As técnicas de disciplina positiva ajudam pais conscientes a educarem seus filhos com gentileza e firmeza – sem perder o carinho e o respeito.
Assim, como muitos pais, várias vezes senti vontade de ter um controle remoto para frear um comportamento abusivo de meu filho ou de ter uma varinha do Harry Potter pare me transformar em invisível. Quando isso acontece, parece que as coisas estão saindo do nosso controle, ou pelo menos daquilo que consideramos “ordem e rotina”. Passes de mágica não existem!
Quando estamos sob o domínio da raiva, nos sentimos perdidos, cegos, surdos, porém com uma capacidade imensa de gritar, esbravejar, ofender e até punir fisicamente as crianças. Quem nunca se sentiu assim, que levante a mão! Se estamos no modo “perdi a razão”, a melhor coisa é dar um tempo de espera, respirar fundo e ganhar tempo para tomar a melhor decisão. Assim que a raiva passar, medidas profiláticas podem ser pensadas, anotadas e executadas. Pensando nisso, resolvi elaborar um “Mine Manual SOS – Eu e meu Filho Precisamos de Ajuda!”
Como terapeuta familiar e educadora parental positiva resolvi preparar esse manual para você consultar sempre que necessário, ou pelo menos, em momentos onde você precisar de ajuda e necessitar ter algo rapidamente as mãos. Vamos lá!
ESCOLHAS
Quando você oferece escolhas ao seu filho, ao invés de comando austero, uma resposta negativa pode vir a seguir e junto com ela muita raiva e ressentimento. Momento propicio para ser deflagrada uma luta de poder (quem pode mais). Se você oferece escolhas para seu filho, isso é menos provável que aconteça, pois escolhas capacitam as crianças a desenvolverem autonomia e respeito mútuo. Claro que você não pode dar opções que você não pode cumprir. Escolhas inviáveis geram na criança desconfiança e descrédito em relação aos seus cuidadores.
As escolhas não precisam ser complexas – pelo contrário, quanto mais simples melhor. Algo do tipo: “Voce prefere ir ao parque com a camiseta azul ou a de cor laranja?” A vantagem desta técnica é que você promova a independência e ao mesmo tempo mantém o comando da situação. Voce não é rude e nem autoritária. Apenas firme e gentil!
Quando não nos comunicamos de maneira eficaz com as crianças elas ficam mau humoradas, desconfiadas e, por vezes, com raiva. Ninguém com raiva se sente motivado a cooperar, correto? Imagine eu na sua cabeça o dia todo: “Tome seu remédio; faça sua lição, arrume seu quarto, etc.!”
Oferecer escolhas as crianças, muitas vezes, é o suficiente para manter o equilíbrio nas relações do cotidiano (lar, escola, ambientes sociais).
DESENVOLVER UM AMBIENTE MOTIVADOR
As crianças quando chegam ao nosso mundo, apresentam uma curiosidade salutar, e por isso, precisam de tempo, segurança e espaço para fazer explorações. Inibir o tempo todo o espírito investigativo dos pequenos não é salutar. A curiosidade infantil é normal e ficar repreendendo-os o tempo todo é chato, desgastante e nada motivador. Com o desenvolvimento global da criança, é importante irmos abrindo o círculo de confiança, dando mais liberdade, mas com limites claros e bem definidos. Vejam esse exemplo: pare de brigar com seu filho de dois ou três anos, por que ele mexe em todos seus enfeites. Isso é desgastante e contraproducente. Apenas coloque os itens perigosos e amados fora do alcance do pequeno. O melhor de tudo – você salvaguardar seus objetos queridos e não ficar retalhando seu filho. Isso reduz o estresse e o cabo de guerra. Seu filho não ouvirá o tempo todo “Não” e você terá bons momentos de paz e harmonia em seu lar.
