A mídia sempre vincula alguma noticia conflitante sobre o uso de dispositivos eletrônicos pelas crianças. Tablets, celulares, ou, outros aparelhos podem, ou, não podem ser vistos como brinquedos pelas crianças?
Os equipamentos eletrônicos estão na mesa, na cabeceira, na bolsa, na malinha das crianças, e, são muito acessíveis na vida dos pequenos. Parece que as crianças já nascem conectadas desde a maternidade. Os berçários das maternidades já são equipados com câmeras interativas para a família e os pais “babões” visualizam e acompanham os pequerruchos em tempo real.
Tenho visto cada vez mais criancinhas, com menos de dois anos, conectadas aos dispositivos eletrônicos, enquanto, os pais “solitariamente” almoçam, jantam ou se “divertem” nas pracinhas com seus próprios dispositivos. Fico espantada! Cada um tem seu equipamento!!
Com o uso e a disponibilidade mais fácil dos meios eletrônicos, algumas crianças estão sofrendo de doenças emocionais que antes eram observadas em adultos, tais como a ansiedade social, a “demência digital”, depressão e etc.
Esses aparelhinhos estão gerando um deslocamento familiar, ou seja, os membros podem estar juntos, mas cada um está no seu quadrado. Silenciosamente, cada membro da família está construindo sua barreira relacional e a troca de informações, quando muito, acontece por algum tipo de comunicação eletrônica, ou, por frases curtas, do tipo: “Vamos, está na hora (de alguma coisa)”.
A semana passada, uma mãe me contou, que sofreu um pequeno acidente de carro enquanto digitava um “Whats up” para sua amiga. Seu filho de três anos nada sofreu, estava adequadamente atado na cadeirinha infantil. Segundo ela, ele está muito assustado e com dificuldade de dormir sozinho. Por outro lado, a mãe tenta apaziguar a situação colocando no tablet a boa e velha “Galinha Pintadinha”. Penso que seria muito mais carinhoso e reconfortante para a criança, nesse momento de angústia, um livrinho infantil, brincadeiras que trabalhassem a confiança mútua, e, conversar sobre o assunto de maneira lúdica.
Acho que como terapeuta, estou ultrapassada e tudo que tenho estudado, até o momento, está indo por água a baixo. Afinal das contas, tento usar a palavra e outras formas de comunicação para ajudar as pessoas a ressignificarem suas angústias. Vou rever meus conceitos e vou usar os dispositivos eletrônicos para hipnotizar meus clientes, e, o melhor de tudo, ainda posso cobrar por isso. Socorro!! “Jesus apaga a luz”!
Para piorar a coisa, outro dia caiu em minhas mãos uma matéria sobre campos magnéticos. A Organização Mundial da Saúde, em 2011, disparou um alerta, sugerindo que esses campos podem ser carcinogênicos, e, eles estão associados aos dispositivos celulares. França e Bélgica estão estudando legislação, que alerte sobre o tema, quando o assunto é o uso dos mesmos pelas crianças.
Se não bastasse o empobrecimento relacional, que os equipamentos móveis causam nas famílias, quando usados em excesso, ainda temos a possibilidade de danos físicos.
E agora?
Pode ou não pode?
Quanto tempo é considerado como medida aceitável para os pequenos?
A partir de qual idade?
Como terapeuta familiar, me interesso muito sobre o assunto, e, antes de responder se pode, quanto pode, e, a partir de que idade, posso afirmar, que o que realmente pode e deve, são as pessoas se olharem, fazerem a leitura da expressão facial, dar devolutivas, interagir com as crianças, trocar afagos, conversar mais, conviver entre família, dar risada, desfrutar do contato com amigos e amiguinhos, abraçar sem limite, brincar e gargalhar por coisas simples e singelas, contar histórias, brincar no pula-pula, jogar amarelinha, cantar e desafinar, frequentar pracinhas, afinar as boas lembranças. Garanto que são essas memórias afetivas, que ficarão para o resto de nossas vidas.
Se você quer saber meu veredito, como terapeuta, sobre o uso dos dispositivos eletrônicos pelas crianças aqui vai: Já para fora brincar de verdade!