O chavão “errar é humano” tem sido empregado ao longo dos anos como mecanismo de compreensão para os mandos e desmandos do ser humano, afinal “ninguém é perfeito”.
Como vocês podem notar, um chavão pode muito bem complementar o outro e dessa maneira, as pessoas vão passando por cima dos erros sem muito prejuízo ou ética.
Quando nos referimos a coletividade os danos podem ser imensuráveis, mas quando o assunto é a conjugalidade, as falhas se tornam um verdadeiro baú de mágoas e rancores.
A rotina, as atividades que não nos deixa refletir, apenas agir e reagir no automático, podem propiciar atitudes que provocam decepções no parceiro.
Para aquele que foi acometido pelo erro, omissão ou outra palavra que simbolize a falta sentida na pele e na alma, tentar encontrar o remédio para tratar a ferida torna-se cada vez mais difícil, e, o sentimento que vai inundando o peito é de estar desqualificado e vazio.
Se por um lado, uma parte se sente sem esperança de reparação, o outro é considerado leviano, abandonador, sem consideração e desprovido de qualquer chance de remediar as falhas cometidas. Um se percebe no limbo – o outro sente seu corpo ardendo no inferno. Ambos condenados a sentença do desamparo e sem direito a apelação ou a um julgamento digno e sem parcialidades.
O que fazer? Abrir espaço para as desculpas ou acionar nossa força magnânima do perdão?
Penso que o perdão requer leveza de alma e coração. Existem erros possíveis de serem aceitos, e, em alguns casos eles acabam fazendo parte da vida de muitos casais. Um dos erros mais frequentes é o que diz respeito a criação dos filhos. Um cônjuge é mais benevolente e o outro é mais exigente. O mais benevolente torna-se moeda de barganha para a criança, e, ambos acabam perdendo o equilíbrio na organização e manutenção da hierarquia familiar.
Bem, voltemos ao perdão. Há momentos que esses erros ultrapassam a ética ou a moral individual e o sentimento experienciado é o de raiva e o de traição. A consequência final é uma inundação de mágoa e rancor, apimentada por poções de revanchismo e vingança. É mais uma vez o chavão entrelaçado nas relações amorosas: “olho por olho – dente por dente”.
Uma vez li um artigo de Alberto Lima (psicoterapeuta e escritor) onde ele dizia que perdoar era diferente de desculpar, pois, quando se desculpa alguém, o que se faz é isentá-lo de culpa e promover o desaparecimento da dor de forma mágica. Ele comenta ainda que não é saudável negar a agressão ou o desconforto, por que sentimentos dolorosos não são apagados de maneira tão simplista com um pedido de desculpa. O agredido pode interpretar o pedido de desculpa como algo “ deixa como está – está tudo bem – já vivi isso antes”.
Por outro lado, perdoar implica na oportunidade em dar ao outro, o que errou, a possibilidade de admitir sua falha e se envergonhar de seu ato e não reincidir. Perdoar é oferecer um canal de comunicação para o futuro, mesmo aceitando os desmandos do passado.
É muito oportuno lembrar que o ruminar da mágoa é um sintoma de que o perdão não foi atingido e só faz mal ao o agredido, pois o agressor desconhece as palhetas deste sentimento.
Ao negar o perdão, o agredido sustenta o vazio de seu coração e exclui qualquer possibilidade de reparação do companheiro (ou companheira) – deixando espaço para a vivência de um martírio pessoal.
Se perdoar é um ato humano, por que, então, não se deixar humanizar?