Ninguém tem dúvida que criança precisa de atenção e de afago – Mas quem garante isso?
Até a alguns anos atrás as crianças eram vistas e tratadas como mine adultos, e, como tal, era esperado delas um comportamento “adultizado” e precocemente cheio de competências e atitudes.
A psicanálise teve um papel crucial em desconstruir esse paradigma, principalmente, a partir de estudos de Klein e Winnicott .
Nesse artigo vou me ater a Winnicott, mesmo porque me identifico com seu constructo. Winnicott era um pediatra e psicanalista que dedicou seus estudos em prol das crianças e suas famílias. Desde o início ele afirmava que não existia um bebê sem sua mãe. Portanto, para que um bebê existisse como um ser total (físico e emocionalmente falando), ele precisava da mãe para dar sentido a sua existência.
No livro “Os bebês e suas mães”, logo no primeiro capítulo, Winnicott se dirige as mães apontando o quanto elas se dedicam habilmente a tarefa de cuidar de seus filhos e que a forma como faziam era fantástico – era de uma maneira complexa e ao mesmo tempo simples – Ele chamava essa atribuição das mães em relação aos seus filhos de “mãe devotada comum”.
Essa mãe devotada ao seu bebê era uma nobre anfitriã de um ser humano que “decidiu” alojar-se em seu ventre e que desde o período gestacional tratava esse pequenino com muito carinho, zelo e empatia. Com a chegada do bebê, e quando tudo vai bem – digo assim, por que algumas vezes essa mãe sofre de estresse repetido e de desamparo. Nessas circunstâncias, esse sistema aconchegante e acolhedor pode se desestruturar profundamente, afetando a díade.
Bem, voltando a mãe devotada, ela durante um bom período vai estar dedicada de corpo e alma ao seu filho. A mãe gradativamente vai dando noção ao seu filhinho de onde ele começa e onde ele termina (noção corporal), da importância de manter o ritmo nos cuidados diários (alimentar, higienizar, brincar) e nesse compasso o bebê vai desenvolvendo a capacidade de ter sentimentos.
Winnicott dizia que para o bebê se sentir integrado ele precisava de cuidados básicos de sobrevivência, mas também de muito acolhimento, carinho e toque. O bebê para se desenvolver integralmente precisaria se sentir amado, cuidado e assim poderia ir construindo sua noção de “ser”.
É claro que o bebê não precisa de uma mãe perfeita, apenas de uma mãe suficientemente boa, que possa falhar em alguns momentos.
Pois bem, tudo isso para mostrar que estudos recentes, elaborados na Universidade de Harvard – Departamento de Psiquiatria (http://news.harvard.edu/gazette/1998/04.09/ChildrenNeedTou.html), estão em congruência com Winnicott. Nesses estudos, os autores mostraram que as crianças para se constituírem como sujeitos precisam mais do que cuidados gerais, elas precisam de atenção, segurança e toque. Deixar o bebê solitário e chorando é danoso para a estrutura cerebral e para a mente dos pequenos, e, que os pais deveriam manter seus bebês por perto. Consolar a criancinha quando ela chora e trazê-la para perto do corpo dos pais tem efeito apaziguador, tranquilizador e antiestresse.
Manter os bebês longe dos pais e não responder prontamente ao chamado dos pequenos, pode levar ao estresse pós-traumático, a sensação de desamparo e a desordens emocionais na fase adulta.
Não confortar um bebê em agonia é plantar doses de estresse repetidamente e prover a criança de uma capacidade imatura de se autoacalmar e a um sentimento desmedido de insegurança e solidão. Tais ocorrências provocam modificações importantes na arquitetura cerebral e desequilíbrio na liberação de mediadores químicos no cérebro infantil.
Os pesquisadores ouviram de alguns pais que eles achavam importante deixar o bebê chorar, porque temiam que seus filhos se viciassem em colo e que no futuro eles se tornariam dependentes e com pouca atitude para buscar o sucesso.
Na contra mão desses pais, a neurociência atual, assim como já havia sido concluído em décadas passadas por Winnicott, as crianças atendidas em suas demandas emocionais e acolhidas fisicamente, se tornam no futuro pessoas mais seguras e abeis para estabelecer boas relações e buscar formas positivas de atingirem seus objetivos.
Os estudos de Harvard também mostraram que as crianças que se sentiam protegidas, em seu início de vida, respondiam durante seu desenvolvimento de maneira mais assertiva e ética.