Crianças maiorzinhas já podem ser ensinadas, de maneira clara e gentil, o que pode e o que não pode. Acho que este exemplo clarifica minha ideia: “Sim, você pode ir a lanchonete com seus amigos, porém, se você violar nosso combinado, você ficará suspenso por certo período (x) de encontrar seus amigos. Isso deve ter sido combinado e acordado previamente em uma reunião de família – onde todos têm direito a voz e acordos.
O não com moderação é fundamental num lar colaborativo.
ENSINE SOBRE EMOÇÕES:
Saber interpretar e expressar emoções está relacionado diretamente a comportamentos, sejam eles bons ou maus comportamentos. As crianças precisam primeiro entender sobre as emoções para depois saber o que fazer com elas.
Quando a criança é pequena é muito bacana, junto com elas, desenhar carinhas, do tipo Smiles, e a partir das carinhas ensiná-las a decifrar as emoções: alegria, tristeza, raiva, nojo. Isso ajuda a enriquecer o vocabulário ‘emotivo”. Que tal usar a própria foto das crianças interpretando as várias emoções? É uma interessante brincadeira em família.
Conforme a criança vai crescendo, introduza outras emoções e o repertório dos pequenos vão se enriquecendo, e assim, elas vão aprendendo a lidar e expressar as emoções com mais competência socioemocional. Novamente quero enfatizar: as emoções predizem o comportamento!
Ensinar sobre emoções o quanto antes é muito bom. Certa vez, uma menininha de 4 anos me falou: “ Eu fiquei com muito medo – minha mãe se atrasou para vir me buscar!” Essa menina entendeu o que estava sentindo e pode falar sobre seu medo sem dúvida ou receio.
PASSE POR CIMA DO MAU COMPORTAMENTO
Fingir que as coisas não acontecem e que elas vão se resolver é pura “credulice”! Não estou negando que comportamentos disfuncionais não devam ser corrigidos. Entretanto, existem situações onde vale a pena (re) pensar um pouco.
Problemas menores podem ser reavaliados. Olha só este exemplo simplório. Certo dia um “pacientinho” meu estava rasgando uma revista de fofoca em meu consultório, e, eu havia acabado de compra-la. Fiquei chateada, mas entendi que valia a pena eu passar por cima, pois, ele estava feliz da vida, entretido e eu estava podendo conversar com a mãe sem que ele estivesse impaciente e estressado. As vezes, vale a pena pensar duas vezes antes de ser tão exigente. Usar essa técnica com sapiência é uma boa tática.
LANCE MÃO DE UM BONECO SÁBIO
Crianças pequenas adoram o mundo da imaginação. Dar vida a um boneco, um fantoche, um bicho de pelúcia pode ser muito didático para ajudar as crianças a modelarem um comportamento desejado. É muito, mas muito melhor que fazer discurso ou sermões. Que cá pra nós, é chato até para nós mesmos!
Os bonecos ajudam a passar mensagens positivas de bons comportamentos, do que estamos esperando das crianças sem fazer sermões moralistas e auxiliam a reduzir de maneira lúdica a tensão do momento.
Que tal usar um boneco para ensinar algum valor: não morder, não cuspir, não jogar lixo no chão, não jogar comida fora do prato, etc. Os bonecos permitem tudo. É só imaginar, criar e mergulhar no mundo infantil. É adorável!
Com crianças mais velhas podemos usar o mesmo sistema, mas ao invés de bonecos, podemos usar vídeos, filmes, mídias sociais, artigos de revistas ou jornais, etc. Usamos esse tipo de mídia para abordar assuntos mais pesados, tais como, violência, discriminação racial e de credos, situação de gênero, entre outros. É uma maneira de ouvir a opinião das crianças ou adolescentes, interpretar a perspectiva deles e conversar em família os diversos assuntos sem uma posição autoritária e cheia de criticismo. Lembre-se, se nos comportarmos, enquanto pais, de maneira autocrática, vamos colher apenas o silencio de nossos filhos.
