades do cotidiano, e, ainda, quando sobra um tempinho, se dar uma olhadinha no espelho e reparar que não deu tempo para pentear os cabelos. É uma verdadeira maratona fora de competição.
A maioria das avós comenta que o culpado de tudo isso são os hormônios femininos em descompasso que tomam conta do corpo da mulher – “como um encosto “desde o comecinho da gestação. No início eles provocam náuseas, vômitos, sonolência, humor lábil e agora, no pós-parto, provocar esse tal de “bebê-azul”.
Baby-blues – algo melancólico que deixa a mulher meio estranha.
De um lado ele instiga a mãe a lembrar constantemente que o bebê existe e do outro deixa a mãe também azulada, azulada no sentido de se sentir meio perdida, com sentimentos de menos valia e de que não vai dar conta da situação.
Deve ser azul de raiva por não entender o que o bebê quer dizer com seu chorinho (as vezes chorão) no seu comecinho de vida, azul por não ter outra opção de cor, pois seus vestidos coloridos de não grávida não lhe vestem bem ainda, azul por permanecer muito tempo acordada sob a luz do abajur. Azul, por poder ser a cor da mágoa sem causa aparente, que se agrava aos menores fatos do dia a dia.
Penso que grandes autores da dramaturgia, por mais que tentem, são incapazes de tecer um enredo tão rico como o da mulher no período do baby blues. São as estações chuvosas e nebulosas que melhor o exemplificam. É uma grande turbulência que permite a mulher entrar em contato íntimo com seu filho – acomete cerca de 70% a 90% das puérperas. Aparece por volta do terceiro ou quarto dia pós-parto e dura mais alguns dias.
Contudo, como saber diferenciar um clássico baby-blues de uma depressão puerperal?
O Baby-blues pode ser considerado como um estado de fragilidade e hiperemotividade em que a puérpera se “desmancha” em lágrimas, chora por algumas horas e logo depois nem pensa mais sobre o que desencadeou seu pranto. Entre um choro e outro, há espaço para a alegria de ter dado a luz a um bebê saudável e desejado.
Portanto, o choro é intermitente e o que fala mais alto é o sentimento de incapacidade em assumir o papel de mãe.
E as mães que já tiveram filhos anteriormente, elas também vivenciam o baby-blues? Certamente, só que elas temem não dar conta de todos eles.
Bem, parece que rodeamos, circulamos e não respondemos o que desencadearia o baby-blues.
Para alguns estudiosos do assunto, os culpados da turbulência emocional das mulheres recém paridas seriam os hormônios femininos em queda rápida. Todavia, como explicar a mãe de bebês prematuros que, muitas vezes, só levam seus filhos para casa após uma, duas ou mais semanas pós-parto e até então não apresentaram os sintomas do baby-blues? Não nego a tristeza que elas sentem por não estar com seus bebês nos braços.
Passado o período de hospitalização do bebê, ambos (mãe-bebê) retornam ao lar e sem que ninguém perceba, o baby-blues começa a mostrar suas garrinhas e a mãe se desmancha em lágrimas, torna-se hipersensível e melancólica.
Sem falar nas mães que adotam bebês. Elas também, em sua maioria, não escapam do baby-blues (choro, tristeza, falta de confiança em si mesma, sentimento de incapacidade em serem boas mães, entre outros).
Françoise Dolto e Myriam Szejer* costumam afirmar que o bebê começava a ser a partir do terceiro dia pós-parto. Tempo quase que suficiente para a mãe identificar que o bebê em seus braços não é o mesmo que ela construiu em seu imaginário durante nove meses. Este bebê é singular, único, diferente de tudo que ela pode imaginar.
É um momento onde a recém-mãe pode perceber que seu filho é dependente dela para tudo e o tudo é o tudo mesmo. Não tem um tudo parcial ou compartilhado – ele é um “serzinho” a mercê de seus cuidados e afetos: alimentar, higienizar, promover calor, mobilidade, aconchego, ternura, amor e tantos outros afetos e qualidades que só uma mãe devotada comum** poderia oferecer ao seu bebê.
O terceiro dia pode ser também o período em que o bebê começa a mostrar ao que veio. Sua força de vida e sua vontade de viver neste mundo que o cerca. O choro se torna mais forte, o bebê dorme um pouquinho menos, há o início do diálogo mãe-bebê – olho no olho, o leite desce, o bebê precisa ser inserido no seio familiar e ocupar seu espaço. A mãe é capaz de relembrar fatos de seu passado mais remoto – é como se acontecesse algo mágico e a mente da mulher ficasse mais transparente aos fatos de sua história.
Os recém-papais também não escapam do baby-blues. Pode não ser tão acentuado como nas mulheres, mas também exibem um certo grau de melancolia. Refletem se serão bons pais, se darão conta em cuidar da família e prover o necessário para todos. Muitos pensam se ainda terão assegurado seu lugar no coração de suas companheiras. Não se espantem se alguns maridos após o nascimento de seu filho “cair de cama” em decorrência de uma gripe, sinosite ou outra patologia que simbolize esse período conflitante.
É interessante lembrar que a mulher teve nove meses para se adaptar e se acostumar com a idéia de ser mãe. Para o homem, o significado é mais demorado, pois os ingredientes da massa não são adicionados um a um em seu ventre mês após mês. Quando ele menos espera, o bolo já vem prontinho e decorado com um laçinho azul ou rosa.
É com o parto e a proximidade do bebê que o homem experimenta a realidade de ter uma vida sob sua responsabilidade. Portanto, foi preciso cortar o cordão umbilical que ligava o bebê a mãe para que o papai pudesse se conectar psicológicamente ao seu filho. Foi da cisão da mãe com o bebê que nasceu, realmente, a união da criança com seu pai.