É comum nós, pais, nos perguntarmos ou mesmo indagarmos ao terapeuta:
- Em que medida sentir medo é normal?
- Como, nós podemos ajudar nossos filhos a administrar os medos?
Como terapeutas, procuramos responder de maneira a tranqüilizar aos pais, sem perder a noção de que nunca devemos desqualificar o medo referido pelas crianças. Antes de comentarmos o assunto, precisamos definir o que é medo. O medo é uma das principais forças motivadoras dos humanos, assim como, a coragem, o desafio, ser destemido entre outras.
É um fenômeno biológico de defesa e proteção e está filo e ontogenéticamente relacionado ao instinto de preservação. Assim sendo, ele não deve ser encarado como patológico e sim como necessário a sobrevivência, e no caso das crianças, serve para protegê-los dos perigos. Agora, como a família lida com seus medos individuais e com os medos infantis é que o espectro do medo pode variar muito.
Famílias muito assustadas ou temerosas, provavelmente despertarão em seus filhos, medos em maior intensidade, com alterações de comportamento, hábitos, maior timidez, ansiedades e até mesmo fobias.
Os medos na infância nem sempre são previsíveis se levarmos em conta as diferenças individuais quanto a susceptibilidade, ou seja, um estímulo pode ser interpretado de várias formas em cada criança e sua resposta também será bem peculiar.
Exemplo: uma criança de 2-3 anos pode sentir-se desconfortável em entrar num bufezinho infantil sozinha. Porém, se a mãe estiver presente, isso pode ser mais tranqüilo e proveitoso.
É importante citar que as crianças apresentam tendência em adotar os medos de seus pais.
Exemplo: a mãe que é muito temerosa por cães, a criança pode adotar o mesmo comportamento sem nunca ter tido uma experiência desagradável com o animal.
O que fazer então? Primeiro de tudo, não desqualificar a queixa da criança – quando fazemos isso, é como se não déssemos ouvido a ela. Em segundo lugar, evitar mentir ou desqualificar uma ação ou atitude. A verdade é sempre o melhor caminho. Exemplo: vamos ao médico e se você não se comportar eu vou pedir para ele lhe dar uma injeção. Esta atitude é uma forma de tortura e de punição para coisas que a criança não fez e nem sabe se o fará.
A mensagem passada é aterrorizadora e a palavra médico será associada a dor e não a saúde e bem estar.Não menos importante, sempre que possível dramatize as situações difíceis para a criança com bonecos, histórias ou outra maneira criativa – é lúdico e auxilia as crianças a lidar com as ansiedades infantis e ajuda a enfrentar a situação real de forma menos angustiante. Mas como fazer isso?
Exemplo: oriento os pais, por exemplo, se acriança tiver que ser submetida a algum procedimento médico ou ao dentista, peço que eles simulem a ação com bonecos e deixar a crianças viver no lúdico suas ansiedades. Isso ajuda as crianças a utilizar o imaginário de maneira positiva, criativa, permitindo que seus medos sejam atenuados. Outra dica, é deixar que a criança carregue um boneco ou bichinho querido.
Esta atitude promove segurança, conforto e proximidade das coisas que ela vive em seu dia a dia e em seu lar. Por último, atentar que todos nós temos algum medo e sem uma razão lógica (baratas, pontes, mar), mas as crianças são capazes de superar seus medos na presença de um adulto seguro, os quais são vistos como seres poderosos – super-heróis corajosos.
Não devemos, na medida do possível obrigar a criança a fazer algo que ela ainda não esteja emocionalmente e fisicamente para fazê-lo, principalmente quando isso a assusta e a estressa muito, como é o caso de parques temáticos, onde os brinquedos podem ser encarados como ameaçadores ou mesmo filmes ou peças infantis.
Alguns estudos mostram que crianças muito exigidas, cobradas ou regularmente punidas pelos pais por não atingirem “metas”, tendem a ser mais ansiosas e agressivas e apresentam maior tendência de pesadelos e temores.
Matéria exibida no Programa Mulheres da TV Gazeta pela Dra. Regiane Glashan