SEJA UM BOM INVESTIGADOR
Quem nunca ficou chateado com um comportamento desafiador do filho?
As crianças não mudam de comportamento de uma hora para outra do nada. Sempre há um gatilho.
Quando temos ciência disso e que temos ciência de que nossos filhos não são Ets, devemos fazer uma retrospectiva e tentar entender o que predispôs a mudança de comportamento em nosso filho. Será a mudança de rotina? Será que foi fome? Será que foi cansaço? Será que foi a mudança de temperatura? Será que algo o contrariou e desencadeou um processo de raiva e birra, etc.
Lembrar que doenças, como, gripes, resfriados, dor de ouvido e garganta, dor de barriga, deixam a criança indisposta e irritada. Muitas vezes a fonte da irritabilidade ou da birra vem de situações que não estavam ocorrendo no momento. As técnicas cognitivas comportamentais são muito úteis numa situação como essa. Podemos usar o sistema ABC (antecedente (situação) – pensamento – emoção – comportamento com as crianças mais velhas e juntos chegarem a uma conclusão.
Outro dia recebi uma mãe para orientação que referia que sua filha fazia o maior “ chororo” na hora de dormir. Orientei que ela usasse o modelo ABC. Ela descobriu que sua filha não queria dormir, pois horas antes ela assistia uma novelinha onde a madrasta gritava com a artista mirim e a trancava em um quarto escuro. Portanto, checar e avaliar o comportamento inadequado é sempre uma boa dica! O comportamento é o produto final. Temos que desvendar a chave do enigma.
SEJA GENTIL E FIRME
Tudo na vida exige perseverança, consistência, dedicação e disciplina. Isso não significa que você se transformará num general. Apenas que as regras serão passadas com firmeza e gentileza. Sempre de maneira respeitosa – sem humilhações! Se você quer extinguir um mau comportamento de seu filho você precisa estar presente de corpo e alma para muda-lo. Para tanto, seu filho precisa saber as regras da casa, o que é e o que não é aceitável para sua família. Quando os pais não têm consistência em suas opiniões, as crianças ficam confusas e querem testar os adultos o tempo todo. A rotina ajuda a trabalhar constância com as crianças e toda vez que você for muda-la ou inserir outras rotinas, as crianças precisam ser avisadas previamente. Acordos são sempre bem-vindos e previnem cenas de indisciplina, birra e mau comportamento.
As vezes, é bom fixar a rotina da casa na geladeira. Quando as crianças são menores, as fotos ou desenhos ajudam muito. É sempre bom saber o que vem a seguir.
DESLOQUE E BUSQUE DESCONTRAÇÃO
Se seu filho pequeno está fazendo algo inadequado – mexendo em um objeto que você gosta, tentando atingir um dispositivo da TV, em vez de ficar brigando com ele, que tal distraí-lo, mostrar algo mais interessante, ou até mesmo dar uma voltinha no quintal. Chamar a atenção de crianças pequenas é muito chato e maçante. Afinal eles estão testando o mundo como cientistas. Ar fresco revigora qualquer pessoa.
As crianças mais velhas, por vezes, ficam irritadas ou inadequadas para chamar nossa atenção. Que tal canalizar essa energia inadequada para algo construtivo, do tipo, atividade esportiva, atividade artística ou outra do agrado de ambos?
Certa vez, um pai me falou que seu filho tinha diagnóstico de TDAH e ninguém mais estava dando conta dele em casa. Durante a reunião de família a criança comentou que ele queria ficar quieto, mas seu corpo não. Perguntei a ele o que o ajudaria a controlar suas pernas e ele disse: cansá-las. O pai o colocou na escolinha de futebol. Seu comportamento melhorou 60%. Portanto, não vamos exigir a perfeição, vamos aceitar graus de melhora. Isso é humanizado!
Compartilhe o que funciona com sua família e nos ajude a construir um mundo melhor para nossos filhos!